quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Oooooba!
                Bom, novidade, só amanhã! Hoje ainda estamos na mesma! Na verdade, agora estamos esperando o pessoal trazer um carro novo. O que a gente alugou está zicado! Deu problema com a bateria, de novo! Meus pais foram sair hoje cedo e nada, o carro nem tossiu! E como foi a segunda vez que isso aconteceu, eles vieram aqui e levaram embora o carro. Agora vão trazer outro. O pior é que essa confusão toda um dia antes de a gente devolver o carro!
                Na segunda-feira, eu fui tomar o remédio lá no hospital. Aquele que eu falei, que era a última dose pra zerar a rejeição. E isso rola em uma sala grande, que é onde são atendidos os pacientes de transplante que não estão internados, como eu. A mesma sala onde esperei pelo transplante. E dessa vez a sala estava bem cheia. Eu sentei em uma poltrona pra esperar e tinha uma mulher do meu lado, tomando uma medicação por um catéter no peito, igual o que eu tinha. Aí começamos a conversar. Ela disse que já tinha usado também esse tubo no nariz igual o meu. Mas pra ela era mais complicado, parece. Disse que não conseguia dormir e tal. Eu consigo! rs Ela tinha feito transplante de pâncreas em dezembro de 2009. Eu contei qual foi meu transplante e tal, e a conversa foi indo. Nessas, tinha uma mulher do outro lado da sala, de frente pra gente. Ela estava acompanhando a filha, e entrou na conversa.
Eu já a tinha visto antes, naquela sala mesmo, e tinha me chamado a atenção. A filha dela, além do lance do transplante, tinha algum outro problema. A menina, que deve ter uns 18 anos, é bom miudinha, aparenta uns 12 anos pelo físico, e não fala. Fala com a mãe por sinais, e de um jeito meio agressivo, gestos meio bravos. A mãe dela começou então a falar. Disse que a filha tinha vivido por quatro anos sem dois terços do intestino delgado. Depois ficou mais quatro meses sem intestino nenhum, igual a mim. Não sei o que rolou pra dar nisso. E ela fez um transplante parecido com o meu, menos o estômago e o pâncreas, em março do ano passado. Acho que ela deve ter esse problema desde muito cedo, e não pôde se nutrir direito bem nas fases mais importantes do desenvolvimento. E isso impediu que ela tivesse a formação correta de vários lances físicos e mentais. É o que eu acho.
Eu sou bem observador, assim, não tem jeito, fico olhando em volta, imaginando as coisas... Essa menina ficava o tempo inteiro, mesmo enquanto dormia, mexendo com a perna, empurrando a perna da mãe, uma mulher bem gorda, de uns 40 anos. A perna da menina não parava um segundo. E ela não largava seu celular verde e brilhante. Mandava mensagens e quase pulava da poltrona ao ouvir o bip de uma resposta. E era impressionante, ela dormia com a perna empurrando a mãe, e a mão firme segurando o celular. E eu fiquei muito curioso, até por aquela menina ser a primeira pessoa que eu conheço que viveu sem intestino também. Mas não podia sair perguntando. Apesar de a mãe dela estar desesperada por uma conversa. Acho que ela devia viver em função dessa filha há uns 10 anos, e com isso se isolou e não tem muita vida social. Então, só quando ela vai ao hospital é que encontra pessoas.
Ela ficava falando e puxando papo com todo mundo. Mas sempre com a filha como assunto. Imagino que, talvez, ela nem tenha outro assunto, na verdade. Aí fiquei meio assim, será que a menina percebe ou nem se liga que a mãe fica falando dela pra todo mundo. E falava sempre com um sorriso no rosto. Um sorriso meio forte, contínuo e tenso, não entendi direito. Parecia que queria mostrar que estava bem, ao mesmo tempo que precisava desabafar, sei lá. Eu não entendia ela ter essa angústia, essa idéia de querer transparecer algo, pra pessoas que ela nunca tinha visto.
Claro que não tenho nada a ver com a vida dela, mas achei triste e pensei se ela não expunha demais a filha anunciando o que rolava pra quem estivesse por perto. Só que tem o outro lado, a vida da filha dela era a vida dela... então é complicado. Mas, por exemplo, eu não acharia legal minha mãe ficar contando minhas tretas pra todo mundo, gente que eu nem conhecia, comigo ao lado! Se eu não estou, tudo bem, claro, pode falar o que quiser, pra quem quiser... ainda mais se isso fizer bem pra ela. Mas, comigo junto, eu ia me incomodar, eu acho.
É difícil achar o caminho certo pra levar uma situação dessa. Você tem que se preocupar com todos os aspectos da saúde, mas não pode esquecer da relação com a pessoa, né. A cabeça fica muito frágil... vulnerável mesmo. É perigoso. Tem que tomar cuidado pra não gerar outro problema. E tem essa relação pessoal também, do dia a dia, a rotina. Pra ficar só na relação mãe-filho, não sei dizer o que é pior: ter uma doença que exige transplante, ou ter um filho com uma doença que exige transplante. Conheço minha mãe, ela com certeza preferia estar passando por isso ao invés de me ver sofrendo. Assim como eu agradeço que sou eu quem está vivendo isso, e não ela. Mas é tudo muito delicado, cada lado sofre de uma forma e tem que lidar com sua dor. Não tem jeito. E não dá pra comparar. Eu nem imagino a dor de uma mãe. E é foda, assim como eu não tenho como fugir, isso está acontecendo comigo, ela também não tem opção, é com o filho dela o problema! Na verdade, não, acho que quem não tem opção mesmo sou eu. Ela optou! Escolheu vir comigo, em todos os sentidos. Por isso que eu digo que ela que é a guerreira. Mas se você fala isso pra ela, ela diz “ah, mas eu sou sua mãe, Renato, que mãe não faria isso?” Mas não é tão simples assim, não. Eu acho que muita gente não tem a sorte que eu tenho. E das mães que tem a moral de encarar, muitas não devem dar conta! É, porque não é cuidar de um filhinho gripado, não! Tirando que, às vezes, eu fico num mal humor que eu não sei como ela aguenta! Nem eu me aguento! Só a minha véia mesmo!  
Mas voltando pra sala de espera. A mulher do meu lado, que fez o transplante de pâncreas estava esperando por um rim. E essa necessidade era por complicações nessa cirurgia. Eu perguntei se ela não tinha algum parente que pudesse doar, pra não precisar ficar na fila. Porque essa é uma vantagem do transplante do rim, já que temos dois e é possível viver tranqüilo com um só. O lance é achar alguém compatível e já era. Ela disse que o filho dela estava fazendo os exames pra ver a compatibilidade e tal. E aí aquela mulher entrou na conversa de novo. Olha a história que ela contou. Uma prima dela teve problemas sérios no rim por uns vinte anos, e precisava de transplante. Estava na fila, mas não achava doador. Uma irmã então se ofereceu e passou a fazer os exames pra ver se era compatível. Parece que é uma porrada de exame, a pessoa passa um tempo fazendo. No fim, deu que havia a compatibilidade necessária pra doação. Notícia boa né, legal. Aí, na hora de acertar as coisas e tal, a irmã vira e fala pra outra “É, mas a gente não se dava bem quando era criança, então porque eu vou te ajudar agora? Não vou doar, não!” E, depois de um tempo, sem conseguir doador, a mulher morreu! Sério! Barbárie, né?! E outra, além de ruim, essa irmã é doida né, fez todos os testes pra chegar na hora e não doar?!
E já que estou falando de pacientes e tal, tem um vídeo que o Rodrigo me mandou logo no começo, quando eu ainda estava no Brasil, agilizando a viagem. É sobre um cara que teve um problema parecido com o meu. A diferença é que ele teve um pouco mais de “sorte”. Chegou ao médico certo antes, logo que começou a ter problemas, então não precisou de transplante. Mas pelo o que eu li (a mulher desse cara fez um blog), se ele não operasse logo, provavelmente teria tido complicações maiores, parecidas com as minhas.
  E também, por esse vídeo, vocês podem conhecer o Rodrigo! De repente já dá pra ir tirando os moldes pra fazer a estátua! Heheh
É isso aí! Beijo pra todo mundo

3 comentários:

  1. Renas, por favor, de licença, mas esse comentário é pra Tia:

    Tia, um dos, na verdade, acho que o sentimento que mais admiro nas pessoas, é a gratidão. Nesse quesito, o Renas é nota 10, Né?!
    Já disse algo parecido antes, mas, tenho certeza que, se necessário, a Sra. faria tudo novamente para ver um filho são. Também tenho certeza que isso não será necessário. Mas, é impossível de imaginar o que a Sra. sente ao ver o Renas praticamente curado de um problema gravíssimo e saber que sempre acreditou e fez o possível e o “impossível” para que isso acontecesse. Parabéns!

    Renas, pode deixar que já estamos providenciando a estátua do Dr. Rodrigo. Sugeriram fazer uma aí nos USA também. Manhattan fica longe daí? Disseram que lá perto tem uma ilhazinha com uma estátua de uma mulher com uma tocha... o que você acha de substituirmos?

    Pe

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  2. é nois titio, tamo junto...
    muita calma nessa hora...
    E VIVA NOIS . VIVA TUDO . VIVA A CHICA BARRIGUDA .
    saudades de vocês aí,
    abção.

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  3. Olá meus amores!!!!
    Desta vez vou começar pelo final:
    Que história é esta de "Viva a Chica barriguda",hein,hein?????
    Cê tá pensando o que eu tô pensando????Tem algum serzinho à caminho???Pois se tiver,temos que comemorar,uai...!!!!
    Sr.Eduardo,explique-se,por favor!!!rss

    Mas,mudando de assunto,quantas novidades nestes últimos posts,né??Grazadeus ,agora tá tudo bem traveiz!!!
    Ultimamente não tenho conseguido ser tão presente qto gostaria,pois tô com dois moleques em casa(ainda bem que o terceiro trabalha o dia todo...kkkkk...tadinho)de férias,mas não deixo de dar uma espiada pra ver as boas novas!
    Continuamos na torcida Renástica,e esperamos claros esclarecimentos...rss...!!!

    Infinitos bjs e abraços,e fiquem com Deus!!!!
    Kamila

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