sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ooooopa!
                Então, hoje faz um ano que eu cheguei nos EUA, para realizar o transplante. Um ano! Lembro direitinho como se fosse ontem... Ou hoje, já que é hoje que se completa esse ano, né!
                Eu estava pensando em o que fazer em relação a esse ano que completou-se hoje. Cantar “adeus ano velho, feliz ano novo”? Pode ser. Mas sóbrio, é difícil. E falar sobre aconteceu durante esse ano não faz sentido, já que está tudo aqui, no blog. Achei que seria legal, então, trazer o que se passou nesse dia, um ano atrás. Achei que assim estaria ilustrada, também, a grande mudança que rolou durante esse tempo. Pelo contraste entre esses dois 02/09. Isso porque, em 2010, esse dia foi cheio de chateações – pra ficar numa palavra menos dramática. Assim como eram meus dias nessa época. E agora, em 2011, estou aqui, escrevendo logo depois de comer um sanduíche do Subway. Normal, o sanduíche não tava muito bom. Mas estou aqui, fazendo minhas coisas. Minha maior preocupação é que, daqui a pouco, tenho que ir pra fisioterapia. E está puxada a brincadeira!
Mas voltando a 2010. Foi uma vitória por simplesmente termos chegado. Depois de um dia em que, enquanto organizávamos os últimos detalhes da viagem, eu me sentia meio aéreo em casa, sei lá, meio anestesiado, nós fomos ao aeroporto. Minha família, a Jack e a mãe dela, Regina. O frio na barriga começou a ficar forte já na hora de me despedir das pessoas. Estávamos todos meio preocupados. Ninguém sabia como eu reagiria ao vôo. E sabe aquela hora em que você entra pra embarcar, e fica vendo as pessoas do lado de lá, dando tchau? Então, antes tinha uma parede de vidro, você via todo mundo. Agora só tem uma brechinha, da passagem, pra você curtir a melancolia da despedida. Foi aquela coisa, anda um pouquinho e vai olhando pra trás, pra ver se eles ainda estão lá, dá um tchau. Olha pra frente, anda com a fila, e olha de novo pra trás. Mais um tchau e algumas palavras choradas, esquema leitura labial. Enquanto isso, a Stella ia explicando que a mochila que eu levava não era uma bagagem de mão e tal. E outras dúvidas dos bedéis do aeroporto. Que eram muitas, já que era uma situação meio diferente, claro. Minha mãe tentava ajudar, mas estava, talvez, até pior do que eu. E eu ia olhando pra trás, com a angústia de serem os últimos instantes que veria aquelas pessoas, por um longo periodo. E estava todo mundo tentando disfarçar a cara de choro. De certa forma, disfarçar tristeza não era nenhuma novidade. Sempre que estavam ao meu lado, as pessoas tentavam camuflar o sofrimento, desconforto até, que sentiam observando a minha situação. Eu sempre me ligava, mas também fingia que estava tudo bem. Era minha forma de retribuir o esforço, eu acho! E, naquele momento, o pior era que ninguém sabia ao certo o que iria acontecer, em que condições iríamos nos ver novamente, muito menos quando. Eu tinha certeza que veria as pessoas novamente. Mas sei lá, fica aquele medo de dar merda, né!
Quando passamos para a sala de embarque, eu fui para o canto com minha mãe, pra me conectar a nutrição parenteral. Já havíamos preenchido o tubo da bolsa antes de ir para o aeroporto. É bem importante isso, pois não pode haver bolha. Se tiver, a bomba de infusão começa a apitar... Aí já viu, né! E colocávamos uma extensão nesse tubo, que saia da bolsa de parenteral até conectar-se ao cateter em mim. Era pra ter uma margem maior pra eu me distanciar da mochila. Por exemplo, pra quando eu estivesse dormindo, poder me mexer um pouco mais na cama sem correr o risco de arrebentar o tubo. Até porque, muitas vezes, eu esquecia que estava preso e saía andando, pra ir no banheiro, por exemplo, e deixava a mochila no chão. Alías, isso aconteceu algumas vezes, de eu sentir um puxão no peito e “ops, a mochila!”. É, normal pra um lesado como eu, vai!
No fim, isso durou uns dez, quinze minutos, sentados nas cadeiras ao lado do guichê de embarque. Isso porque minha mãe estava ninja nesse processo. Fiquei meio constrangido de levantar a camiseta e tal, no meio de tanta gente curiosa. Um dos momentos em que me senti meio ET.
Fomos de classe econômica. Até porque já havíamos deixado as calças e as cuecas pra pagar o transplante! E como havia apenas um mês da minha última internação paulistana, eu estava bem fraco. As costas doíam. Nossos assentos eram um em cada canto do avião. Mas, durante o vôo, acabaria a infusão e eu precisaria desconectar. E não dava pra fazer isso sozinho. Aí, por sorte, uma mulher que estava ao nosso lado, percebendo a situação, se dispôs a trocar de lugar com minha mãe. Fiquei mais tranquilo. Mas foi só chegar o jantar que ferrou. Quando as pessoas ao meu lado abriram o plástico do marmitex de avião, subiu um puta cheiro de comida. Meu, na hora eu senti um enjôo absurdo. Corri – e lembrei, sim, da mochila - pro banheiro, mas tava aquela porra daquele carrinho da aeromoça no caminho. Aí vi uma das vantagem de ser magrelo. Sério, consegui passar entre o carrinho e as cadeiras. A aeromoça não acreditou! O foda foi o olhar das pessoas, assustadas do tipo “ih, esse moleque vai vomitar na minha janta!” E foi quase, mesmo. E pra quem está pensando “o que ele vomitava, se não comia nada?” Pois é! Eu vomitava suco gástrico e afins.
O resto da viagem foi apenas chato como qualquer viagem de avião. Ia, de tempo em tempo, esvaziar a borseta no banheiro. Imagino o que pensavam ao me ver andando de lá pra cá com aquela mochila. E ficava procurando uma posição confortável. É, porque sou magrelo, mas sou comprido, né! Aí pousamos em Miami. De lá seguimos pra Charlotte. E de Charlotte, finalmente, fomos pra Indianápolis. Acho que já falei sobre as aventuras na alfândega dos EUA. É, foi tão legal quanto vocês possam imaginar: “ah, nutrição parenteral... Posso ver?” Ao chegarmos ao hotel, eu nem acreditei. Um baita alívio.
De lá pra cá aconteceu muita coisa. Muitos percalços, como escrevi aqui no blog. Mas conhecemos pessoas incríveis. Aconteceram coisas incríveis. E agora vai ser assim. Esse furacão vai estar cada vez mais distante de mim. A parte difícil ainda provoca alguns reflexos. Mas estão cada vez mais fáceis de lidar. O que está se fortalecendo é o lado meio bonito dessa reviravolta. Essas coisas boas que aconteceram - sim, tem o lado bom, em tudo -  quero continuar cultivando. Sempre. E aprendi coisa pra caralho nesse ano que passou! Desculpe a palavra! E é isso, quero deixar a parte ruim disso tudo numa gaveta. E, de vez em quando, eu abro e dou uma olhada, pra me fortalecer em relação as dificuldades que aparecem. É aquele lance que eu já escrevi. É bom eu me lembrar desses momentos, quando penso em, sei lá, como estou mais magro, ou qualquer outra coisa que me incomode. É a parte boa dessa história toda: esse meu novo parâmetro, que eu vou levar pra vida toda.
E alguém pode pensar: “mas porque recordar dessas coisas tristes, e ainda escrever sobre elas?” Justamente pra deixá-las pra trás. Pra mim, escrever é a melhor forma de superar de vez. Tem gente que pinta um quadro, outros escrevem uma música, sei lá. Eu não levo jeito pra artes. Mas escrever é muito bom, uma terapia. Aliás, isso eu descobri também um ano atrás, quando publiquei o primeiro post desse blog. É isso, um ano!  

Um comentário:

  1. Vai Bambi!!!
    To na torcida aqui brother!!!!! Força ai!!!
    Seu time como sempre ganhando os jogos e titulos com aquele famoso "*" mas ta valendo!!!!

    Abração
    Guilherme Vitali

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