segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

EPOPÉIA 6

                Bom, como não tenho mais novidades, vou voltar a escrever da epopéia, que faz tempo que eu parei. A última vez que escrevi foi antes da cirurgia, né.
                Eu parei no dia em que eu acordei do coma induzido lá né. Mas antes de continuar isso, preciso falar do que estava acontecendo na minha cabeça enquanto eu estava desacordado. Eu sonhei muito, mas em um nível muito profundo, a ponto de eu só ter descoberto que foi sonho, e não realidade, depois de um tempo, quando me contaram o que tinha acontecido de verdade. E ainda assim eu duvidei! Vai ser meio difícil escrever isso de uma forma clara, porque eu esqueci muita coisa, muitos detalhes, e a maioria das coisas eu não lembro a ordem com que aconteceram. Então, foi assim:
                Eu estava em casa. Aí, não sei o porque, mas ganhei um vale-pousada de algum amigo...que também não lembro quem. Valia um fim-de-semana em uma pousada em Juquehy, no litoral norte de SP. E eu fui. Essa pousada era uma pegadinha comigo, não era uma pousada e ficava uma galera numa mesa rindo de mim e tal. Eu não tinha onde dormir. E ficavam tirando uma com a minha cara. Pra todo mundo que eu pedia ajuda, riam de mim e me davam um tapa na orelha, uns empurrões, como se eu estivesse fazendo um papelão. E eu me incomodava muito com o que estava rolando, estava puto com tudo e tal, ninguém queria me ajudar... Aí eu resolvi sair correndo. Mas a pousada era bem na beira da estrada, da Rio-Santos, meio isolada. Voltei então pra pousada, pra tentar ajuda, mas não deixavam eu usar o telefone. A idéia era eu ficar o tempo todo lá, me ferrando. E o lugar era gigante. Eu corria pra tudo quanto era lado. Em todo lugar que eu achava alguém pra pedir ajuda, era a mesma coisa, a pessoa ria da minha cara e saía. Acho que fiquei quase um dia inteiro nessa pousada. Aconteceu um monte de coisas mais que eu não lembro mais. E eu estava preocupado, porque tinha que voltar logo pra casa. Eu e minha família estávamos com as passagens compradas pra ir visitar a Stella na Austrália. O detalhe é que ela mora no Reino Unido há mais de 10 anos. Nunca morou na Austrália!
Em várias partes desse sonho, é muito clara a conexão com o que estava acontecendo na realidade. Por exemplo, me contaram que nesses dias que eu fiquei em coma, eu tinha que ficar com aquela mascara de Bipap sempre. Eu já falei aqui sobre essa máscara de respiração, serve pra ajudar o pulmão. E ela é muito mais forte, é um furacão, uma pressão absurda de ar. Eu odiava aquilo. Mas, naqueles dias, era muito importante. Meu pulmão estava bem ruim. Mas eu ficava tentando tirar a máscara toda hora, não adiantava me falarem pra parar, eu estava inconsciente né, e toda hora tentava tirar a parada. Então os enfermeiros decidiram amarrar meus braços às grades laterais da cama. Mas, mesmo assim, eu ficava tentando me soltar. Quem estava lá fala que eu fazia muita força, usava os pés (que, depois, eles amarraram também), ficava me contorcendo todo, meio desesperado. E quando eu não estava com a máscara, eu tentava tirar os tubos que tinha no nariz, na boca... É, o que não faltava era tubo pra eu puxar! Heheh Mas, claro, não era uma cena muito legal de se ver, me disseram. E eles ficavam assustados e preocupados, porque eu estava muito fraco, precisava guardar minhas forças pra recuperação. Lembro do Daniel me falando que ficava impressionado, que eu chegava a fazer a cama se mexer, seus pés saírem do chão. Isso é um lance que não dá pra explicar, já que eu, nem estando zerado, na minha melhor forma (o que já não é lá muita coisa!), nunca conseguiria levantar uma cama daquela. Essas camas de hospital, pra quem não conhece, são muito pesadas, demais mesmo. Lembro que quando acordei, não entendi porque meus pulsos estavam tão machucados. Estava bem feio. Inclusive eu tenho até hoje umas cicatrizes no pulso esquerdo.  
Eu contei isso porque, em um momento do sonho, eu me vi em uma poltrona, numa parte aberta da pousada, com os meus dois irmãos e meu pai em pé, ao meu lado. Enquanto eu estava aliviado, eles estavam tensos. Estava relaxando na poltrona, pensando em quando iríamos embora e pensando porque estavam todos em pé e eu sentado. E toda vez que eu mexia o braço pra, sei lá, coçar o olho, o Daniel me segurava e falava: “não Rê, não mexe, calma, não faz força, você tem que descansar...” Dessa cena eu lembro direitinho. Eu ficava pensando “mas ué, só quero coçar o olho, estou bem!”. Mas eu não falava nada, ficava só pensando, não falava com eles. E eu ficava muito contemplativo com eles, só olhava e ouvia, era como se não fosse pra eu falar. De alguma forma aquilo fazia sentido.
Meu pai, também tenso, dizia que minha mãe já estava vindo com a tia Maria do Carmo (uma amiga dela que é como se fosse da família... né tia!). E eu pensava que era estranho, porque não vieram todos juntos... e porque elas estava indo até lá, porque esse drama todo?
Depois de acordado, quando contei essa parte, o Daniel logo lembrou dos momentos em que eu ficava querendo me soltar na cama e me contou. Aí a gente se ligou que, ali, eles se comunicaram comigo, mesmo inconsciente. O meu pai ter falado que minha mãe estava chegando com a tia Maria do Carmo, era porque não era permitido que ficassem mais do que três pessoas no quarto, e que minha mãe viria no próximo horário de visitas. Então eu fui percebendo que, em vários momentos desse sonho gigante, isso aconteceu, eles conseguiram “falar” comigo. A Jack conta que, às vezes, ela estava falando comigo e eu dava uma olhada pra ela. Na verdade não era bem uma olhada, ela diz que eu virava o rosto na direção dela, enquanto ela fazia massagem nas minhas mãos, que ela falava que pareciam um pão francês, de tão inchados que estavam! heheh Minha namorada né, pegou um pouco da minha criatividade! Heheh     
Bom, tem muita coisa nesse sonho doido. Não dá pra contar tudo de uma vez. Amanhã tem hospital cedo. É daqueles dias compridos, que tenho que tomar aquele remédio que demora e tal, então vou dormir. Mas dessa vez tive uma folga, a última vez que fomos lá foi domingo passado! Desde o transplante ainda não tinha ficado tanto tempo sem ir no hospital. Tomara que esteja tudo certo e eu só tenha que voltar daqui quinze dias! 
Então um beijo pra todo mundo e até mais!

5 comentários:

  1. reneeeeee!!!!!!!!!!!
    querido!!!!!! faz tempo que nao te mando um alo!!!!
    pra começar, que bom ter noticias boas, saber que vc ta se recuperando, comendo.... segundo, amei seu poema.. lindo!
    terceiro, to morrendo de saudade dos nossos papos!!!! aiiii precisava de uma daquelas nossas conversas...
    quarto: aproveita o frio!!!! é gostoso tb!!! sabe que esse no eu tava torcendo para o inverno chegar?? eu ja tava com saudade! claro que aqui nao faz -14, mas é bom tb fazer coisas de inverno de verdade...
    to em la coruña com meu irmao e meu pai, vamos fazer uma viagem pela espanha e portugal.. despois em janeiro vou para o brasil!!!! espero te encontrar por la pra uma praia!!
    meu irmao ta mandando um satoro!!! a gente vai tentar te ligar mais tarde ok??
    beijo enorme!!!
    cuidate!
    maria clara
    ps- vai curintiaaaa!!!!!! ahhhh tenho que confessar que agora ja sou meio barça tb!!! viu o jogo barça e real madrid??? show de bola!

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  2. Renas Billy,

    Tô reescrevendo pela terceira vez meu post de hoje... Eta trem complicado!!!

    Então, quero te dizer que acho bom, muito bom que vc tenha retomado a epopéia. Quase sugeri que vc o fizesse.

    Tbm quero saber se seu pai e o Du chegaram e como está a Santa da minha Irmãzinha. Mas isso eu falo com ela por e-mail.

    Vc se queixando do frio e a gente aqui torrando nesse calor insuportável. Verdade. Faz tempo que não passamos por um calor assim. O sol chega a arder na pele, Renas! Haja filtro solar e, ar condicionado ligado o tempo todo, é aquele susto com a conta da força.

    Dessa vez vou prestar muito mais atenção e enviar direito esse post. Beijãozão.

    Tia Rosa

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  3. Cara, isso tem que virar um livro!

    Desde quando você me contou essa viagem, fiquei espantado com esse lance do “link com a realidade”. É muito interessante, você estava “inconsciente”, porém, de certa forma, interagindo com as pessoas no hospital. Que “viagem”!!!
    Novamente você demonstrou habilidade na redação. Essa história é difícil de contar; escrevê-la então, nem se fala... Esse é meu primo!

    Muito bom saber que vocês receberão (ou receberam) “reforços”. O sentimento para nós “espectadores”, é semelhante a aquele que temos quando assistimos a um jogo de futebol, que já metemos 4 x 0 e aos 40 min. do segundo , o técnico efetua substituições e os craques saem aplaudidos pela torcida..... Sabe aquele sentimento de vitória, satisfação e um certo alívio? Pois é, é parecido.

    Agora é “tocar a bola” e esperar o apito do juiz!

    Bjão

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  4. Ah, "pãozinho francês"! Fico tão feliz com as notícias boas. Elas andavam distantes e agora é só festa!!!! Força aí, que pelo que você nos conta e perto do que já passou, tá tudo suave!

    Rê, você merece toda a felicidade do universo. E, "vai curíntia" - mesmo com o centenada! :)
    (Não agüentei!)

    Um beijo e um turbina.

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  5. Nossaaa Renas, eu não sabia desses sonhos...e dessa conexão com a realidade...realmente, impressionante!!!Continue contando pra gente...
    E concordo com o Pê, tem que virar livro.
    Que bom que vc está melhorando dia a dia...
    O tio e o Dú, já chegaram?
    Beijos de quem nunca te esquece!
    Fiquem com Deus.

    Ná.

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