sábado, 22 de janeiro de 2011

Faaala!
                Então, ontem teve a consulta com o Rodrigo. Antes eu fiz exame de sangue pra ver se estava tudo certo e deu que eu estou bem. Não tem mais nada me rejeitando aqui dentro!
                Na consulta com o Rodrigo ele preferiu não tirar o tubo. Achou melhor eu continuar com a nutrição pra engordar mais. Marcou de tirar o tererê no dia 27. Aí, se eu tiver engordado e tal, já marca pra tirar a borseta! Claro que, chato como só eu sei ser, insisti bastante pra tirar tudo ontem, já! Mas não o convenci. Na verdade, ele me deixa tranqüilo, por ser bem sensato. Acho que, dessa forma, as coisas ficam bem acertadas, cada um no seu papel. Eu, como paciente, quero tirar tudo rápido, ter alta de vez e voltar pro Brasil o quanto antes. Então, encho o saco dele, sempre. Claro, não tem como ser diferente. E ele, como médico, acho que entende, mas só me libera quando eu estive zerado e não precisar mais de seus cuidados. E eu sei disso, por isso fico a vontade pra insistir toda vez.
                Ele falou que, por enquanto, as 1500 calorias que eu tomo durante a noite pelo tubo, ainda são muito importantes. Tem aquela conta que se faz usando o peso e a altura, pra ver se está acima ou abaixo do peso. Eu ainda estou abaixo. Mas estou quase lá... não no meu peso ideal, mas em um peso mais seguro. Tem que ficar esperto, né, senão os órgãos ficam bravos!
                E antes da consulta, eu sempre fico esperando em um banquinho no corredor. Dessa vez, um cara sentou do meu lado e, não entendi muito bem como, ele sabia que eu era brasileiro. Falou do Rodrigo e começou a contar a sua história. Como foi ser atendido e não terminou de contar, eu perguntei pro Rodrigo pra saber direito. Chama Jimmy, o cara. Em 2005, ele se meteu numa briga e tomou 27 tiros! É, só 27! Chegou no hospital quase morto, teve que tomar aqueles choques no coração e tal. O Rodrigo salvou o cara, fez um transplante de intestino delgado e beleza. Mas, dois meses depois, o cara foi preso. Fez umas tretas com drogas, não perguntei o que. Mas, o Rodrigo falou que conseguiu seguir o tratamento. O cara ia de tempo em tempo ao hospital, e ficou beleza. Ficou três anos preso. Depois que saiu, ficou sendo preso e solto. Me falou que, nos últimos 10 anos, tem sido assim. Ele perguntou se eu tinha tido algum problema depois do transplante, e eu contei da rejeição. Mas o que ele queria era contar o problema dele. Em Janeiro do ano passado ele teve uma rejeição irreversível e teve que tirar o órgão. Indignado, falou que um dos médicos lá não queria o colocar na lista para novo transplante. Eu não sabia o porquê da rejeição e concordei com ele que, se precisa de transplante, precisa de transplante, ué! Mas, depois, o Rodrigo me contou que isso aconteceu porque ele parou de tomar o Prograf, que é o remédio mais importante, aquele que provavelmente eu tenha que tomar pra sempre.
O cara estava bem, achou que não precisava mais se preocupar com isso e, por conta própria, decidiu parar. Imbecil, vai! Depois de quase morrer, sofrer pra caramba, o cara fica com preguiça, ou, sei lá, acha ruim ter que tomar uma porra de um comprimidinho e caga tudo! E me falaram que essa é a principal causa de rejeição e problemas mais sérios pós-transplante. O transplantado parar de tomar o remédio porque acha que não precisa mais. E o pior é que rolam muitas questões éticas nessa situação. No caso do Jimmy, não querem autorizá-lo a entrar na lista de transplante, pois ele foi negligente com o órgão que recebeu. É bem complicado isso, porque agora o cara está sem intestino, com uma bolsa de gastrostomia (como a que eu tinha, que sai do estômago), dependente total de nutrição parenteral e não tem perspectiva de transplante. Ele tinha acabado de ter alta do hospital, há 18 dias. Ficou internado o ano inteiro, desde que perdeu o órgão. Me falou que pesava 110 kg, e agora tava pesando 53 kg. O cara é da minha altura.
Enquanto estávamos conversando, passou uma enfermeira e parou pra perguntar se ele estava feliz por ter saído e tal. O cara falou que estava com medo, que no hospital ele se sentia mais seguro. A enfermeira ficou meio sem graça até, com certeza ela fez essa pergunta imaginando que ele ia estar empolgado, já que todo mundo, quer ir pra casa, e não ficar internado. Mas fiquei imaginando. O cara, se já foi preso tantas vezes, não deve ter uma vida muito fácil. E é complicado pra caramba essa rotina de parenteral e tal. Tem sempre o risco de infecção, não pode vacilar com o cateter. É bem perigoso, mesmo. Eu sempre tive minha mãe, todos os recursos, e mesmo assim foi muito difícil. Nem imagino como o cara faz. E provavelmente sozinho. Pelo menos no hospital não tinha ninguém o acompanhando. O Rodrigo falou que ele é boa gente, mas que faz muita besteira e se mete em roubadas! Tem só 34 anos! Agora está nessas, brigando pelo transplante.
E parece que a lei está contra o cara, por ele ter vacilado. É como se ele tivesse já tido a oportunidade, e depois abriu mão, desencanou de viver. E tem o lance da grana também. Vai muito dinheiro num transplante. Só pra pagar o sistema que procura o órgão (que inclui, por exemplo, avião de plantão pra qualquer lugar, a qualquer hora) são 150 mil dólares por paciente. A sorte dele é que o Rodrigo parece que vai comprar a briga dele. Falou que, se ele se mantiver na linha, esse ano ele o coloca na lista de autorizados a receber o transplante.
Eu estava lendo, esse lance de transplante é um assunto cheio de discussões. Por exemplo, tem países que brigam pra impedir quem precisa de transplante de fígado por causa de bebida tenha esse direito. Eu não concordo. Mas o fato de o cara ser ou não preso não faz diferença na hora de ele ser considerado para receber um órgão. Só faltava né, porque aí seria como se a pena do cara, no caso dele precisar de um transplante, virasse pena de morte, né!
Mas esse processo todo envolve muita coisa. Lembro que, antes da cirurgia, eu assinei um monte de papel. Não estava nem aí, assinei tudo. Um que eu não gostei é o que eles chamam de Living  Wills. Eu não sabia o que era. O cara disse que é um lance dizendo o que você quer que aconteça com você caso você morra, ou vire um vegetal. Você pode ou não preencher. Eu não quis preencher, nem a pau! Sai zica! Tirando que ainda não decidi pra quem vou deixar meus milhões, preciso pensar melhor! Heheh Aliás, eu queria saber, de verdade, se eu posso ser doador quando eu morrer. Acho que não, né? Mas sussa, quem vai querer os órgãos de um velho de 90 anos? É, porque eu já decidi, vou morrer com 90. Se bem que, se meus órgãos tem 17 anos, são 13 anos mais novos que eu... então, acho que dá pra ir até os 103! É, vou bater o recorde da minha bisavó Tereza! Se bem que, falando em vó, a mais legal era a vó Mariquinha, que eu, quando pivete, adorava ver escovando a dentadura. Achava genial: “nossa, ela tira os dentes pra escovar! Muito mais fácil!”. Mas eu nunca conseguia fazer igual! Ah, sei que não tem nada a ver com nada falar da vó Mariquinha aqui (que não é minha vó, acho que era irmã da minha bisavó), mas é que eu lembrei dessa história. rsrs Eu lembro direitinho de correr pro banheiro da fazenda pra ver, admirado, ela escovar os dentes! E ela ficava até meio sem graça, tadinha. 
É isso aí! Beijo pra todo mundo!

4 comentários:

  1. renato, que blz que os orgãos já são praticamente seus! esse cara que tomou 27 tiros, deve torcer pra algum time tipo o curinthias ne? rsrs

    abs.

    fe

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  2. Renasss,que bom que já tá tudo bem, e cada vez melhor!=)
    Estamos esperando vcs aqui...vamos conversar mto e ir pra cachaçaria depois (meu deus, que vergonha...nunca vou esquecer da cena do meu avô entrando lá pra me buscar!!!Me senti com 15 anos de novo!!rsrsrs)
    maior saudadee....
    voltem logo e dá um bjão na tia Silvia...
    bjão pra vccc...

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  3. Billy-Billy,

    Do vídeo do dr Rodrigo, vou fazer uma foto de 360 graus e encomendar um molde na Metalcury, do Paulinho. Uma estátua do Santinho vai ficar na Praça, perto do coreto. A outra (porque vão ser 2), no jardim da Fazenda do doutor... rsrsrs (tá vendo? já aprendi a risadinha internética!)

    Quanto à questão ética do transplante, é uma coisa muito séria, Rê. Ética e legal. Tem que haver exigência de respeito a esse processo. E aí entra a questão da impunidade...se o cara vê
    que tá fácil, que tudo bem se ele não cuida do que lhe preservou e devolveu à vida, se não respeita esse Renas...cimento, como vc faz, tem que, pelo menos, ter que sentar num cantinho e ser posto pra repensar, como se faz com criança que, por não obedecer, se expõe ao perigo. Grazadeus, como diz a Ká, você não precisa de castigo ou punição. Vc tem consciência e respeito pelo processo(muito difícil e doloroso), pelo qual passou.

    E VIVA O CORÍNTHIANS!!!!

    Renas, me conta: e aquilo da Chica Barriguda do Du?! É o que a gente tá pensando?! Conta, vai!!!

    Beijo. Um pra vc e um pra mamy-rãni. Dois pra cada um, vai! Com carinho e saudade Tia Rosa

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  4. Iuhuuuu!!!É nóis...!!!
    Nossa,que história doida desse Jimmy...desde os tiros até a rejeição dos órgãos,e o pior é que foi de caso pensado,né?Tem louco pra tudo!

    Mas,mudando de assunto,adorei a história da dentadura...kkkkkk...Bizarro!!!!

    Eu sou doadora de órgãos,sabia??Fiz até uma carteirinha,chique no úrtimo,mas tbm espero poder usá-la dentro de uns 320 anos...rss
    Mas,fiquei sabendo que posso me cadastrar pra ser doadora de medula óssea,e daí não preciso esperar,é só ir lá e doar!!!Bom,'só ir lá' não,primeiro preciso saber onde ir,mas vou me informar e depois te conto.Talvez nosso Dr.André possa nos ajudar,né Dé??

    Bom,é isso!!Tomara que no dia 27 vc consiga marcar a retirada da 'borseta'(ainda bem que vc é 'menino',já pensou se fosse menina e falasse "Ahhh,que bom que não tenho mais aquela borseta me incomodando...!!!!Ia pegar mal,né??kkkkk)!

    Bjks pra vc e pra Santinha!!Fiquem com Deus!!
    Kamila

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