Opa!
Bom, ontem fui fazer raio-x do meu dedão né, aí hoje saiu o resultado.., tá tudo certo! Só faltava essa né, quebrar o dedão do pé! heheheh
Então, voltando pra epopéia! No domingo de manhã eu fui entubado. Mas tem umas coisas que aconteceram antes mas lembrei só agora. Quando eles começaram a ver que meu pulmão tava meia boca, me colocaram pra fazer BiPAP (Bilevel Positive Airway Pressure). É assim: eles põem uma máscara na sua cara (só ficam os olhos pra fora) pra você respirar. Só que é muito forte, é um furacão o lance... você tem que fazer força pra expirar o ar. Meu, é horrível, eu odiava aquilo, seca a boca... e você não pode relaxar, porque tem que fazer força pra respirar, senão só entra o ar. E eu tinha que fazer isso sempre, pro pulmão receber mais oxigênio... ficava todo mundo falando “vai, tem que fazer pelo menos uma horinha agora, vai, senão vamos ter que te entubar...” Falavam que os velhinhos adoravam BiPAP, que não queriam parar, que dava barato! Hahaha mentira meu, aposto! Impossível gostar daquilo... e não dava barato!
E outra coisa, pra se ter uma idéia da sensibilidade do médico. Antes de eu ser entubado, ele virou pra minha mãe, sem ela perguntar nada, e falou “é, porque o Renato tem no máximo mais uns seis meses de vida”. Sério! E ela tava sozinha nessa hora. Imbecil o cara, como pode? E ela não contou pra ninguém isso.. .ficou com isso na cabeça! Por isso que ela ficou daquele jeito... chorava quase o dia inteiro, e não tinha ninguém que conseguisse acalmar minha véia! Mas claro né, com uma noticia dessas!
Bom, mas agora voltando ao ponto que eu tinha parado no último post. No fim o tal do BiPAP não funcionou, me entubaram do mesmo jeito né. Eles falaram que era pra ajudar a abrir o pulmão. Aí então começaram a me dar antibiótiocos. Mas estavam muito pessimistas... falavam que eu estava muito fraco por causa das três cirurgias, e que não reagia aos antibióticos. Eles trocavam os antibióticos por outros mais fortes e nada.
Durante esses dias que eu estava apagado, eles tentavam convencer os enfermeiros e médicos a deixarem minha mãe ficar lá, de novo. E é um lance que eu não entendo, esses protocolos sem sentido nenhum. Porque, se o paciente tá nesse estado, é muito importante a energia da família ali do lado. Aliás, qualquer coisa é válida nessas horas. Mas não adiantava, eles não liberavam! Não sei o porque, mas se apegavam a essa regra e não olhavam pras pessoas. Meio desumano até. Imagina, você com um irmão, filho, ou namorado, quase indo pro saco, e uns mané falando que você não pode ficar perto dele! Então eles ficavam revezando, porque mesmo nos horários de visita (meia hora), podia só três pessoas no quarto, e eram cinco pessoas lá né, meus pais, do Du, o Daniel e a Jack.
Quem mais batia de frente com os médicos eram meus irmãos. E tinham algumas discussões. Uma vez, uma das médicas de plantão da UTI (não sei o nome... ela ficou famosa como “a japinha” rs) falou pro meu irmão “é, mas será que não é melhor ele não acordar mais?”. Olha que sem noção! Porque eles (os médicos de plantão e o Amsterdam) achavam que, se eu sobrevivesse, eu não conseguiria viver, teria muita dor, não poderia comer... enfim, sei lá o que eles achavam, a ponto de dizer que seria melhor eu não sobreviver! Aí eles foram falar com outra médica de plantão, questionando como uma médica que achava que seria melhor eu morrer, podia ser a responsável por me tratar! E a mulher pega e fala “é, as vezes a família não quer ver a realidade, é difícil encarar os fatos...” Barbarie, meu! O Dudu ficou puto “eu sei o estado que ele tá, num sou trouxa, sei o que tá acontecendo!”. Numa outra vez, a médica responsável pela UTI virou pro Daniel e falou “olha, vamos ser claros, seu irmão vai morrer aqui e se não morrer como será que vai ser a vida dele?”. Meu, era show de horrores!
Os médicos não entendiam o fato de eles quererem acreditar na minha recuperação! Porra, chega uma hora que o médico tem que meio que sair de cena... ser humilde e ver que ele não pode mais fazer nada ali. E deixar a família na sua fé... e não ficar tentando “conscientizar” e acabar com essa crença, que é o mais importante num momento desses! E não estou falando de milagre, acho que é algo mais simples... é energia vital. Difícil é entender como que um médico pode achar que só ele pode interferir na vida de alguém... é muita presunção. Pra mim, isso não é médico!
Por isso que eu acho que é muito complicado ser médico, porque se ele for se envolver afetivamente com todos os pacientes, é foda, são muitas famílias, muitas perdas, mortes e tal... aí alguns acabam criando essa insensibilidade como defesa, pra não se abalar.. e pra aguentar mesmo né. Eu entendo, claro. E é um lance que não tem como se aprender na faculdade eu acho... isso nasce com a pessoa. E outra coisa, se o médico não estiver num dia bom, fique em casa. É, porque o estrago é bem maior do que algo mal feito. Então, realmente, ser médico bom é muito difícil, tem que, além de ter suas habilidades e conhecimentos, uma cabeça e uma inteligência emocional muito fortes, uma capacidade de concentração e tal. Eu não conseguiria lidar com tudo isso, por isso nunca nem pensei em ser médico! Então, se você não sabe lidar com essa confusão emocional que é ser médico, desencana. De verdade, vai ser astronauta! Mas eu conheci médicos bons também. O Dé, meu primo, bem que podia ser gastroenterologista! rs Aí eu tratava só com ele. Ele já se formou e esta se especializando, aqueles esquemas de residências e tal... É novo, e vai ser um puta médico, com certeza. Porque ele tem esse lance, essa serenidade, essa atenção pra lidar com esse lance todo... sempre foi uma característica dele mesmo. Mas enfim, acho que medicina é uma profissão diferente de todas as outras, superior até, meio que um dom mesmo, sei lá... você tá lidando com vida né. Por isso que, quando uns manés tentam ser médicos, dá essa merda toda!
Nessas, o Du e o Daniel já não estavam deixando meus pais falarem com os médicos. Pra não ouvirem essas barbaries e se abalarem mais ainda. E depois disso, decidiram que não iriam mais nas reuniões com a médica da UTI, que acontecia 30 minutos depois da visita do das 11h30. Somente pegariam informações com o Ricca. Só falavam com ele. Porque eles perceberam que, nessa hora, o que valia era a energia que eles tinham, então o negócio era evitar contato com essas pessoas, que pareciam querer acabar com essa energia. Aliás, um dia vieram perguntar pra eles porque eles não participavam mais das reuniões com os médicos... eles nem responderam!
E ficou assim, eles ficavam revezando lá, tentando me passar energia de todas as formas. Meus pais começaram a fazer um lance, como se fosse reike. Punham a mão em cima da minha barriga e ficavam passando energia mesmo. Uma vez minha mãe até ficou tonta e teve que sentar, se sentindo fraca! Doido né! Meu pai também fazia muito isso! O Daniel tinha um amigo, o Silvio, que ensinou a ele um lance, que era pensar em um turbulhão, tipo um furacão verde e dourado, sobre minha barriga, e que iria ajudar. Não importava entender as coisas, o lance era acreditar que aquilo ajudaria. A Jack mandava força enquanto fazia carinho nos meus pés e nas minhas mãos! Era cada um mandando energia do seu jeito lá na UTI. O Dudu pegou um monte de coisa, objetos, religiosos ou não, e fez meio que um templozinho, um espaço de concentração... A Stella, minha irmã, em um dos dias, ligou e falou que o pai do Tomaz, um puta astrólogo ao qual ela tinha ido antes de ir pra Europa, falou pra ela que alguém da família iria passar muito mal, ia ser demorado e complicado, mas no fim ele se recuperaria e ficaria bem. E que, por isso, era pra ninguém desanimar.
Em uma das ligações para o Ricca, era 3ª. feira, ele disse que os dois próximos dias eram cruciais. Que tinham que rezar muito, pois caso eu não reagisse, a bactéria “venceria”. Imagino que aí tenha começado um intensivão de reza lá né! rs. Na 5ª. feira cedo, a Ligia, namorada do Dudu, ligou pra ele. Disse que eles tinham que ir pra lá na hora, que ela tinha tido um sonho. Aí eles foram, na visita das 11h30, e reproduziram o sonho dela, em que estavam eles dois e a Jack. Eles ficaram de olhos fechados, mentalizando uma luz branca na minha barriga. E depois de uns 15 minutos em silêncio, como no sonho, eles realmente visualizaram essa luz branca.
E esse era o dia em que terminava o prazo dado pelo Ricca. Aí, quando foi umas 16h, o Ricca ligou pro meu pai e falou que eu tinha começado a reagir e que iam começar a me desentubar. Eu acordei aos 48 minutos do segundo tempo! rs. Isso foi no dia 6 de março, meu aniversário! E tem ainda o lance do meu nome. Renato quer dizer “renascido” e Consoni, meu sobrenome, vem de con i sogni, que significa “com sonhos”! Então, renascido com sonhos é o meu nome! hehehe Doido né! Eu acho muito legal isso!
Bom, nesse tempo em que fiquei em coma eu tava sonhando, um monte de coisa, uma puta viagem (em todos os sentidos). Depois eu conto.
Um abraço e um beijo pra todo mundo!