sexta-feira, 1 de outubro de 2010

EPOPÉIA 3

E aí!

Então, amanhã tem uma consulta de manhã com o Dr. Lacerda, médico da equipe do Dr. Rodrigo. Parece que é de rotina, vai rolar uma vez por semana até a cirurgia. Já vou dar mais uma especulada pra saber em que pé que tá essa fila de espera!  
Hoje foi meio parado, a gente ficou por aqui mesmo, tranquilos. Mas amanhã a gente vai ver se agita alguma coisa quando sair do hospital... 
Lá vai então mais uma parte da epopéia! 
Bom, eu fui pro quarto né, na madrugada de 3ª. pra 4ª. feira. E eles já falaram que teria que operar. Não sabiam direito o que seria feito na cirurgia, já que os exames não permitiam ter muita idéia de como estava a situação exatamente.  
Na manhã seguinte apareceu o Dr. Amsterdam, o cirurgião do São Luis que iria me operar. Ele disse que a cirurgia seria ainda de manhã. A cirurgia foi rápida, umas 2 horas só. Eles abriram a barriga e viram que não dava pra fazer nada. Não tinha como tirar o tumor, porque ele estava agarrado às artérias que irrigam o intestino. E principalmente, tava em volta da artéria mesenterial, que é a mais importante. Não tinha como tirar o tumor, pois essa artéria não podia ser cortada. Como dizia o médico, “era imcompatível com a vida”. Ele falava isso toda hora. Então ele só tirou um pedaço do tumor pra fazer biópsia e ver o que era, se era benigno e tal. O resultado ficaria pronto em uma semana.
Logo após essa cirurgia, o médico foi até o quarto, como sempre acontece, pra falar como tinha sido. E aproveitou pra falar também que, pela experiência dele, ele achava que era maligno o tumor. Outro médico sem noção! Ele podia esperar o resultado do exame, que iria dar exatamente as características do tumor... pra que dar palpite? E ainda uma notícia dessa! Ele foi burro, se você for pensar... porque mesmo sem ser médico, qualquer um sabe que a característica do tumor maligno é que ele se espalha pelo corpo e rola metástase. Esse é o perigo de um câncer né, ele não cresce demais num ponto só chegando a 18cm. Essa é a diferença pro tumor benigno... que de benigno não tem nada né, é só uma forma de diferenciar um do outro! Ou seja, um cresce sem parar em um ponto, e o outro vai rapidamente se espalhando. Mas mesmo assim, é aquela história... o cara é o médico né! Você acha que quem tá viajando é você, não ele... independente das evidências. Imagina o estado em que esse palpite não deixou todo mundo até sair o resultado da biópsia...
Aí elas começaram a pesquisar pra ver o que fazer. É, porque não dava pra tirar, mas não dava pra ficar daquele jeito. Eu estava com muita febre, sentia muita dor, enjôo e tal. Aliás, foi aí a primeira vez que tomei uns remédios pesados pra dor. Morfina mesmo, era a única coisa que aliviava a dor. Mas não, não dava barato, eu não via duendes! rs Você fica meio aéreo, dá um bem-estar na hora, e logo você fica com muito sono. Então eu ficava meio grogue o dia inteiro.
Minha família começou a questionar se não tinha relação com o tumor que eu tirado das costas um ano antes, mas eles diziam, convictos, que não. Mesmo assim, meus pais foram atrás. Meu pai achou o exame antigo desse tumor das costas. Quando levou lá, e com o resultado da biópsia (era benigno né!) constataram que era o mesmo tipo. Era uma fibromatose agressiva ou desmóide (são duas formas de se referir ao tumor). Aí viram a relação entre eles, o que levou a conclusão sobre a Síndrome de Gardner, que é a causa. Essa síndrome é genética, uma disfunção no gene APC. É o seguinte: todo mundo produz pólipos no intestino, que são pequenas células que surgem bem pequenas. Aí esse gene controla esses pólipos, não deixa que surjam muito e tal. Então o normal é você ter um ou outro, tipo, uns 5. Mas no meu caso, esse gene não funciona. Então os pólipos surgem aos montes (milhares) e crescem sem parar, virando tumores.
Aí meu pai foi conversar com o médico que havia tirado o tumor das minhas costas (eu não lembro o nome), já que ele poderia ter visto que foi originado pela síndrome... e não preciso nem falar que isso evitaria muita coisa né. Aí o médico falou pra ele que me disse sim! Que me alertou que eu deveria tomar cuidado pois eu poderia ter outro! Cara de pau, meu! Sendo que, depois daquela cirurgia, eu voltei várias vezes no consultório dele, porque acumulava um líquido na região das costas onde estava o tumor. Eu ia lá fazer punção (que é tirar esse líquido com uma seringa). Fiz várias punções. Então o cara teve várias oportunidades de me falar sobre isso, mas não. Dizia que não tinha problema nenhum, que tirou o tumor e pronto, eu podia ficar tranqüilo, era só recuperar da cirurgia. Pois é, mais um médico ruim!
 Aí meus pais foram atrás de médicos que eles pudessem confiar mais. Chegaram ao Dr. Joaquim Gama, e ele falou que eles deviam chamar um médico vascular, que é especialista em artérias. Indicou o Dr. Lobato, que é um puta médico, muito respeitado. Ele veio e eles continuaram discutindo sobre o que fazer. Eles viram que o tumor inflamava bastante, e que era por isso que eu ficava com tanta febre e sentia aquela dor toda. Durante esses dias eu já não estava mais comendo, aí eles começaram a me dar nutrição parenteral. Como eu ainda não tinha o cateter, eles colocaram uma via de acesso no pescoço, na artéria jugular. Não pode usar uma veia do braço porque é muito denso esse líquido da parenteral, aí essas veias não aguentam.  
Uma semana depois da primeira cirurgia, eles decidiram fazer uma outra operação. E um dia antes, minha mãe encanou que o Dr. Amsterdam não poderia me operar de jeito nenhum, que ela estava com sentimento ruim e tal... Coisa de mãe! Aí o Du foi com o meu pai pedir pro Dr. Arthur Ricca, que era o chefe da equipe da qual o Amsterdam fazia parte, me operar.
Então na 4ª. feira o Ricca e o Lobato me operaram. Eles limparam, parece que tava bem infeccionado. Não é muito legal de ler, mas pra ter uma idéia da situação, eles tiraram 200 ml de pus de dentro do tumor. E foi só o que eles conseguiram fazer. Mesmo assim o Amsterdam queria tirar o tumor de qualquer jeito, independente de ser "imcompatível com a vida". O Ricca mesmo falou pra gente, depois, que teve que segurar esse maluco durante a cirurgia! Foda isso, imagina o tanto de paciente que o Amsterdam não operou como chefe na sala de cirurgia, sem ninguém acima dele! Já pensei muito nisso, sobre até onde vai essa responsabilidade, ou falta dela, de alguns médicos. Mas aí é outra história né, sobre os médicos ruins... conheci alguns né...
Bom, como não deu pra fazer muita coisa, essa cirurgia também foi rápida, durou umas 3 horas. Quando terminou eu fui pra UTI. Era aquela UTI coletiva, separada por cortinas. Não pode ficar ninguém de acompanhante. E visita era só duas vezes por dia, as 14h e as 21h, durando meia hora cada. Eu lembro muito pouco desses dias lá, porque eu tomava muita morfina pra dor. Aí ficava daquele jeito, dormindo muito e, nos intervalos das dormidas, não entendia muito o que tava rolando.

Valeu aí e um beijo!



4 comentários:

  1. Nessa tal madrugada de terça pra quarta não dormimos aqui em casa, rezando e esperando notícias suas, Billy.
    Pais como minha irmãzinha e meu "conhado" Luiz Augusto, o "doutor", são como você (ou vc é como eles? tanto faz...). Não desistem; não se dão por vencidos. E VENCEM.
    Um "continuem assim" pra vocês! (pensam que só a Jack sabe enviar 'códigos'?!)
    Muitos beijos. Tia Rosa.

    ResponderExcluir
  2. "Deus dá os maiores desafios pra quem pode enfrentá-los"!!!!

    Vai que é sua Renas...!
    Beijinhos pra vcs!
    Kamila

    ResponderExcluir
  3. E aí Renas!!
    Só passei pra falar que tenho lido seu blog diariamente, e faço um resumo diário pro Matheus. Estamos torcendo muito por aqui, Pacaembu te espera!! #vaicurintia! Bjs e se cuida, Dany

    ResponderExcluir
  4. Eita! "Relembrar, é viver"... Nessa parte que apareceu um vaso com uma orquídea?!!!!

    Um abraço, um beijo e um "raspa coco"!

    ResponderExcluir