domingo, 25 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL!!!

Faaaaala!
                Tudo certo por aí? Por aqui, tudo tranquilo. Desde o dia 16 eu estou de férias. É recesso lá na organização. Pois é, acho que nunca alguém entrou em férias depois de ter trabalhado tão pouco! rs Não tinha nem dado tempo de me cansar... tinha começado a trabalhar no começo de Novembro, só! Mas claro que não sou louco de reclamar de férias, né! O dia que isso acontecer, aí é que deu póbrema aqui dentro da caixola!
                O trabalho lá está muito bom. As coisas estão caminhando legal... Mas bom, acho meio estranho, sei lá, ficar falando detalhes dessa rotina profissional aqui. Ninguém faz isso. Pelo menos não assim, online, pra todo mundo ver. Tirando que isso não é interessante pra todo mundo... Eu iria falar de coisas que pra mim são da hora e tal, mas porque eu curto isso. Assim como eu não me interesso pelo dia a dia de um engenheiro civil... Sei lá, então um engenheiro provavelmente não se interessa pela rotina de um captador de recursos. E o que interessa, na verdade, é se está legal, né, se estou curtindo, feliz e tal. E isso eu estou, então maravilha! Rs Vai Curintia! Aliás, eu perguntei pra uma amiga da firrrrma, que ocupa o mesmo cargo, o que ela responde na pergunta “qual sua profissão?”. Porque as minhas primeiras vezes nessa situação foi meio confusa. “Recursos o que? É RH né?”. Ou, pior “Ih, sei, conheço sim, é RH”, e falou baixinho pra pessoa ao lado: “menino enjoado, você viu?” E essa minha amiga falou “Meu, você se formou em publicidade, não foi? Então pronto: publicitário!” Foi meio brochante ouvir essa resposta. Porque eu, todo orgulhoso da minha nova função, queria mostrar, contar pra todo mundo, até pra tiazinha da loja, que eu fazia um lance que achava muito legal. E que não era publicidade. Nada contra publicitário, afinal, eu me dei conta que sou um, querendo ou não. É que eu não acho legal, assim como não acho legal ser engenheiro, ué - aliás, nada contra os engenheiros, também! rs. Mas se eu achasse legal, trabalharia com isso, né! Mas tive que deixar de frescura. É, eu sei, é uma puta frescura! E percebi que assim era bem mais prático. Profissão: Publicitário. Inclusive, essa amiga do trampo diz que até hoje o pai dela não sabe direito o que ela faz, exatamente.
                Mudando de assunto. Esse fim de ano está sendo meio confuso. Eu nem gosto de falar, pensei em nem contar pra ninguém sobre isso, porque as pessoas acabam ficando preocupadas e tal. Mas vou falar, porque o blog tem o lado de ser um registro também, né! Enfim, é o seguinte: eu fiz um exame de ressonância em novembro, começo do mês. Aliás, pra não ter que faltar no trabalho pra fazer esses exames, descobri o melhor horário: 7h de domingo. Não, não é foda. Eu vou lá, faço, volto e capoto até a hora que quiser. E não pego fila, nem nada. Porque, foda mesmo, é quando você acorda com sono e tem que trabalhar, pensar... enfim, fazer a cabeça funcionar. Mas exame, é sussa, quem trabalha são os outros. Ruim é ficar com os braços pra cima uma hora. O sovaco começa a formigar, e você ainda ouve a ordem da técnica de que não pode dormir. Como se fosse possível com aquele “béin béin béin tu tu tu tu” na sua cabeça. É muito alto, tipo colar o ouvido num bumbo! Eu perguntei “mas você está falando sério?” Ela disse que tinha que avisar, “é o procedimento aqui”. Aliás, você já reparou que “É o procedimento da empresa” e “é porque o sistema...” são desculpas pra tudo, pra qualquer coisa que não faça sentido?
Enfim, voltando. Depois de uma semana, eu voltei pra pegar o resultado. O cara que dá o diagnóstico, que é a parte escrita - a leitura do exame - que vem junto com as imagens, não mencionou nada. Eu li e, segundo esse texto... laudo, sei lá, estava tudo certo aqui dentro. Mas eu estava com uma desconfiança e falei pro meu médico dar uma conferida, pois eu não fiquei tranquilo com o diagnóstico do outro cara. E eu estava correto. Surgiram mais dois tumores: um nas costas, entre as omoplatas, lá em cima. E outro no abdome. Detalhe: esse médico que faz diagnóstico de exames faz só isso, é o trabalho dele, ler exames e procurar algo de anormal. Pelo que me pareceu, ele olhou igual a bunda dele. E esse foi o terceiro que eu fiz com a finalidade de checar possíveis problemas. Com certeza os tumores já estavam lá, mas o imbecil "não viu".
Claro que eu me preocupei mais com o da barriga. Mas, pelo menos, ele é subcutâneo. Isso quer dizer que ele é superficial, logo abaixo da pele. Não é lá dentro, no meio dos órgãos, do intestino, como o outro. Existe, entre ele e as tripas, o peritôneo. Dá um Google, lá. Ou seja, é bem mais sussa. Não corre o risco de ele enforcar as paradas lá dentro. E é menor. Tem uns 4 cm. E parece uma manga, o formato. Eu sinto ele, posso praticamente pegá-lo em minhas mãos. O das costas é maior, tem uns 6 cm. Mas esse eu nem me preocupo muito, porque já sei o que vai rolar: mais um pedaço de músculo tirado das costas, vai ser o terceiro que eu tiro, e depois aquela puta dor fdp, chata pra cacete. Mas, por pior que seja, é uma recuperação que depende de mim, não tem risco maior. Dor é aquela coisa, é um alerta do corpo pra alguma coisa. Mas quando você sabe a origem da dor, e que ela não é o meio, e sim o fim, é mais tranquilo. Eu lido bem com dor. Aqui é Curintia, né! A da barriga eu fiquei mais noiado, achei que poderia dar uma merda maior, sei lá. Mas não, pelo que vi, é tranquilo. Tanto que o Rodrigo, ao saber, disse que, se fosse algo mais sério, ele falaria pra eu ir pra lá, pra Indianapolis, fazer a cirurgia com ele. Mas, como não é na barriga (tecnicamente falando, é fora), ele não vê risco nenhum. É uma cirurgia “simples”.
                Bom, com essa notícia “em mãos”, a cabeça começa a fritar. Isso era lá pelo dia 29 de novembro. Eu tinha acabado de dar fazer o depósito de 50% do valor pra reservar uma pousadinha pra passar o réveillon com a Jack, em Paraty - havia tido a confirmação na Habitat de que teria esse recesso de fim de ano. E o médico quis marcar já para o dia 6 de dezembro. Eu fiquei meio assim... “será que dá pra ficar bom até o dia da viagem, dia 27...” O médico disse que dava, que era simples. Inclusive que eu poderia fazer a cirurgia na sexta e ir trabalhar na segunda. Achei que tudo bem, então. Aí fui falar pra Jack, ver o que ela achava. E uma coisa que eu odeio nessas horas é dar a notícia pras pessoas. Por isso quase não escrevi aqui antes. Ela ficou triste, mas tentou disfarçar. Odeio sentir as pessoas tristes por mim. Não fiquem, está tudo certo. Sem querer dar uma de metido, isso é tranquilo perto do que eu passei. É o lado bom de ter vivido isso tudo. Não me abalo assim, fácil. Fico triste, mas tenho muito mais motivos pra ficar feliz, então, a média final é azul, suficiente pra passar de ano! rs
Decidi: “então beleza, faço no dia 6. Vai que esse tumor cresce... Melhor fazer logo e boa.” Mas, depois falamos com outros médicos, e achamos melhor esperar, examinar melhor e ver com calma. Sem pressa, senão o simples podia ficar complicado. Poderia operar ano que vem, foi o que ouvimos. E claro que eu estava facinho, facinho pra aceitar essa idéia – isso garantiria minha viagem de fim de ano. A decisão passou a ser, então, farei no ano que vem. E nesse meio tempo eu acompanharia a evolução desse tumor, pra ver a melhor data pra operar, e ia vendo detalhes da cirurgia, como uma tela que tem que usar, pra proteger a região da qual vai ser extraído o tumor. Isso porque eu não tenho mais músculo na barriga. E não tem gordura também, o que dificulta a fixação dessa tela. Ou seja, o lance não era sobre como tirar o tumor, e sim como iria fechar a minha barriga depois. E tinha que ser uma tela orgânica, já que o tipo normal, sintética, poderia causar uma rejeição, pois ficaria em contato com o intestino e tal. Ou seja, seria necessário um tempo maior pra estudar o procedimento. Não era só “tira logo, pra eu ir viajar no fim do ano!” Claro, porque nada comigo é simples. Nunca foi, não seria agora.
                O tempo foi passando. E conversei com a Jack. Ou melhor, a Jack conversou comigo. Ela me convenceu que seria melhor tirar logo o tumor, pra não correr o risco de ele crescer mais ainda, e dar merda. Viu como tudo muda rápido? Depende apenas do ponto de vista. E que a gente podia deixar pra viajar depois, teríamos muitas oportunidades e tal. Tinha muita coisa envolvida, como meu trabalho – eu acabaria perdendo alguns dias. Se eu fizesse agora, já começaria o ano zerado! Assim, eu achei que estaria sendo mais honesto com o pessoal do trabalho... E o pessoal da Habitat tem sido muito honesto comigo. Na verdade, eu seria mais correto comigo também, no que se refere ao meu corpo, minha saúde. Porque vai que essa porra desse tumor cresce muito nesses dias... Não dava pra saber a velocidade que ele tinha crescido, pra prever se um mês faria diferença, ou não. Vai que a gente volta da viagem e ele cresceu um monte. Então a decisão mudou, de novo. “Vou fazer, já!”, eu pensei. Mas aí apareceu esse problema. Um problema novo, pra gente brincar! A tela, que vai colocar pra proteger as paradas aqui dentro, indicada pelo Rodrigo não existia aqui e, pior, não tinha a aprovação da Anvisa. Isso praticamente impossibilitava o seu uso. Só uma observação: valeu, Anvisa, é isso aí... Não pode colocar a saúde antes da burocracia, né! Aí, o médico foi atrás de uma “versão” dessa tela disponível no Brasil. E esse processo demorou mais uma semana. E eu sem saber quando teria a tela pra fazer a cirurgia. “Será que farei esse ano? Cancelo ou não cancelo a pousada?” Passou a não ser mais uma decisão minha, fiquei meio ansioso. Aí, na segunda feira passada o médico achou a tela. E marcou a cirurgia pra quarta-feira, dia 21. Beleza. Cheguei pra internar e fazer a cirurgia, mas uma gripe me impediu. Eu estava só com o nariz escorrendo e uma tosse chata, mas como tudo comigo é mais complicado, acharam melhor adiar a cirurgia... Pra não correr risco, já que tomo imunossupressores fortes e tal. Foi bem frustante, é ruim se preparar pra cirurgia, ficar internado e tal e depois não rola. Não que eu goste de ser internado, mas é que não queria ter que me preparar de novo. Tem jejum também. Mas agora está marcada pra segunda feira, dia 26/12. Amanhã.
                Já cancelei a pousada. Achei que, com documentos provando o motivo, seria ressarcido. Não rolou, mas ao menos, ao invés de perder a grana, vou ficar com o crédito na pousada, pra usar mais pra frente. E é isso aí! Vou tirar os dois tumores de uma vez. Pensei em tirar primeiro só o da barriga, pra me recuperar mais rápido e tal. Mas o foda é que aí o custo da operação dobra. São dois auxiliares, dois intrumentadores, dois anestesistas... Só espero que eu tenha alta do hospital antes do réveillon.
Mas calma, tem uma notícia boa! rs Eu fiz outro ezame, a colonoscopia, que é o pior exame da história da humanidade! Era o que eu tinha mais medo, já que ele vê lá dentro, e acusa se tem algum pólipo (que pode virar tumor), e diz se continuo sendo um bom anfitrião aos 7.385 órgãos transplantados. E a noticia legal é que está tudo certo com os órgãos, e não tem nenhum pólipo enchendo o saco. Isso porque os órgãos não são de fábrica, o que exclui a possibilidade de surgirem pólipos nesses órgãos... Definitivamente. Eles não tem a síndrome de Gardner. Legal, né!
                Aí é isso! Agora vou nessa, porque ao adiar do dia 21 pro dia 26, eu garanti uma ceia de Natal tranquila. E, na verdade, é bem melhor fazer a cirurgia logo. Além de começar o ano zerado e tal, vou estar melhor quando meu sobrinho chegar, dia 16 de Janeiro! E mesmo que eu passe o réveillon internado, vai ser bem mais sussa, porque essa vai ser a última cirurgia que eu faço. Depois dessa, vou fazer exames a cada mês, de corpo inteiro, e vou ficar em cima, pra garantir que nada passe desapercebido, como dessa vez. Aí é foda, porque quando vou ver, já está desse tamanho! De agora em diante, se tiver um tumor do tamanho de um grão de arroz, eu já tiro e pronto. Aí é tranquilo, nem chega a internar, nem nada.  
                E é isso aí! Ah, e hoje é Natal... É que eu comecei a escrever esse post no começo da semana... Enrolei, enrolei... E aproveito pra mandar um feliz Natal pra todo mundo! E por mais que esteja um calor da porra, em que mesmo um magrelo sem tecido adiposo acorda grudando no lençol de tanto suar, eu prefiro em relação ao frio. Essa época, no ano passado, eu estava congelando lá em Indianápolis, reclamando do frio, a 20 graus negativos. Só o fato de você poder sair de casa quase do jeito que acordou – é colocar uma camiseta e uma berma, achar o chinelo, e boa – já vale. E tirando que esse Natal é alvinegro paulista pentacampeão!
                Beijo pra todo mundo! E Feliz Natal pra noiz, queiroiz!!!!!
Ah, e a Stella passou o link de umas fotos que um fotógrafo amigo deles tirou do Cauê! Animais as fotos, o moleque esta cada vez mais bonito! Já até faz pose, todo e todo! Orgulho do tio Renas!
O link é esse http://marktimmphotography.com/





sábado, 19 de novembro de 2011

Faaaaaala!
                Quanto tempo! Demorei dessa vez. Faz um mês do último post do blog. É que essas últimas semanas foram de muita correria!
                No fim de semana do meu aniversário, eu fui pra São Joaquim. Nem lembrava a última vez que eu tinha ido pra lá. Vi um monte de primos e tios e tal, matei a saudade do sítio... Ficamos uma semana, quase. Conheci um barzinho em Franca... Praia em Miguelópolis – Sério, os caras construíram uma praia em volta do rio que tem na cidade. Eu gostei. Encontrei os meus cachorros, o Bambu e o Capim, que eu não via há mais de um ano. Estava com muita saudade desses dois! Quando eu cheguei, eles tinham acabado de fugir. Eles, de vem em quando, fogem... Quando a gente vacila e deixa, por uns segundos só, a porteira aberta. E voltaram zuados, como sempre. Nem se mexiam. Mas até aí, normal, porque eles ficam na barbárie um, dois dias e voltam podres, morrendo de fome! Mas o Bambu não melhorava. Teve uma noite que ele não conseguia se levantar. Meio que desmaiou. Então, meu pai e o Daniel o levaram pra um veterinário em São Joaquim. Isso era sexta a noite. Ele estava com doença do carrapato. Eles pegam isso das capivaras. Sei não, acho que eles iam tentar encarteirar as capivaras que ficavam no córrego e tomavam umas mordidas... A gente voltou no fim de semana. Quando foi 2ª. feira, o Daniel ligou. Falou que o Bambu teve umas convulsões e, em seguida, uma parada cardíaca! E o Bambu morreu! Pois é! Tudo causado por uma porra de uma febre emaculosa! Ele tinha menos de três anos. Fiquei bem triste. Foi um puta susto. Eu nem cogitava isso. Ele era super forte, um boxer de respeito. Foi nosso primeiro cachorro. Ele era muito bom... Um puta cachorro. E eu até fiquei pensando: fazia quase um ano e meio que eu não o via, e ele foi morrer logo depois que eu voltei de lá. Sem querer achar isso ou aquilo, mas não consegui deixar de pensar que ele me esperou pra morrer. Pô, não é? Foi um dia depois de eu ir embora que ele morreu! Fiquei emocionado. O Bambu era foda! Limpei muito cocô e xixi desse cachorro! Aliás, no dia que eu fui buscá-lo, ele, com menos de um mês de vida, já vomitou no meu colo, no carro mesmo. Foi o “oi” dele, pra mim! Mas nem consegui ficar bravo. Aliás, o tempo em que ele ficou no meu apartamento em São Paulo, até terminar as vacinas, o bichinho barbarizou! Mas agora se desfez a dupla Bambu e Capim. E o Capim era meio capacho do Bambu, seguia ele em tudo. O Bambu era o irmão mais velho e tal. Ainda não vi o Capim depois disso. Vamos ver o que vai dar, como ele vai ficar. O Daniel diz que umas horas, o Capim sai andando, como que se procurasse pelo Bambu. Mas enfim, essa foi a parte triste da semana. Bem triste.
                Mas a sequência dos dias foi boa. Foi bem agitada. Nada como um dia depois do outro, né? Fiz contato com outras ONG’s, pra trabalhos voluntários. No meio do caminho, eu fiz uma entrevista em uma ONG muito interessante, que faz um puta trabalho legal, chamada Habitat para a Humanidade. Foi uma conversa muito boa, na qual me senti muito bem. Além de ter achado a casa muito aconchegante. Sem aquela cara de escritório, com tapete azul e paredes cinzas. Eu sei que isso não tem nada a ver, na verdade. Mas a mim causou uma boa impressão. Acho que eu tinha, ou tenho, um certo bode de tapetes azuis e paredes de acrílico, ou plástico, ou PVC... sei lá, cinzas. Me ligaram no mesmo dia, e pediram uma apresentação, já que não conheciam meu trabalho na prática. Apresentei e, no dia seguinte, pela manhã, eu estava contratado! É meu! Agora acabou a mamata, voltei de vez pra labuta! Rs Duas palavras legais essas, mamata e labuta. E rimam! Mas cada uma tem seu momento. Agora eu estava cansado da mamata, com saudades da labuta. Sim, eu sei que estou forçando a barra falando que estava até hoje em uma mamata. Isso é brincadeira. Acho que podemos dizer que eu estava a muito tempo parado. Mas não estava fazendo corpo mole. Estava mesmo é contundido! Mas porra, nem o Ronaldo Fenômeno (meu amigo, depois eu conto essa história), ficou tanto tempo impedido de exercer sua profissão por motivos de saúde, meu! Tirando alguns intervalos, porque quando eu estava recuperando o ritmo de jogo, vinha outra contusão, eu fiquei de molho quase quatro anos. E meu, sério, é aquela coisa: quando você está na correria master mega blaster plus, o que você mais quer é parar, não ter mais que trabalhar. Mas meu, quando você passa, sei lá, um mês, dois meses sem nada pra fazer, além de coçar o saco, bate um desespero. Se eu fosse mulher, diria faniquito. Mas aqui é curintia! Meu, eu saía na rua e tinha inveja de qualquer pessoa que eu visse que estava trabalhando. Sério, qualquer trabalho... Bom, na verdade, quase todos. Aliás, eu poderia citar alguns barbárie. Mas vai que você está almoçando, jantando, sei lá. Melhor não. Rs Mas eu me sentia meio desconfortável na situação de estar em recuperação. Eu sempre fui chato comigo, me cobrava demais. Não aliviava. Mas hoje, pensando que cheguei a ir em entrevistas até quando estava com a borseta na barriga... Acho que eu era meio sem noção, até!
                Mas, enfim, agora é vida nova. Vou começar a trabalhar em algo que eu realmente queria, que eu acredito... Onde eu vou ter prazer mesmo! Já se passou uma semana e meia aqui. E não posso deixar de pensar no simbolismo disso. Agora sim, eu deixei meu passado pra trás. Me refiro as coisas que não me deixavam ser feliz, a parte pesada. Não que meu trabalho antigo me fizesse mal, ou fosse o motivo de todos meus infortúnios. Claro que não! Mas não me fazia bem, também. E eu não vou mais perder tempo com qualquer coisa que me deixe dúvidas. Acho errado a gente sofrer pro dificuldade de desapego. Cansei de ter esse tipo de dúvida, que na verdade não é dúvida, é medo de ver a verdade, quando a verdade não é muito cômoda, ou pior, te dá um tapa na cara. Se for ver, é uma questão de mexer ou não a bunda. Sair ou não da zona de conforto. Sei lá, tem várias formas de se referir a essa questão. Acho que a mais direta é se você quer ou não ser feliz. Mas feliz mesmo, de uma forma que a gente nem sabe que existe. Porque dá medo. E já penei demais pra perder tempo. Eu quero o outro extremo do que eu vivi nesses anos. “Será que vou no cinema ou alugo um filme”. Isso, sim, é dúvida legal! Rs E hoje minha certeza é que trabalhar no terceiro setor é o caminho pra eu ter uma rotina mais saudável. Eu digo saudável pra cabeça, pra alma, pra tudo!
                Minha irmã me escreveu uma carta, vou transcrever aqui. Faz muito sentido. E quando ela me mandou essa carta, acho que foi lá pra 2005, eu ainda não pensava direito em mudar de área. Era um lance confuso, eu não entendia o que eu queria. Estava com medo dessa disritmia dentro da minha cabeça. E eu nem tinha falado disso pra Stella. Aí ela me escreveu essa carta, em um cartão todo bonito, porque era meu aniversário. Lembro de ter pensado: “pô, mas como ela sabe!” Logo percebi que ela estava falando da forma como ela vê a vida, o que ela acredita e tal. Ah, e ela escreveu em inglês, porque desde aquela época o português dela já tava pior que o inglês, eu acho. Ela mora no Reino Unido a uns onze anos. Quem não manjar de inglês, manda um Google Tradutor que já era.
“As you go in this world...
Always believe in your dreams.
Keep looking forward to the future…
to all you might be. Don’t let old
mistakes or misfortunes hold you down:
Learn from them, forgive yourself…
or others… And move on. Don’t be
bothered o discouraged by adversity.
Instead, meet it as a challenge.
Be empowered by the courage it
takes you to overcome obstacles.
Learn things. Learn something new
every day. Be interested in others
And what they might teach you.
But do not look for yourself in the
faces of others. Do not look
for who you are in other people’s
approval. As far as who you are
or who you become goes…
the answer is always within
yourself. Believe in yourself.
Follow your heart and your
dreams. You... like everyone...
will make mistakes. But so long as
you are true to the strength within
your own heart… you can never go wrong.

                Ah, e eu dei uma entrevista pro portal da Band, e saiu uma reportagem lá! Tem até foto minha! rs Estou meio estranho, mas acho que isso não tem solução! Rs Dá uma olhada lá: http://www.band.com.br/viva-bem/saude/noticia/Default.asp?id=100000467690  E aliás, um monte de gente me mandou umas mensagens, deixou recados e tal. Um mais legal que o outro. E não adianta, eu não sei agradecer isso direito. Fico sem graça. Mas meu, não tem preço! Desde que eu estava nos EUA, a força que vinha através de todos, foi muito importante. Pô, imagina só, alguém falando pra você as coisas que eu tenho ouvido sobre o que rolou comigo. Eu fico todo feliz, orgulhoso até. Como eu já disse antes, eu nunca tive essa pretensão de ser exemplo pra ninguém. Nunca nem parei pra pensar nisso. Eu apenas tentei tocar minha vida da forma que fosse melhor pra mim. Questão de sobrevivência, né. O que eu pensava é que eu não queria ser uma história triste. Com as barbáries que rolavam, estava se caracterizando uma história meio trágica até, de um cara que só se ferrava. Teve um dia que eu pensei muito nisso, quando fiquei sabendo que o João ia ser pai. Já falei isso pra ele, eu acho. Esse dia eu me vi no meio de uma comemoração, acho que era aniversário dele, um dos dias mais felizes na vida do cara, que é meio que um irmão meu. E eu pensava na minha vida, que eu estava no outro extremo. Não tinha nada pra comemorar. Por mais que me dissessem que eu tinha que comemorar minha vida e tal. Ah para vai, eu estava sendo uma vidinha bem insuportável, pô! Fiquei me sentindo mal porque achei que eu representava um contraste, uma tristeza pela minha situação, na vida de quem convivia comigo. Essa foi uma das nóias que surgiram na minha cabeça. E então, nesse dia do aniversário do Preá, eu me dei conta: se você está vivo, é pra ser feliz, ué! Eu que me virasse, mas o lance era ser feliz, eu tinha que dar um jeito! Eu não poderia deixar de tentar chegar o mais próximo disso! Nessas horas vinham coisas boas na minha cabeça, estímulos, e eu saía atrás dos prazeres possíveis. Bom, sei lá, olhando pra trás, e conseguindo ver com um pouco de distanciamento, vejo que, sem perceber, minha cabeça deu uma sambada pra contornar essa lambança toda que apareceu pra eu lidar. Porque, pra mim, é isso. Apareceu isso tudo na minha vida e esse foi o único caminho que eu consegui enxergar, ou decidi enxergar. Mas precisei da lanterna de muita gente, porque a minha ficou sem pilha várias vezes.
                Mas é isso aí! Valeu a todos pelo carinho com as palavras! Nunca vou esquecê-las!
                Ah, e amanhã – sábado, 19/11 - vai sair uma reportagem sobre mim na Isto É. Mas não é uma reportagem sobre a epopéia. É sobre transplante multivisceral, e a mulher estava pesquisando o assunto e caiu aqui no blog.
                Beijo pra todo mundo!

sábado, 15 de outubro de 2011

MEU ANIVERSÁRIO!!!!

Faaaala,
                Então, hoje é sábado, quase domingo. E nesse domingo, dia 16, é meu segundo aniversário! É meu, faz um ano que eu fiz o transplante! Um ano!! Eu nem acredito! Passa muito rápido. A essa hora, 18h30, eu estava no hospital, na expectativa se iria rolar o transplante ou não. Tentava dormir pra passar o tempo, mas não rolava. A gente foi avisado da possibilidade do transplante as 11h do dia 15/10. A partir daí eu fiquei internado, nos preparativos. E o transplante só foi acontecer as 7h do dia seguinte, 16/10. Vou sempre comemorar muito esse dia! Foi quando eu recuperei o prazer de viver, no lugar da luta pra sobreviver! Era o que eu mais queria: que passasse um ano, logo! Estava tentando lembrar o que eu pensava, na época, que estaria acontecendo hoje, um ano depois. Como eu estaria e tal. Pra ser sincero, não lembro! O que pensava que seria legal, que eu lembro agora, é que, em um ano, eu não estaria tomando mais tantos remédios. Pensava “Nossa, imagina, daqui a um ano, sem vários desses comprimidos...” E, realmente, agora só tem um remédio que realmente é essencial e vital, que é o: Prograf, O Imunossupressor – tipo nome daqueles reis das antigas, rs. Mas um que eu odiava tomar, que tinha que tomar dois por dia, um tijolo de 450mg, eu parei na semana passada. Era o Valcyte, O Antiviral! E eu acho, não sei, que ele atrapalhava bem o funcionamento do meu sistema digestivo. Era meio pesado. E eu não podia esquecer-me de tomar. Agora, que eu não posso esquecer, é só o Prograf. O resto é Aspirina, pro sangue, Omeprazol, pro estômago, o Coumadim, um anticoagulante, de vez em quando um Digesan, pra acordar o povo aqui dentro. E o bom e velho Imosec, claro. Ah, eu tomo umas vitaminas também. Mas enfim, sussa. Já cheguei a tomar uns quarenta comprimidos por dia. Tinha que acordar durante a noite pra tomar. Hoje, se não me engano, são dezenove. Mas tranquilo. São, basicamente, três “grupos” por dia. Nenhum durante a noite.
          E tem um lance que rolou na hora do transplante que eu não lembro se contei. Porque na hora do "vamo pra faca!", minha mãe foi comigo até a porta da sala de cirurgia. Aí, falaram pra ela que eu iria pra UTI logo depois da cirurgia, e que era no sexto andar. Ela deveria ficar lá pra esperar por notícias sobre o andamento do transplante. E quando ela chegou no andar, não era lá a UTI. E ela começou a chorar, tadinha. ela contando: "ah, eu não achava a UTI, comecei a ficar desesperada, porque não estaria lá na hora que fossem dar notícia. Não conseguia nem andar de tanto que eu chorava. Aí apareceu uma enfermeira que me viu chorando e eu falei pra ela. Ela entendeu e me levou ao local certo!" Parece que, nesse mesmo dia, tinha ficado pronta a nova UTI, no quarto andar. E até então era no sexto. Daí a confusão! Tadinha, imagina o estado da minha velhinha. Já estava tensa comigo lá na sala de cirurgia, e ainda fica perdida no hospital! 
E, de forma geral, a minha recuperação caminhou bem nesse ano. Tive uns percalços, como a cirurgia de emergência antes de voltar pro Brasil, e aquela internação, logo que voltei pra cá. Mas agora a maré está mais calma. Está tudo certo. Como escrevi uma vez, faz muito tempo, o lance é devagar e sempre. Assim as coisas vão melhorando. Como preciso continuar engordando, tenho sido bem disciplinado na alimentação. Eu quase não como quando saio de casa. Prefiro evitar, pra não correr risco de dar um revertério. Na verdade nem é um revertério, de fato. O lance é que minha digestão é mais rápida, mesmo. Não tenho intestino grosso, né. Então, na maioria das vezes, se eu como o tanto que tenho vontade, até matar a fome, logo fico com vontade de... enfim, contemplar azulejos no banheiro, vai. E isso pode gerar uma situação complicada, já que não é todo lugar que tem os recursos necessários para esse momento tão singelo! Por exemplo, ontem fui ao Pacaembu assistir o Coringão. Aliás, fazia dois anos que eu não ia ao estádio! O último tinha sido em 2009 contra esse mesmo Botafogo! Foi animal, estava bem cheio. Só o resultado que não foi legal. E eu não agüentei ficar muito tempo em pé. As costas doíam pra cacete! Mas sentado, não dá pra ficar, você não enxerga nada. Mesmo assim, teve umas horas que eu desencanei e sentei, porque, com aquela porra daquela dor, não dava nem pra prestar atenção no jogo! Só sei que cheguei em casa quebrado. Mas valeu a pena!
E pra resolver isso, ficar zerado das costas, eu estou fazendo uma fisioterapia forte. Dou uma ripa nas sessões. E o meu fisioterapeuta não alivia! Não é esquema de esticar o bracinho pra cá e pra lá, não meu! O bicho pega! E tem que ser assim. Eu gasto cada gota de energia. E saio podrão de lá, sempre. E é o jeito, já que tiraram uma picanha de lá, e quando eu estava melhorzinho, foram lá e tiraram outra. Preciso equilibrar a bagunça que virou o meu lombo! E já fez uma baita diferença, pelo menos em relação a força. Já não fico cansado tão rápido. O que pega mesmo é essa dor nas costas. Na maioria das vezes que eu saio a noite e tal, o que me faz voltar pra casa mais cedo é essa dor. Principalmente, se é um lugar onde todos ficam em pé! Eu agüento até onde dá, mas chega uma hora que eu fico de saco cheio e canso de tentar ignorar a dor. Fica chato, eu deixo de curtir e bodeio. Ah, mas a parte legal é que, se chego em algum lugar que o pessoal está sentado, logo alguém levanta pra me dar lugar! Heheh O pessoal é gente fina comigo.
Ah, mas eu falei do jogo por causa do papo de comida, né? É sempre assim, eu começo falando de uma coisa e, quando vou ver, estou falando de outro lance nada a ver! Não que eu seja lesado. Então, voltando. A gente chegou cedo ao Pacaembu e foi a uma padaria, lá perto. Eu até pensei em comer alguma coisa e tal. Mas tinha a chance, grande, de dar merda. Literalmente. Então eu preferi ficar de boa, comi uns croissant sem recheio, tranquilo. E deu certo, no jogo não pegou nada. Imagina, só faltava essa. No meio do jogo... Aquele banheiro cheirosinho de estádio! Imagina o drama que não seria! É uma opção que eu faço. Abro mão dos prazeres da mesa – meio bicha, né! - pra poder ficar de boa e curtir o momento! Pena que não é sempre que rola. Mas quando eu consigo, fico maior orgulhoso quando chego em casa! É praticamente como se sente um ex-fumante que passa a balada sem fumar, apesar da cervejinha, que passa a balada inteira te instigando, implorando por um trago. Mas aí você só acha legal no dia seguinte, quando acorda e pensa “Puta que pariu! Não fumei durante a balada inteira! Classe!” É, bom, não sei se é a melhor comparação, na verdade. Mas é assim que eu me sinto no dia seguinte, quando consigo evitar umas paradas mais indigestas. Esquema AA, mesmo!
E minha alimentação tem sido assim, bem regrada. Por exemplo, não como lingüiça, evito carne de porco, não como salada, nada cru, fora de casa. Japonês, nem pensar! Não como muito queijo. Quase não tenho tomado refrigerante. Vou testando uns sucos. Agora estou na fase do de goiaba. Vou até enjoar, aí troco. Não tomo leite, nem iogurte. Sorvete, também não. As vezes tomo aqueles frozen yogurt, mas acho meio sem graça, já que pra ficar bom mesmo, tem que por as coberturas, que eu não posso muito. Em relação a doces é mais foda. Eu não como quase nunca bolo de chocolate, tortas com creme, recheios, essas paradas. Sanduíche, tipo x-burger, não rola. Sempre que eu penso “ah, um só é sussa, peço sem bacon!”, vou lá e como, não dá certo. Várias vezes, eu tenho vontade de comer um hot-dog, mas desencano. Se bem que esses dias eu comi, um daqueles mini, tipo de festa de criança. Não como fritura também. Pastel, eu nem lembro a última vez que comi. Caldo de cana, também. E tem outras coisas, que eu não lembro agora. Por outro lado, todo dia eu tomo um açaí. Bato com banana e mel. Fica animal! 
Assim, se for parar pra pensar, tem coisa pra caramba que eu não como. É verdade. Mas eu nem penso nisso todo dia. Já estou bem acostumado. Tanto que, quando me perguntam como está minha alimentação, se posso comer de tudo e tal, eu respondo que sim. Depois começo a pensar e ver que não é bem assim. Mas estou lidando bem com isso, na verdade. O que ferra mais é doce, mesmo. Sempre fui “do doce”. Eu tenho comido uns doces de fruta. O da moda agora é aquele de banana cristal, sabe? Como umas compotas também. Muita fruta. Tive que rever meu conceito de que fruta não é sobremesa! Na verdade, minha alimentação é saudável pra cacete! Não que eu queira ser saudável. Eu até acho legal. Claro, só um imbecil acharia ruim ser saudável. Mas não é o motivo. É mais prático mesmo, dia a dia: se eu comer esse macarrão aos quatro queijos, não consigo absorver nada, vai tudo embora. Logo, emagreço. Agora, se eu comer esse macarrão ao sugo, não vai rolar barbárie nenhuma aqui dentro, e eu vou me sentir melhor. Ou seja, o lance de ser saudável, vem de tabela. Praticamente involuntário! E posso dizer que estou conseguindo lidar até que bem com isso. Acho que, se eu fosse um gordinho precisando emagrecer, ia ser sussa! Porque é uma situação mais simples. É, porque o problema de o cara comer uma torta de chocolate é que ele vai quebrar a balança. Mas isso vem depois. Na hora vai sentir só o prazer. No máximo um peso na consciência depois. No meu caso, não. O bicho pega na hora. Além de eu emagrecer, e rolar uma barbárie na minha barriga, eu vou ter que correr atrás de um lugar pra poder meditar! Dependendo de onde eu estiver, gera um constrangimento.
E o mais importante de tudo, que eu sempre lembro quando fico puto ao ter que evitar uma linguicinha num churras, é que até pouco tempo atrás, eu não podia comer porra nenhuma, né! Então, pra quem não comia nada, até folhas de endívia é algo suculento, vai! E outra coisa, desde que eu saí da última internação, já aqui no Brasil, eu engordei seis quilos! Essa é a principal recompensa pra chatice toda de ter que lidar com essas restrições. Ainda estou bem magro. Mas com mais uns seis, sete quilos eu fico próximo do que eu era. Aí, também, já dá pra dar uma barbarizada, de leve, na alimentação. Isso porque já vou estar em um peso mais seguro.
 Bom, é isso. Por mais que eu já tenha falado sobre esse assunto alimentação muitas vezes, é algo que está sempre mudando. De acordo com a evolução da minha recuperação. E é o que está pegando mais, mesmo. Então, se mantém um assunto atual! rs E também, eu quis falar disso agora porque esse post é meio que um relatório de um ano do transplante... Como está o meu corpo depois de um ano que recebeu órgãos novos e tal. Mas, o mais importante de tudo é que está rolando uma integração boa aqui dentro. O povo se entendeu muito bem. Isso é o que importa! Nunca teve nem um início de rejeição. E é esse o maior medo de quando se faz um transplante. Ainda mais envolvendo o intestino, que é o órgão que tem o maior risco de rejeição, em qualquer transplante. E, com o tempo, meu intestino vai funcionando cada vez melhor, meu corpo vai ficando cada vem mais ninja, e é isso aí! 
O negócio é comemorar esse aniversário! E o ano tem sido muito legal... Ganhei um sobrinho lindo, o meu irmão mais velho, o Daniel, também está esperando um herdeiro... Enfim, sem falar em outras coisas legais que eu estou vivendo. Mas acho que esses dois fatos ilustram bem a nova fase, bem melhor, pra todos nós! Bom, eu estou falando aqui assim, todo empolgado... Mas, assim, se alguém não estiver muito bem, me dá um toque! Heheh Estou aqui, mais do que querendo retribuir tudo, de todo mundo! 
Mas legal, agora vou ter dois aniversários por ano! Um no começo do ano, e outro mais pro final! Classe! E esse eu vou comemorar em São Joaquim! Tia Ana, prepara as esfihas, que eu estou chegando! heheheh
         
         Beijo pra todo mundo!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

EPOPÉIA 21

Oooopa!
Então, vou continuar com a Epopéia! Pra não perder o embalo! rs
Bom, então eu acordei da cirurgia, achando que tinha ido fazer uma cirurgia simples, só pra resolver o lance de não conseguir engolir saliva! Quando vou ver, estou todo cheio dos tubos em uma sala, sozinho e sem conseguir falar. Aí, corta - é assim que eu vivia o lance, sem muita conexão entre os momentos. Eu via as pessoas da minha família, mas não me comunicava com ninguém. Não conseguia falar nada. Eu só observava, bem lesado.  
Até que uma enfermeira veio e perguntou “como é que está o corte?”. E eu levantei a camisola... ou avental, sei lá como chama essa elegante vestimenta. Nisso, eu vi um monte de esparadrapo e comecei a tirar. “Que porra é essa?”, eu pensei. Aí eu vi um pedaço do “x” que estava na minha barriga. Mas eu estava tão lesado ainda, que só pensei “ih!” E nem fiquei tentando adivinhar o acontecido. Como eu disse, não tenho muita noção do tempo que levou de um momento ao outro. Mas depois disso apareceu o Fabio Ferreira, que havia feito a cirurgia. Perguntei, daquele jeito, o que tinha acontecido, e ele disse que minha família viria me explicar depois. Que eu devia ficar quieto por enquanto pra recuperar, pois havia sido uma grande cirurgia. E realmente, eu estava sem voz, só sussurava um pouco. E não entendia direito as coisas. Mas ele disse que eu estava bem. Minha família estava esperando que eu pudesse conversar melhor, pra então me contar o que tinha rolado.
Mas eis que adentra ao quarto da UTI uma médica da equipe de assistentes do Paulo Hoff. Nós as chamávamos, carinhosamente, de Pauletes. Não por nada, apenas porque eram várias, e assim ficava mais fácil. Ao invés de falar “aquela, que eu não lembro o nome, da equipe do Paulo Hoff...” Você vê que “Paulete”, facilitava, né? Pois é, foi só por isso. E eu perguntei pra ela, assim como fazia sempre que via alguém, o que tinha acontecido:
- Você não sabe, ainda?
- Não!
- Tiraram o tumor inteiro!
- Puta merda, que animal, sério?
- Sim! Mas tiraram seu intestino, também!
- Ãh?
                Aí eu fiquei um tempo olhando pra minha barriga. Não caiu a ficha, por uns minutos. E depois eu até parei de pensar nisso. Acho que minha cabeça ainda estava voltando a funcionar depois da cirurgia, sei lá. Não fazia as sinapses, sabe?
                Quando minha família ficou sabendo que ela tinha me falado, assim, sem muito jeito, ficaram bem irritados. Queriam dar a notícia da forma mais suave possível. E correram pra tentar melhorar a situação. Não sei, mas acho que a primeira pessoa que apareceu depois disso foi meu pai. Eu ainda estava com dificuldade pra falar, e pra entender as coisas. Mas esse momento eu lembro direitinho... Bom, isso se o lance aconteceu como eu tenho guardado na memória, né. Tem muita coisa que eu lembro de um jeito, e quando comento com alguém que estava junto, me falam que foi diferente. Essas paradas que dão pra te sedar e você dormir, demoram a parar seu efeito. Depois que você acorda, fica tudo confuso por um tempo. E quando meu pai entrou, foi quando eu estava melhorzinho, conseguindo entender o mínimo. Mas logo cansava de falar, a voz parava.
                Então ele me explicou o que rolou. Foi a primeira vez que me explicaram, mesmo. Antes disso, a Paulete tinha apenas vomitado a informação. Mas me lembro que, da mesma forma que nas outras cirurgias, eu me senti mais bem do que mal ao perceber que sobrevivi de algo difícil. A primeira sensação que vem é de vitória. Até porque você ainda está meio anestesiado, física e psicologicamente. Então não sofre, e nem imagina o que vai sofrer. E sempre que falam isso, tirando a Paulete, falam de uma forma positiva. Claro, pra amenizar. Meu pai falou da forma mais positiva possível! Ajuda, sim. E eu sempre fiz assim, quando dava, me deixava acreditar muito fácil, também. É o jeito. Tem que tentar encarar sempre do melhor prisma possível, pra situação ficar menos difícil de lidar. Ou melhor, ver o lado bom das coisas, né? E nesse caso, o lance era pensar no fato de que o tumor tinha sido extraído.
                Não me lembro bem dos momentos logo depois disso. Assim, as horas, primeiros dias, logo depois que eu me vi sem intestino. É que eu estava bem doido ainda, eu acho. Aquelas coisas que rolam quando eu fico num nível de consciência meio alterado. Eu não conseguia dormir nem a pau! Via um monte de coisa. Se eu fechava o olho, vinha uma cor marrom, ficava tudo escuro. E essa parada marrom ia se afastando, e conforme se afastava eu via que era um gorila gigante, tipo King Kong. E eu estava me afastando dele. Então ele ficava cada vez menor. Mas se eu fechasse o olho, começava tudo de novo. No começo até achei legal, depois que passou o medo. Eu pensava "ah, já fiquei assim antes, eu lembrava, e dessa vez eu vou aproveitar!" Mas na sétima vez que eu comecei a me a incomodar. É, porque eu fechava o olho pra tentar dormir, e lá estava eu saindo do ombro do King Kong. Eu tomava um lance forte pra dormir. E com muito tempo sem dormir, você começa a sonhar acordado, eu acho. Ainda mais com uns remédios tarja preta e morfina. Dessa vez, eu me lembro de estar olhado pro Dudu, e ele está lá embaixo, na poltrona da UTI. Tipo, uns quatro andares pra baixo.
E o que mais me deixava maluco era que não parava a música da UTI. É, porque na minha cabeça, tinham acabado de reformar o hospital. Afinal, era um novo Sírio Libanês, ao lado do aeroporto de Guarulhos! Não sei se falei isso já, mas eu achava que o hospital era em Guarulhos. E ficava impressionado como o pessoal ia pra casa e voltava tão rápido! A Jack, que chegava falando que tinha ido de ônibus... Mas o doido é que eu não comentava isso com ninguém. Só pensava em quão estranho era isso, e boa! É, porque se eu falasse, alguém provavelmente falaria “não viaja, animal, o Sírio é perto de casa e não reformou nada!”
Mas, enfim... E nessa reforma tinham colocado aqueles adesivos de taxi, nas portas de vidro dos quartos da UTI. E esses adesivos eram capas de discos antigos de rock, e cartazes de filmes. Tinha Pulp Fiction, Dona Flor e seus dois maridos, Carandiru... E de música, eram os álbuns que tocavam o dia inteiro. Até o meio dia, tocava rock e música brasileira, e até meia noite, rock gringo. Raul, Cazuza, Beatles, Rolling Stones, Gilberto Gil, Alceu Valença, The Mamas and The Papas – que eu só fui ouvir um cd inteiro depois dessa internação. Tinha inclusive uma música que não existe, na verdade. Fui descobrir depois. Eu pedia pro Du procurar no Google, e falava até o nome dela pra ele. Chamava Pedro Brasileiro. Eu queria muito lembrar a letra. Era um lance como uma competição de músicos. De um lado era Fagner, Alceu, Zé Ramalho, Almir Sater, Elba e uns outros. Do outro era Gil, Caetano, Chico, Gal... e mais outros da tropicália, como Mutantes e Tom Zé. Não lembro direito. Era meio que um repente em grupo! Um grupo desafiando o outro. Mas sem o ritmo do repente. E lembro que a Gal era amiga dos dois grupos, e que no fim, sempre eles terminavam amigos! Do som gringo, a competição era menos original, entre Beatles e Rolling Stones. Tipo, os Beatles eram os bonzinhos e os Stones, os do mal. E tocava Black Sabbath, Led Zeppelin e AC/DC também! É meu, não tinha nada de samba ou chorinho no meu sonho. Era mais rock´n´roll, mesmo! rs.
E também, no começo achei legal. “Nossa, olha a sonzeira do Sírio! Vários adesivos legais! Olha esse Paulo Hoff, meu!” rs É, porque tocava um monte de músicas que eu gosto. Claro, era meu sonho! Doido isso! Se você for pensar, acho que era a forma que meu inconciente, muito gente boa, achou pra amenizar meu sofrimento. Pondo música boa pra eu ouvir e me distrair. Eu não gostava de por a mascara de Bipap, porque era muito barulhenta e eu não ouvia as músicas. Mas depois, comecei a ficar de saco cheio das músicas. Porque eram as mesmas todos os dias. Na mesma ordem. Eu sabia que horas eram no dia, mais ou menos, pelas músicas que estavam tocando. E isso me lembrou uma viagem que fizemos, pra Praia da Ferrugem, no sul. Eu, o João, o Luciano e o Pimenta. Há uns 10 anos. Ninguem tinha relógio, a gente sabia que horas eram na balada, pelas músicas. Acho que em dez dias de balada, tocou sempre a mesma sequência! Era a época que surgia aquela do “vô passa cerol na mão...” E tocava também uma outra muito ruim, do “papo de jacaré”, que era até engraçada, de tão ruim! Mas tocavam músicas boas também... Enfim, lembrei disso durante essa “viagem” no Sírio.
E essas músicas não me deixavam dormir, né. Me lembro que eu pensava “ih, já tá tocando Barão, daqui a pouco as enfermeiras entram pra tirar os sinais vitais, e eu não consegui dormir nada, saco!” E eu fiquei muitos dias sem dormir. Ou “Opa, tá tocando Beach Boys, é hora das visitas!” Sério meu, e isso rolou por vários dias. Tocava Raimundos também. Sabe aquela do banquinho da bicicleta? rs Ah, eu achava que estava sempre mudando de quarto. E gostava, pois aí via os adesivos dos outros quartos e tal.. Eu achava muito curioso isso. Ficava pensando "que legal, o Sírio se tornando um lugar mais agradável, distraindo os pacientes... Deu certo!" rs 
Então é isso, depois eu continuo! Valeu aí, e um beijo e um abraço pra todo mundo!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

EPOPÉIA 20

Faaaala!
Então, eu vou continuar a contar a epopéia. Eu coloquei no último post, a “versão” da Stella sobre o momento que eu estava falando. Não podia deixar de publicar, né! Mas vou continuar do ponto que eu tinha parado, pra manter minha sequência. Assim fica mais fácil pra eu me organizar, sei lá! Então beleza...
Ao se confrontarem com essa opção, de tirarem tudo o que o tumor tinha atingido, eles acharam por bem me acordar. Afinal, pra uma decisão como essa, eu teria que participar, pensaram. Eu entendo. Minha família achou que seria mais fácil, que teria como me trazer de volta a consciência. Mas não rolou. Ao tentar fazer isso, eu demorava muito, e não tinha forças. E rolava aquilo que a Stella descreveu. Eu não tinha condições. Essa volta de sedação/meio coma induzido, é bem sofrida. Tem abstinência dessas drogas que te capotam. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha condições de enfrentar a cirurgia. Acabou que eles desistiram da idéia de me trazer de volta, pra essa “consulta”. E também, o que eu tinha pra decidir? Era tirar o intestino ou deixar o tumor lá e eu empacotar! E mesmo que, em um momento de desespero/saco cheio/depressão, eu falasse que não queria fazer a cirurgia, que preferia a outra “opção”, alguém aceitaria? Claro que não! E logo depois, eu tive uma leve melhora no meu estado clínico, mas bem de leve mesmo, e eles resolveram arriscar a cirurgia. Eu imagino que, mesmo sabendo da situação, devem ter rezado muito pra não precisar tirar o intestino inteiro. Mas não deu. Acabou que, além do intestino, foi extraído um pedaço do pâncreas e metade do estômago.
Passado algum tempo da cirurgia, não sei ao certo quanto, eu comecei a retomar a consciência. Mas não fazia idéia do que tinha rolado. Na verdade, eu não sabia nem que tinha ido pra cirurgia. Eu estava tendo minhas viagens, em outro nível de consciência. E dessa vez, o que rolou na minha cabeça não foi tão absurdo, como da outra vez, em que eu viajei pelo Brasil inteiro! Foi mais ou menos assim o que eu vivi no meu sonho: A Stella estava vindo para o Brasil nos visitar. E a gente ia fazer uma brincadeira com ela. Quando ela chegasse, eu ia fingir que estava internado no Sírio. Antes, o Daniel ficou uma semana internado, também por brincadeira. Não me lembro qual era a graça da nossa idéia. Mas no sonho fazia sentido e era maior legal! O plano era eu ficar dois dias internado. O Sírio, no sonho, era do lado do aeroporto de Guarulhos. Então, a Stella chegaria e eu estaria lá! E, repito, não lembro qual era a sacada. Só sei que deu tudo errado! Quando a Stella chegou, o combinado com o Sírio era eu ser liberado logo depois. Mas aí não conseguíamos a alta. Sempre iam atrasando, falando que o enfermeiro responsável não estava naquele turno... O médico estava vindo... Iam enrolando a gente. E o clima ia pesando. No começo, só o Daniel e o Dudu entravam no quarto pra falar comigo. E eu via, através das portas translúcidas do quarto (só no sonho era assim!), minha família brigando. Meu pai estava puto e falava: “eu voltei a fumar por causa disso, seus irresponsáveis!” E chamavam vários médicos diferentes, xingavam, e nada. “Ele já ficou muito tempo internado, vocês não sabem o que esse menino já passou!” eram umas das frases em meio a discussão! Lembro que aí foram buscar a Jack pra ajudar a convencer a me liberarem. A idéia era mostrar o sofrimento da minha namorada, sei lá. Não adiantou. Depois veio a Stella. E ela estava puta da vida, pois acho que já tinha voltado pra Glasgow, e teve que voltar por causa disso! Depois apareceram os pais da Jack pra brigar. Depois os pais da Andrea, minha cunhada! Foi uma barbárie! E eu ficava ouvindo as discussões.
Mas era, sei lá, engraçado, que ficava todo mundo, minha família, me enrolando, dizendo que não tinha ninguém lá fora, que estava tudo bem. E eu fingia que acreditava! Mas o lance é que eu fui ficando ruim, já que não me liberavam, e eu estava deitado o tempo inteiro, sem comer e tal. Aí o bicho pegava do lado de fora do quarto. E minha mãe ficava toda se sentindo culpada. Ela não se conformava de ter me deixado fazer essa bricadeira. Antes, a gente ficou pensando que eu iria ficar internado na brincadeira e, a princípio, não era pra eu ficar de jeito nenhum. Mas no fim foi indo, foi indo, e acabou fondo! rs Meu, eu estou tentando lembrar, porque fazia sentido, era legal nossa idéia. Mas não tenho noção do porque!
Como eu fiquei ruim, resolveram me manter internado. Eu fiquei puto, pois estava a alguns dias pedindo pra assinarem a alta, pra pararem com a brincadeira! E tinha um lance estranho. Eu não conseguia engolir saliva! Mas no sonho não tinha nada na minha boca. Claro que, fui descobrir depois, nessa etapa do sonho, eu estava com aqueles tubos gigantes na garganta e tal, por causa do pulmão. Mas o que eu vivi foi que eu não engolia a saliva, não conseguia, e ia acumulando na minha boca. Meus irmãos entravam e falavam “Vai Rê, é só se concentrar, vai!” Mas não rolava! Lembro que a Stella entrou e disse “Ah, vai, pára com isso, não tem nada aí pra você engolir, isso é coisa da sua cabeça!” Eu ficava bravo com a Stella, e tentava brigar, mas só saía resmungue! Eu não conseguia pronunciar uma palavra de forma compreensível. E na hora que eu conseguiria engolir a saliva, no sonho, eu não o fazia, só de birra! rs Não queria que ela achasse que era frescura minha, e que eu tinha parado de fazer manha porque ela tinha me dado bronca! O lance de saliva foi virando o enigma do momento. “Porque ele não consegue?!” E tome exames! O tempo ia passando e eu não saía do quarto. Uma hora, virei pro Daniel e falei, puto “porra, estamos aqui a mais de três dias, e não me liberam!” E o Daniel “Não Rê, não é tanto assim, são – sei lá – vinte horas, apenas” Eu não acreditei e ele me mostrou o relógio da tv. Aí fiquei quieto!
E teve, também, uma treta com os médicos e enfermeiros. Eles – na minha cabeça – estavam reutilizando uns materiais. Era um lance que todos no hospital faziam, todos sabiam e não pegava nada, mas que acabou sendo descoberto. Então, um enfermeiro intimava o outro, pagando de honesto, mas eram todos do mal! Tinha algum esquema de cadastro de sistema, que “denunciava” de quem foi a falha, quem tinha reutilizado a agulha. E a partir do momento que alguém da minha família acusou, começou uma caça às bruxas. Chamaram a chefe das enfermeiras no meu quarto, confrontaram ela com os médicos. Deram um baita esporro e ela começou a ser minha enfermeira diretamente. Quando eu apertava o botão pra chamar uma enfermeira, elas fugiam. Ficavam com medo. Falavam pra mim “ai, sempre fiz tudo com tanta atenção, agora me questionam!” E quando entravam no quarto, diziam “ah, você é o Renato Consoni, aquele paciente encrenqueiro?!” Aí, o que aconteceu foi que todas as enfermeiras fizeram um treinamento intensivo, e boa parte das antigas foi mandada embora. E eu virei o paciente mais famoso e complicado do hospital. Mas lembro que, na minha primeira internação, ainda no São Luiz, em 2008, eu também fiquei famoso. rs Eu era chamado de “o louquinho da UTI!”. Mas não lembro se era viagem minha, ou se me chamavam assim, mesmo! No caso que estou contando agora, era parte da minha viagem. Eu acho!
E paralelamente, tem as coisas que aconteciam de fato, enquanto eu estava inconsciente, a babar, mas que eu só fiquei sabendo depois, quando me contaram. A mais barbárie foi a história da enfermeira do batom vermelho. Meu, acho que essa foi a pior desses três anos! Eu passei uns dias sedado, entre o momento em que a infecção virou sepsemia e a hora da cirurgia. Fiquei meio indo no banho-maria, sem ter qualquer reação a qualquer coisa. E eles falam que tinha uma enfermeira muito estranha, loira - amarelo feio -, que andava com o batom no uniforme. Ela retocava o batom a cada cinco minutos. E usava um perfume muito forte. Claro que quase não chamava a atenção! Aí, em uma das noites, ela ficou responsável por mim, na UTI. Não dormia ninguém comigo nesses dias em que eu estava “longe”. Na manhã seguinte, o Dudu e a Jack foram os primeiros a me ver. Falaram que, ao chegar, eu estava sozinho, e com marcas de batom no corpo inteiro! Sério! Na bochecha, no pescoço, na barriga... Juro! De verdade! Meu, muito barbarie! Eu lá, podrão, todo inchado de cortisona, com tubo na boca e onde mais você possa imaginar - não, lá não! E a mulher na barbárie! Sei lá, mas meio sinistro, vai! A mulher tem tara por pessoas em estado quase fim de carreira!  E ela era toda cuidadosa, amiga da minha família inteira, da Jack também! Ah, antes que alguém pense... Não, não era nada que pudesse chegar perto de ser chamada de bonita. Em nenhuma hipótese, nem com muito amor no coração. E o pior é que, depois, em uma das minhas internações de 2010, me mostraram quem era a louca! 

Mas enfim, era isso que estava rolando, na minha cabeça e fora dela, nos momentos que antecederam a cirurgia. Até que – no meu sonho - entraram no quarto me falando que o lance de eu não conseguir engolir saliva era um problema grave, e talvez fosse necessária uma cirurgia. Então, como eu estava dizendo antes de contar os sonhos, eu acordei da cirurgia sem ter a menor noção do que tinha rolado, de fato. Estava achando que tinha ido fazer um procedimento simples, pra corrigir um refluxo, ou algo do tipo.
Então é isso! Depois eu continuo! Espero que não tenha ficado muito confuso! É que foi isso que rolou, uma grande confusão, mesmo! E é difícil colocar isso de uma forma mais compreensível, mais linear, sei lá... E olha que eu revisei umas cinco vezes esse texto pra deixar ele melhorzinho ...
Beijo e abraço pra todo mundo!

domingo, 25 de setembro de 2011

EPOPÉIA 19

Opa!
                É o seguinte: quando a Stella leu o ultimo post do blog, ela me mandou UMa mensagem. Eu gostei muito dela ter falado/escrito isso, então vou publicar aqui. Acho legal essa visão dela e das pessoas que viveram isso junto comigo, bem de perto. Porque muito do que eu conto das horas em que eu estava “longe”, foram essas pessoas que me lembraram, ou contaram o que eu nem sabia pra lembrar.. Enfim, vou reproduzir abaixo essa mensagem da Tetuditchous, que na época era filha e irmã. Agora é filha, irmã e mãe! Heheh. É que eu estava viajando nisso, esses dias... Assim, você nasce e é filho, no máximo irmão. Depois vai acumulando funções, né, vira mãe/pai, depois avó/avô... E vai indo, até onde você aguentar! heheh
“Li seu blog. Essa parte da epopéia foi foda. Dá até arrepio de lembrar. O Fabio mostrando pra genteo raio-x do seu corpo e mostrando o que o tumor tinha tomado. E falava da única solução, que era tirar o intestino. E você apagado.
                E lembro da gente no escritório do Paulo Hoff, ele dando três alternativas: não fazer nada; tirar o tumor, o intestino e o que o tumor tomou, imediatamente; ou te acordar, e esperar todo aquele processo da droga sair do seu corpo, pra você ganhar consciência e a gente te perguntar o que você preferiria fazer: nada ou tirar o tumor e tudo o que viria junto.
                A gente saiu da sala e discutiu, tentando adivinhar o que você preferiria. E você lá, apagado, vomintando verde, bem mal. A gente decidiu que não faria sentido te fazer acordar e ganhar consciência, porque isso demoraria pelo menos uma semana. E você não agüentaria, você estava muito mal.
                Nesse dia, ou no dia seguinte, eu consegui dormir com você no quarto. Foi difícil, mas eu ganhei da mãe. Voê passou muito mal, dava medo. Eu ficava lá em pé, ao seu lado, segurando sua mão e chorando. Enxugando  seu suor. Você suava bastante.
                Você parecia estar piorando. Até que o Fabio apareceu, de madrugada, e me viu lá, chorando e enxugando o seu suor, e você vomitando verde. E eu disse: ‘opera ele, logo’. Ele respondeu: ‘é a decidão da família?’. A gente tinha meio que decidido operar logo, eu lembro agora. Mas ainda na dúvida se devia ou não te acordar. Minha opinião era de não fazer você acordar. Eu tinha certeza de que você escolheria a mesma opção. Eu respondi a ele que sim, era a decisão da família. Na manhã seguinte bem cedo, ou depois de algumas horas, teve uma reunião com o Fabio, o Paulo e time deles. No mesmo dia, eu acho, a noite, se não me engano, rolou a cirurgia.
                Eu já tinha adiado minha passagem de volta. Falei com meu chefe pra tirar mais uns dias. Mas o dia que eu marquei a volta coincidiu com o dia da cirurgia. Foi foda, você estava sendo operado e eu no avião. Foi foda. Eu me arrependi muito de não ter adiado mais uma vez a passagem. Quase fiz uma cena de filme, quando estava todo mundo a bordo, o avião prestes a decolar, eu quase falei que queria desembarcar! Foi foda!”
                É isso aí! Minha irmãzinha contando o que eu tinha contado, através de um outro ângulo muito importante. Depois eu continuo a Epopéia.
                Ah, e agora vou colocar mais umas fotinhos do meu sobrinho Cauê!

Vovô conhecendo o neto... Olha a cara dele!

Stella com cara de Stella! Ainda na maternidade.

Quando soube que o Coringão perdeu a liderança, gritou, xingou todo mundo... Ficou puto!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

EPOPÉIA 18

Opa!
                Então, como não tenho nenhuma novidade assim, mais interessante, vou continuar contando a epopéia. Eu parei na época do réveillon, de 2008 pra 2009. Eu tinha tirado metade do intestino, 90 cm, uns dois meses antes. Logo, foi uma aventura essa viagem. Quando voltei, estava razoavelmente bem. Muito magro, mas com energia e tal. Continuava tomando Glivec, e nada de o tumor se incomodar. Lá pra julho foi quando eu fiquei melhor. Entrei num acordo com meu corpo, entendi o que ele precisava, cheguei ao meu peso antigo... Tudo bem. O ano de 2009 foi um eu passei praticamente todo sem ser internado, eu acho. Acho que, até novembro, foi o melhor ano da epopéia. Nem lembro de ter tido uma internação. Eu até comemorei isso. Falava pra todo mundo: “sabia que faz um ano que não faço cirurgia?!” Pra mim, era legal falar, sempre ouvia um “aeeee, agora acabou!!!” Eu adorava dar notícias boas. As pessoas vibravam comigo e tal. E eu ia tentando retomar a vida, fazendo minhas entrevistas de trabalho... Cheguei a ir pro Rio, pra uma entrevista com os Médicos Sem Fronteiras. Pra trabalhar com captação de recursos, que é o que procuro hoje. Ia ser animal se tivesse rolado! Mas, por tudo o que aconteceu depois, não era pra ser. Ainda.
                Em novembro, vieram, da Inglaterra, dois amigos da Stella. Era o John e a mulher dele, que não lembro o nome, acho que era Neha. Ela era do Quênia e ele, inglês. Eles iam fazer um mochilão pela América do Sul, e a primeira parada era São Paulo. O réveillon eles passariam em Copacabana! Assim, eu adoro o Rio, Copacabana. Já passei um réveillon em Copacabana, e pretendo passar outros. Mas os dois não eram agilizados, de se virar e tal! Não tinham noção da barbárie que é a virada, lá! Achavam que iam curtir uma prainha, tranqüilos e românticos... E eles iam chegar no dia 30 de dezembro! Fiquei imaginando as propagandas que devem passar lá na Europa, sobre esse réveillon! As imagens da praia devem ser feitas numa quarta-feira do mês de julho, né!
Bom, aí eu os busquei no aeroporto, e eles passariam o fim de semana aqui em casa. Fiquei dando uma de guia pela cidade e tal. No domingo, os levei num restaurante de comida baiana, na Vila Madalena. Soteropolitano, chama. Quando cheguei, estava me sentindo meio mal. Meio enjoado. Não consegui comer direito. Como que de ressaca, eu achei. Mas tomei muita Coca. Umas três latinhas. E me deu dor no corpo, febre e dor de cabeça. Parecia uma gripe forte. Voltei pra casa e capotei na cama. Acordei, no começo da noite, melhor. Aí resolvi pedir uma massa, pois não havia comido nada, praticamente o dia inteiro. Até que comi bem. E fiquei o resto do dia me sentindo razoavelmente bem. No dia seguinte, logo cedo, tipo seis da manhã, fui ajudar os gringos a pegar um taxi pro aeroporto... Meu, por isso que eu estava preocupado com o reveillon deles! Eles não se viravam, sabe? Imagina em Copacabana, na virada! Bom, mas beleza... Voltei a dormir, claro, e quando acordei de vez, estava bem. A Jack não queria, mas a convenci a ir pra faculdade, pois eu não sentia nada de errado. Logo que ela foi, resolvi dar uma arrumada em casa, já que os meus pais estavam chegando da fazenda, e a casa estava uma bagunça. Os gringos se mostraram muito folgados. Pra ter uma idéia da zona, deixaram toalha molhada em cima da cama... Não lavaram nem uma colher! Minha irmã diz que é um lance meio cultural. Parece que eles estão acostumados a não arrumar as coisas quando estão viajando, que é normal isso. Eu não sei, não! Achei que o combinado era eu ser apenas guia turístico, e não faxineiro do casal. Mas beleza, fui dar uma geral na casa.
 Quando estava arrumando a cozinha, comecei a me sentir meio mal, com um pouco de frio. Mas estávamos em novembro, em dias quentes. Terminei e fui tomar um banho, pra ver se passava. Não passou. Então fui deitar. Nisso, o Du ligou, pra ver se estava tudo bem. Ele almoçou com a gente no domingo, e viu que eu passei meio mal. Eu disse que estava, sim. Mas deu dez minutos e eu comecei a tremer. É, aquela tremedeira famosa, a bacteremia. Já expliquei bastante. Mas, recaptulando: É aquela que dá quando a casa cai! Você treme inteiro porque está com uma puta infecção generalizada. Mas treme mesmo, das orelhas aos dedos do pé! Aí, na hora já liguei pro Dú pra ele vir me buscar e levar pro hospital. Enquanto ele vinha, fui tentando controlar a tremedeira, senão não conseguiria chegar ao carro. Como era a 598751  vez que isso acontecia, eu fiz a tremedeira parar. Ele chegou muito rápido! Sério, deve ter tomado umas dez multas! Acho que falei assim pra ele no telefone: “vem pra cá que fodeu!”. É que eu não conseguia falar, e foi a melhor forma de resumir! E fomos pro Sirio. Chegando lá, a Daniela, assistente do Paulo Hoff, ao me ver, já me mandou pra UTI. Eu estava com a pressão “daquele jeito”, devido a uma sepsemia, que é a tal da infecção master mega trash plus rock’n’roll!
Nessas horas, uma coisa muito chata é dar a notícia pras pessoas. Claro, né! Como falar isso de uma forma suave pra quem sofre muito ao saber dessas coisas. Comecei pela Jack, que, tadinha, ficou toda se sentindo culpada por ter me deixado em casa. Mas nada a ver, já que eu que falei pra ela ir embora, porque estava bem! Ela ia adivinhar? Depois fomos avisar meus pais. O problema era que eles estavam na fazenda, em São Joaquim. Pra não deixá-los muito tensos e ansiosos na estrada – já que era óbvio que voltariam correndo quando soubessem – o Dú falou que eu tinha passado um pouco mal. Mas não disse nada de UTI. Depois disso, na UTI, já me sedaram. E falar pro Daniel, pra Stella e pras outras pessoas, foi problema pro Dudu! Eu soube depois que ele só falou pros meus pais que eu estava fodido e mal pago, quando eles chegaram ao hospital.
O que rolou, foi que os exames mostraram que o tumor tinha dado xeque-mate. Filho da puta. Ele barbarizou lá dentro, de forma que eu tive várias lesões e furos no intestino, vazou líquido e infeccionou tudo. Ele já não se restringia ao intestino. Estava pegando um pedaço do pâncreas, já tinha chegado ao estômago e estava chegando ao fígado. Ou seja, ou tirava o tumor, ou eu morria, pois ele estava matando os órgãos. Enquanto isso, eu permanecia apagado. Então, começaram a falar das alternativas. Ou a alternativa, já que a única opção era tirar o intestino inteiro, tudo que tivesse entre o duodeno e o reto, mais um pedaço do pâncreas e outro do estômago. Com essa notícia, todo mundo ficou meio atordoado. Nunca haviam nos falado disso, e pareceu algo surreal, meio bizarro mesmo! Como assim ficar sem intestino? E se fizermos um transplante? Não é possível transplante, diziam os médicos envolvidos. Imagina a discussão que não rolou! Minha família questionou muito e não teve respostas muito esclarecedoras. Muito menos, confortantes. Ouviram, inclusive, que era algo esperado. Essa situação, causada pelo tumor, era prevista! O que eles fizeram esse tempo todo, foi tentar adiar ao máximo que eu tivesse que extrair parte da minha barriga! Mas eles entendiam que isso era inevitável. E como eles falaram isso só naquela situação? Se eu não deveria saber, então quem deveria? Não era uma informação importante? Falaram, também, que transplante de intestino não era algo viável. E que, se existisse, era algo muito experimental e de altíssimo risco. Enfim, essa é só mais uma, não a primeira, das incoerências com as quais nos deparamos nessa intensa relação com médicos. Mas isso eu falo em um capítulo, separadamente. É um assunto delicado demais, que pode expor muita gente. Mas é minha história, diz respeito a mim, então eu posso falar. Mas, voltando, naquele momento, isso tudo  manteve uma boa dose de “ih, fodeu” no ar.
Mas depois eu continuo, senão fica muito longo esse post e ninguém agüenta, né! Beijo pra todo mundo!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ooooopa!
                Então, hoje faz um ano que eu cheguei nos EUA, para realizar o transplante. Um ano! Lembro direitinho como se fosse ontem... Ou hoje, já que é hoje que se completa esse ano, né!
                Eu estava pensando em o que fazer em relação a esse ano que completou-se hoje. Cantar “adeus ano velho, feliz ano novo”? Pode ser. Mas sóbrio, é difícil. E falar sobre aconteceu durante esse ano não faz sentido, já que está tudo aqui, no blog. Achei que seria legal, então, trazer o que se passou nesse dia, um ano atrás. Achei que assim estaria ilustrada, também, a grande mudança que rolou durante esse tempo. Pelo contraste entre esses dois 02/09. Isso porque, em 2010, esse dia foi cheio de chateações – pra ficar numa palavra menos dramática. Assim como eram meus dias nessa época. E agora, em 2011, estou aqui, escrevendo logo depois de comer um sanduíche do Subway. Normal, o sanduíche não tava muito bom. Mas estou aqui, fazendo minhas coisas. Minha maior preocupação é que, daqui a pouco, tenho que ir pra fisioterapia. E está puxada a brincadeira!
Mas voltando a 2010. Foi uma vitória por simplesmente termos chegado. Depois de um dia em que, enquanto organizávamos os últimos detalhes da viagem, eu me sentia meio aéreo em casa, sei lá, meio anestesiado, nós fomos ao aeroporto. Minha família, a Jack e a mãe dela, Regina. O frio na barriga começou a ficar forte já na hora de me despedir das pessoas. Estávamos todos meio preocupados. Ninguém sabia como eu reagiria ao vôo. E sabe aquela hora em que você entra pra embarcar, e fica vendo as pessoas do lado de lá, dando tchau? Então, antes tinha uma parede de vidro, você via todo mundo. Agora só tem uma brechinha, da passagem, pra você curtir a melancolia da despedida. Foi aquela coisa, anda um pouquinho e vai olhando pra trás, pra ver se eles ainda estão lá, dá um tchau. Olha pra frente, anda com a fila, e olha de novo pra trás. Mais um tchau e algumas palavras choradas, esquema leitura labial. Enquanto isso, a Stella ia explicando que a mochila que eu levava não era uma bagagem de mão e tal. E outras dúvidas dos bedéis do aeroporto. Que eram muitas, já que era uma situação meio diferente, claro. Minha mãe tentava ajudar, mas estava, talvez, até pior do que eu. E eu ia olhando pra trás, com a angústia de serem os últimos instantes que veria aquelas pessoas, por um longo periodo. E estava todo mundo tentando disfarçar a cara de choro. De certa forma, disfarçar tristeza não era nenhuma novidade. Sempre que estavam ao meu lado, as pessoas tentavam camuflar o sofrimento, desconforto até, que sentiam observando a minha situação. Eu sempre me ligava, mas também fingia que estava tudo bem. Era minha forma de retribuir o esforço, eu acho! E, naquele momento, o pior era que ninguém sabia ao certo o que iria acontecer, em que condições iríamos nos ver novamente, muito menos quando. Eu tinha certeza que veria as pessoas novamente. Mas sei lá, fica aquele medo de dar merda, né!
Quando passamos para a sala de embarque, eu fui para o canto com minha mãe, pra me conectar a nutrição parenteral. Já havíamos preenchido o tubo da bolsa antes de ir para o aeroporto. É bem importante isso, pois não pode haver bolha. Se tiver, a bomba de infusão começa a apitar... Aí já viu, né! E colocávamos uma extensão nesse tubo, que saia da bolsa de parenteral até conectar-se ao cateter em mim. Era pra ter uma margem maior pra eu me distanciar da mochila. Por exemplo, pra quando eu estivesse dormindo, poder me mexer um pouco mais na cama sem correr o risco de arrebentar o tubo. Até porque, muitas vezes, eu esquecia que estava preso e saía andando, pra ir no banheiro, por exemplo, e deixava a mochila no chão. Alías, isso aconteceu algumas vezes, de eu sentir um puxão no peito e “ops, a mochila!”. É, normal pra um lesado como eu, vai!
No fim, isso durou uns dez, quinze minutos, sentados nas cadeiras ao lado do guichê de embarque. Isso porque minha mãe estava ninja nesse processo. Fiquei meio constrangido de levantar a camiseta e tal, no meio de tanta gente curiosa. Um dos momentos em que me senti meio ET.
Fomos de classe econômica. Até porque já havíamos deixado as calças e as cuecas pra pagar o transplante! E como havia apenas um mês da minha última internação paulistana, eu estava bem fraco. As costas doíam. Nossos assentos eram um em cada canto do avião. Mas, durante o vôo, acabaria a infusão e eu precisaria desconectar. E não dava pra fazer isso sozinho. Aí, por sorte, uma mulher que estava ao nosso lado, percebendo a situação, se dispôs a trocar de lugar com minha mãe. Fiquei mais tranquilo. Mas foi só chegar o jantar que ferrou. Quando as pessoas ao meu lado abriram o plástico do marmitex de avião, subiu um puta cheiro de comida. Meu, na hora eu senti um enjôo absurdo. Corri – e lembrei, sim, da mochila - pro banheiro, mas tava aquela porra daquele carrinho da aeromoça no caminho. Aí vi uma das vantagem de ser magrelo. Sério, consegui passar entre o carrinho e as cadeiras. A aeromoça não acreditou! O foda foi o olhar das pessoas, assustadas do tipo “ih, esse moleque vai vomitar na minha janta!” E foi quase, mesmo. E pra quem está pensando “o que ele vomitava, se não comia nada?” Pois é! Eu vomitava suco gástrico e afins.
O resto da viagem foi apenas chato como qualquer viagem de avião. Ia, de tempo em tempo, esvaziar a borseta no banheiro. Imagino o que pensavam ao me ver andando de lá pra cá com aquela mochila. E ficava procurando uma posição confortável. É, porque sou magrelo, mas sou comprido, né! Aí pousamos em Miami. De lá seguimos pra Charlotte. E de Charlotte, finalmente, fomos pra Indianápolis. Acho que já falei sobre as aventuras na alfândega dos EUA. É, foi tão legal quanto vocês possam imaginar: “ah, nutrição parenteral... Posso ver?” Ao chegarmos ao hotel, eu nem acreditei. Um baita alívio.
De lá pra cá aconteceu muita coisa. Muitos percalços, como escrevi aqui no blog. Mas conhecemos pessoas incríveis. Aconteceram coisas incríveis. E agora vai ser assim. Esse furacão vai estar cada vez mais distante de mim. A parte difícil ainda provoca alguns reflexos. Mas estão cada vez mais fáceis de lidar. O que está se fortalecendo é o lado meio bonito dessa reviravolta. Essas coisas boas que aconteceram - sim, tem o lado bom, em tudo -  quero continuar cultivando. Sempre. E aprendi coisa pra caralho nesse ano que passou! Desculpe a palavra! E é isso, quero deixar a parte ruim disso tudo numa gaveta. E, de vez em quando, eu abro e dou uma olhada, pra me fortalecer em relação as dificuldades que aparecem. É aquele lance que eu já escrevi. É bom eu me lembrar desses momentos, quando penso em, sei lá, como estou mais magro, ou qualquer outra coisa que me incomode. É a parte boa dessa história toda: esse meu novo parâmetro, que eu vou levar pra vida toda.
E alguém pode pensar: “mas porque recordar dessas coisas tristes, e ainda escrever sobre elas?” Justamente pra deixá-las pra trás. Pra mim, escrever é a melhor forma de superar de vez. Tem gente que pinta um quadro, outros escrevem uma música, sei lá. Eu não levo jeito pra artes. Mas escrever é muito bom, uma terapia. Aliás, isso eu descobri também um ano atrás, quando publiquei o primeiro post desse blog. É isso, um ano!  

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Faaaaala!
                Bom, vou falar de mim. Eu estou bem. Nenhuma novidade médica! Só o de sempre: precisando engordar. Estou engordando muito devagar, ainda. Fiz um exame pra ver um lance do pâncreas que, dependendo do resultado, pode dar umas dicas de algo que ajude a desacelerar o funcionamento do intestino – note bem, essa é uma forma educada de me referir a esse singelo problema de ir várias vezes ao banheiro!
                Mas aqui dentro está tudo certo. A cada vinte dias eu faço exames de rotina. De resto, estou procurando retomar minha vida. Como não pretendo mais trabalhar em agências de publicidade, tenho procurado oportunidades no Terceiro Setor. Minha idéia é trabalhar na área, aprender bastante pra me preparar pra abrir a minha ONG, num futuro próximo! Por enquanto, estou trabalhando como voluntário do Instituto Canguru - http://institutocanguru.org.br/. Estou desenvolvendo um projeto de captação de recursos pra eles. É um baita instituto, com um trabalho muito importante e bem feito. Muito legal poder fazer esse trabalho.
                Quando fui no astrólogo, três anos atrás, logo após a primeira etapa da epopéia, ele disse que, pra minha vida até então, eu tinha morrido. Eu entendo e concordo. Aquela vida que eu tinha, da forma que era, das prioridades, dos sonhos, essa acabou. E eu penso que estou recomeçando. Do zero, mesmo. É doido, isso!
                E é isso que estou vivendo, de forma geral. Eu estou num momento de reconstrução, de restabelecer uma estrutura que desmoronou com o tempo. Volto a fazer coisas que eu gostava, mas esqueci, até, como eram. Estou descobrindo outras formas de passar o tempo. Perdi o costume, eu acho, de muito do que eu fazia, do que ocupava meu tempo. Por exemplo, se eu não me mexer, acabo ficando muito tempo em casa. Não tenho mais aquela vontade toda de sair. Lembro que, se alguém quisesse fazer alguma coisa, qualquer coisa, era só me ligar. Já sabia a resposta. Na verdade, eu não conseguia ficar muito em casa. Ficava ansioso, procurando alguma coisa pra fazer. Eu era tão agitado, que me incomodava até de ficar no bar. Quando encontrava o pessoal no Samaro, não sossegava enquanto não convencesse alguém a ir pra alguma baladinha. Até ficar num bar, pra mim, era meio que perda de tempo. Eu falava muito: “meu, vai gastar uma grana aqui, gasta em algum lugar que tenha um som e tal...” Eu tinha até raiva do Samaro! Pensando bem, eu devia ser meio pentelho até... Os caras querendo tomar uma cervejinha tranquilo e o zé baladinha aqui botando pilha, né! heheh
Mas não acho essa minha... sei lá, acalmada, boa, nem ruim. Depende do ponto de vista, ué! Quando tem algum aniversário e eu estou meio de bode, sinto falta daquela energia toda que eu tinha. Eu chegava do trampo tarde, tirava um cochilo de uns quarenta minutos e saía. Ficar em casa e descasar, não fazia sentido. Mas, ao mesmo tempo, depois de tudo o que aconteceu na minha vida, tanta informação, é bom eu fica mais introspectivo, as vezes. Não dá pra absorver, e retomar praticamente do zero, saindo todo dia. Preciso ficar mais voltado pra dentro, mesmo, né!
                Eu não consigo ver, em mim, quase nada do que eu era. Sinto que, se eu tentasse agir daquela forma, seria forçado. Por isso que eu fico meio confuso. Me sinto bem com coisas que, em alguns momentos, não queria gostar. Quando decido uma coisa, muitas vezes fico pensando que não deveria querer assim. É como se eu tivesse mudado, de vez, mas ainda não absorvi essa mudança. Uma parte ainda funciona como antes, parece. Essa configuração parece incompatível comigo, hoje. E eu não sei direito onde começa a mudança e onde eu ainda sou o mesmo. E falando assim parece papo de doido. Mas é a forma de falar. Não é que eu não me reconheça nos meus atos, que seja controlado por uma força maior! Heheh Claro que não! É só que, as vezes, me dá essa sensação estranha, de estar rolando uma pequena disritmia, aqui. Sei lá, não sinto tudo naturalmente. Demoro a decidir o que fazer em coisas simples... É um querer ou não querer mais complicado de decidir. As vezes me dá vontade de algo e, ao mesmo tempo, eu me pergunto porque tive essa vontade. Vejo coisas que achava legal antes, mas agora não acho e me sinto estranho em relação a isso. Bom, é bem atrapalhado, mesmo. Acho que ainda não aceitei, totalmente, o que eu me tornei. Mas sem drama. Não no sentido de não me conformar. É que eu não entendi direito. Ainda. Mas claro que, numa conversa, eu estou lá, como o que eu sempre fui. Não virei outra pessoa. Quero dizer que não acho dê pra perceber essa minha anarquia interna! É, porque parece que, por enquanto, aqui dentro, ninguém é de ninguém! Heheh Sem piadinhas!
                Acho que tem a ver com o fato de só agora eu estar retomando, de fato, uma vida que ruma pra um padrão, algo mais normal pra minha idade. Na verdade acho que não tem a ver com idade. Essa epopéia não seria normal em nenhuma idade, eu acho. Antes, eu tentava sair, arrumar emprego, mas era tudo mais ou menos. Nunca estava integralmente em nada. Era sempre uma parte querendo viver e a outra apenas sobrevivendo. Só quando eu voltei pra casa, depois do transplante, é que todos os elementos da minha vida “aceitaram” seguir na mesma direção. E essa direção, finalmente, pode ser decidida por mim. E isso é animal! Agora, eu me preocupo com minha recuperação, sim. Mas isso não me impede de nada. Nenhum plano vai ser abortado, ou melhor, sabotado, por algum motivo triste. Eu posso não conseguir aquele emprego tal, mas vai ser por um motivo saudável: não me encaixei no perfil. Não porque tenho que ficar quatorze horas preso a um lance de nutrição.
Era com isso que eu sonhava a muito tempo:  frustrações normais, daquelas das quais a vida de qualquer um é feita. Sério, até disso eu sentia falta. Eu ficava pensando que seria muito bom poder me chatear com um não em uma entrevista, uma cerveja quente, um arroz empapado, uma fila de banco, uma vontade de comer alguma coisa e não saber o que... Enfim, não que eu sublime qualquer problema por ter passado por essa epopéia. Eu me irrito sim, claro. Agora mesmo, por exemplo, acabei de pegar um puta trânsito na marginal as 18h. Sem noção! Mas, pelo menos, eu posso comentar com alguém “nossa, sem noção esse trânsito, né!” E, percebendo ou não, faz bem desabafar, é como se você estivesse compartilhando um problema com a pessoa. Agora, com quem eu vou comentar sobre como é chato esvaziar uma bolsa, que sai de um buraco do estômago, dez vezes por noite!
 Além das dificuldades dos momentos em si, eu me sentia meio que um ET em relação a todo mundo. Dava uma sensação estranha. Era difícil ser tão diferente por fora, porque por dentro eu ainda tinha os mesmos anseios e medos. Só que eram desvirtuados por tanta barbárie que acontecia no meu corpo. Os problemas que todos têm, eu também tinha, mas não tinha tempo pra tê-los, na verdade.
E, ao mesmo tempo que eu não podia compatilhar com ninguém essas dores, eu também não queria passar as pessoas todo o sofrimento que era. Não por que eu sou super legal! Mas porque não adiantaria nada. Do que me serviria descrever detalhadamente tudo o que eu sentia de ruim, se ninguém tinha como entender? E outra, imagina alguém que você gosta te falando que não agüenta mais, que está muito difícil isso, e aquilo, e aquilo outro... Você vai ficar super mal, né! E, de mal, já bastava eu. Ao meu lado eu queria gente pra cima, com uma energia diferente da minha. Claro que não era sempre que eu conseguia. As vezes eu chorava, desabafava, xingava. Mas acho que eu fazia pouco, isso. Até porque, se eu fosse fazer toda vez que sentia, ia ser insuportável ficar ao meu lado! Ou seja, eu evitava isso, em primeiro lugar, por mim. Era muito ruim ver as pessoas sofrerem por minha causa. Gerava todo um ambiente muito pesado! Mas, por algumas vezes, eu acabei tendo problemas por causa disso. Sentia algum sintoma, mas ficava quieto. Não queria que ouvissem o alarme da bomba-relógio que vivia dentro de mim. Eu sabia que acabaria com qualquer momento minimamente agradável que estivesse rolando. E também, porque, dependendo do que eu estivesse sentindo – se não fosse algo “dentro das expectativas para o meu caso”, como bolsa ardendo, e outras coisas que eram mais do dia a dia – eu tinha que correr pro hospital. E eu estava de saco cheio disso. Como num sábado a noite que fui com a Jack ao cinema. Quando terminou a sessão, eu estava com tanta dor, por ter ficado sentado por mais de duas horas, que a gente foi direto ao Sírio pra eu tomar uma dose barbárie de morfina! Olha só que forma mais romântica de terminar uma noite de sábado com sua namorada! Imagina como a Jack ficou!
Eu sempre me senti muito mal por isso. Não era só o meu sofrimento. Era esse sofrimento das pessoas que eu amava causado por mim! A dor meio que reverberava em minha volta. Aliás, precisei de muita terapia pra lidar com essa culpa que eu sentia. Eu trabalhei muito minha cabeça pra conseguir não sofrer pela minha dor e pela dos outros. Não fui totalmente bem sucedido. Mas acho que consegui aliviar um pouco. Concluí que, assim como isso aconteceu na minha vida, aconteceu, de outra forma, na vida das outras pessoas também. O que eu tinha que lidar era com o meu sofrimento, o que eu sentia. E as pessoas tinham que lidar com o delas. Por exemplo: era muito difícil ver minha mãe passando por isso. Mas, por algum motivo, na vida dela aconteceu de ela ter um filho que quase morreu. Assim como, na minha vida, aconteceu de eu ter quase morrido. São dores diferentes, que, sem querer ser egoísta, cada um tem que lidar com a sua. Por mais que ela tentasse, não tinha como sentir a minha dor no meu lugar. E vice-versa. Ambos tentávamos aliviar a dor do outro. Mas não tinha como. Cabe apenas a mim entender porque tive que passar por isso. E apenas a ela, entender a sua experiência, também. Bom, mas isso é no papel. O difícil era por na prática essa “divisão de tarefas”. Na realidade, era uma bagunça na minha cabeça, difícil de organizar.
                Mas esse lance de eu estar mais caseiro, acho que ainda tem muito a ver com o processo de recuperação. É claro que estou bem mais fraco. Ainda falta uns 10 quilos pra eu voltar ao peso no qual me sinto confortável. Mas estou no caminho, fazendo fisio e indo a nutricionista. Cuido também da cabeça, com terapia toda semana. Acho que só quando eu estiver zerado, com as condições que eu considero ideais pra mim, que eu poderei ter uma noção do que realmente mudou aqui no meu universo.
                Ah, e agora vou por uma foto da Vovó Silvia com o seu netinho Cauê! É, meu sobrinho chama Cauê Consonni Gordon! É escocês, mas seu nome é bem brasileiro, de origem Tupi. Significa “homem bondoso que age com inteligência”. Legal, né? Esse moleque promete, viu!
Beijos
Vovó conhecendo o netinho!