sábado, 15 de janeiro de 2011


Ooooopa!

                Então, os últimos metros da corrida aqui estão meio complicados. Não é só acelerar e mandar ver no sprint final. A estrada ficou meio ruim de andar. Mas estamos indo... devagar, já que temos que respeitar o ritmo do corpo.
                O que está rolando é o seguinte. Eu não consegui ganhar peso nessa última semana. Se engordei foi não mais que um quilo. Aí, na 3ª. feira eu fui ao hospital fazer exame de sangue, tomar o Cytogam e conversar com o Rodrigo. E também quis ver o que estava acontecendo, pois estava com a pele bem estranha, seca e com vários cravos, uns lances no olho. A minha mão também, estava com umas marcas vermelhas que parecia alergia. O Tony, que é um enfermeiro que faz tudo aqui, veio falar comigo. Faz vários procedimentos. Ele que trocou, e depois tirou o tubo de enteral, por exemplo. Ele veio falar que tinha marcado dermatologista pra mim às 11h e que ela iria fazer biópsia pra ver o que era.
                O Rodrigo também perguntou se eu tinha ganhado peso, mas engordei no máximo 500 gramas. Aí ele falou que eu teria que pôr um tubo de nutrição de novo, pois estava muito magro, que isso podia dar merda e tal... enfim, eu tinha que engordar logo. E, pra isso, precisava de muito mais caloria do que era capaz de ingerir.
                Na dermatologista, ela olhou e disse que, provavelmente, aquilo era causado por um dos remédios que eu estava tomando. Um pra não dar um tipo lá de pneumonia. Mas que já nem era mais necessário, e falou pra eu parar de tomar e me deu uma receita de uma pomada e um remédio pra coceira. Fiquei tranqüilo porque ela disse que não tinha nada a ver com o transplante, e que nem precisaria de biópsia.
Quando o Rodrigo ficou sabendo, achou estranho ser por isso e pediu uma biópsia, que o Tony, claro, veio fazer. Biópsia de rash, que é como eles chamar esse lance que parece uma alergia, é assim: o cara vem com um tubinho que meio que morde sua pele e tira uma camada do objeto a ser examinado. Mas você nem sente. Ruim é antes, quando ele dá umas 3 ou 4 injeções em volta pra anestesiar. O resultado sairia na 5ª. feira, mas ele já mandou aumentar o cortisona, de 2,5 pra 20mg.
Na manhã de quarta eu fui lá colocar o tubo. E como já tinha cicatrizado a barriga, tive que colocar pelo nariz. Muito ruim, meu. Não rola anestesia... O cara coloca um gel pra deslizar melhor lá dentro e manda ver! No nariz, pô! Heheh. A parada vai até o intestino delgado. O chato é que eu fico com um tubo pendurado no nariz. E incomoda porque passa pela garganta. Mas, pelo menos, durante a noite eu já tomei a nutrição, que é a mesma que eu tomava antes pelo estômago. Foi tranqüilo, só levantei mais vezes a noite do pra ir ao banheiro. Sussa, foi pra matar a saudade de uns meses atrás! heheh
Na 5ª. feira voltei lá pra ver com o Rodrigo o resultado da biópsia. O que rolou, na verdade, foi um princípio de rejeição dos órgãos. Mas ao contrário. Ao invés de eu rejeitar os órgãos, eu fiquei fraco e os órgãos, que estão bons, começaram a me rejeitar! Tem um nome isso, mas eu não lembro. Doido isso né, porque os remédios que eu tomo são, a maioria, pra tirar a minha aos órgãos. Aí o Rodrigo ficou sério. Já fiquei lá no hospital pra tomar uma dose de cortisona na veia. Vou tomar todo o dia até 2ª. feira. Esse é o tratamento. Tomei hoje de manhã de novo a dose lá, e já fez efeito, deu pra sentir uma diferença. E o fato de eu não estar comendo já era devido à rejeição. Não era tanto da cabeça!
Essa, pra mim, foi uma notícia boa nessa zica toda! É, porque mostra pra mim que não estou tão atrapalhado quanto achava. Tanto que, desde ontem, estou comendo melhor do que estava antes. Mesmo com esse tubo na garganta. E sinto mais bem disposto e tal. Agora vou ficar com esse tubo até ganhar uns quilos, suficientes pra tirar o borseta. É bom também  porque agiliza essa engordada logo. E quando tirar o tubo vai ser bem mais fácil voltar a comer. Vai ser igual a história dos bodes que a vó Chafia contava. Ou era o vô Aiçar? Que tinha uma menina que reclamava com a mãe que a casa era muito pequena. Aí a mãe foi lá e colocou um bode no meio da sala. E perguntou pra filha como estava agora. “Ah, nossa, agora piorou! Que horrível”. A mãe foi lá e colocou mais um bode. “Ah, agora tá muito ruim, não dá”. E ela colocou mais um. A filha reclamou mais ainda, claro. Depois a mãe tirou um bode. A menina “Ah, tá menos ruim”. Tirou mais um. “É, melhorou um pouco agora”. E quando tirou o último bode, “Nossa, agora tá ótimo, essa casa é muito gostosa, olha que espaçosa e tal”. Heheh, boa né? Mas o legal é a minha mãe contando, com calma e saudosa. Mas então, com o lance do tubo de nutrição é a mesma coisa, vai ser um alívio muito bom comer sem aquele troço na garganta. A volta do prazer de comer... eu acho!
E a dermatologista, maior sem noção. Não pede nenhum exame e dá o diagnóstico errado! Pra ver que médico ruim tem em todo lugar né... se bem que essa foi a primeira que eu conheci aqui. Mas ainda bem que o Rodrigo se ligou. Na hora que eu falei o que a dermatologista disse ele já desconfiou e pediu a biópsia. Agora é sussa, tomara que eu engorde logo. Vou me pesar na 2ª. feira, quando acaba esse tratamento... vai que já engordei e posso tirar o tererê do nariz e a borseta da barriga!
                Ah, foram dias corridos, tensos... com muita informação. Mas agora me vejo mais tranqüilo do que antes de começar essa semana. Antes eu estava meio preocupado porque não melhorava. Eu me esforçava, mas não era suficiente. Agora eu sei o que estava acontecendo, estamos resolvendo e eu já me sinto melhor. Ou seja, as coisas estão sob controle.  Eu to mandando ver nessa nutrição, são duas mil calorias por noite que eu tomo na parada! Mais o que eu como, devo engordar rápido... espero. E serviu também pra eu ficar esperto. O negócio não é brincadeira. É, porque só esse comecinho de infecção já me deu uma quebrada forte. O Rodrigo disse que quando vai pro corpo inteiro essa “alergia”, aí é um abraço, não tem mais jeito. A minha pegou as mãos e o rosto, só. Ah, e minha mãe, que está sempre pensando em alguma coisa, tava preocupada com um e-mail de Agosto, o primeiro que o Rodrigo nos mandou, em que ele diz que 95% dos pacientes voltam a ter uma vida produtiva, normal. E ela queria saber se eu estava nos 5%. E ele disse que não, que estava tudo certo com os órgãos. Que quando estivesse tudo controlado, eu ia embalar e pronto, já era! Não que eu achasse que pudesse ser um dos 5%, mas é sempre ouvir do médico, né! Ouvir coisa boa não incomoda! É igual ouvir eu te amo da mulher que você ama, né! heheh Viu Jack, como eu sou romântico!
                Mas é isso aí, entre mortos e feridos, salvaram-se todos! Mas sério, o que eu me liguei com isso foi que o corpo avisa. Qualquer coisa que acontece, na hora ele reage. O lance é aprender a ouvir seu corpo, a ler esses sintomas e tal. Por isso, também, que médico tem que ter tempo de estudar. Sempre, mesmo depois de formado. Essa é a diferença dos médicos daqui, pelo menos os desse hospital. O Rodrigo sempre falou: aqui, ou eu estou fazendo transplante, ou eu estou pesquisando e estudando sobre o assunto. Há 11 anos. Por isso que ele bateu o olho e já matou o que eu tinha. Já no Brasil isso não rola, eles não dão a estrutura pro cara se focar nisso. No hospital privado, onde tem grana e estrutura física, não tem a garantia de um salário. O cara tem que fazer várias cirurgias de apendicite, por exemplo, pra tirar uma grana. E no sistema público tem a estrutura de salário que permitiria o estudo e evolução do médico, mas não tem os recursos, os aparelhos e tal. E o salário do médico no sistema público é aquela coisa. O lance é uma mistura dessas duas realidades, né. O Einstein com o HC! E, vendo a diferença, o que essa cirurgia é capaz de fazer nos dois países, fica claro que esse é o caminho. E nem se gasta mais dinheiro pra isso. É só gastar certo... planejamento, ué!
            E outra coisa: como ninguém lá no governo deu um jeito de trazer o Rodrigo pro Brasil! Os caras já gastaram uma nota, porque a justiça mandou eles pagarem vários tratamentos aqui nos EUA, por que o Brasil não faz. E só aí começaram a ficar preocupados. Mas não com a saúde de tanta gente que precisava vitalmente do transplante mas não tinha como vir pra cá. Essas pessoas tinham duas opções: ou morrer na mão de um médico despreparado, como uma cobaia mesmo, ou morrer devido à doença que exigia o transplante.
                O governo, preocupado com os altos custos dessas viagens de quem tinha recursos de ir brigar na Justiça, começou a se mexer pra começar a oferecer esse tratamento por aí. Inclusive, se você der um Google em “transplante de intestino”, vai ver que um monte de site especializado deu muito destaque para a notícia veiculada no Diário oficial, no fim de 2009, dizendo que Brasil estava preparado para fazer tranplantes de intestino. Provavelmente começaria no início do próximo ano, 2010. Então começaram a preparar a equipe. Mas é muito complicado, complexo, pois é o tipo em que o controle da rejeição é uma equação difícil de dar certo. Começaram a mandar médicos pra cá pra aprenderem as técnicas e tudo o mais. A maioria vem fazer estágio com o Rodrigo, mesmo. Eles vêm e ficam, no máximo, uns 3 meses. Tem us que ficam 1 semana! Mas meu, o cara mexe a 11 anos com isso, e os caras querem aprender, fazer igual a ele, com uma semana, três meses? É a mesma coisa de um cara querer passar uma semana comigo e achar que vai virar um grande anedotista! Não é assim, tão simples! Heheheh
                Mas o lance é que eles gastam muita grana errada. Mandar esses médicos todos pra cá, pagar todos esses tratamentos que eles perdem na justiça... vai dinheiro pra caramba. E o pior é que o cara que mais entende disso, talvez no mundo, o Rodrigo, é brasileiro. E se fizessem uma proposta de verdade, oferecendo a estrutura necessária, duvido que ele não aceitaria. Aposto que ele voltaria pro Brasil pra começar a fazer aí. Ele está aqui por que é aqui que ele tem as condições pra fazer o que ele sabe. Mas ele sabe o tanto de gente que precisa desse tratamento, e aqui o pessoal já pode se virar sem ele, eu acho. Mas não, a galera aí parece não estar muito preocupada.
               O que dá raiva é que colocaram em tudo quanto é canto que vai começar ter esse transplante no Brasil e tal, e deixou um monte de gente cheio de esperança. É triste isso, bem triste, porque, pelo que parece e o que falam aqui, vai no mínimo uns 10 anos pra rolar essa mudança de estrutura que precisa, e, principalmente, a mudança na mentalidade da medicina, pra permitir essa evolução dos profissionais, que são fatores essenciais pra  poder oferecer esse tratamento. Outra coisa que atrapalha também é colocarem muito político pra comandar a saúde, né. Os caras tem outra visão, se preocupam com a imagem do ministério que comanda, às vezes gastam até mais com comunicação que fazendo o que interessa mesmo... é, é aquela beleza que orgulha tanto a gente né! Politicagem com cargos tão importantes é foda. Mas aí, vixi, é outra conversa... vai longe, mas vou parar por aqui porque tá tarde e acho que escrevi demais!
                Valeu por ter lido até o final! Heheh
                Beijo pra todo mundo!

5 comentários:

  1. Rene,força na reta final. Ta quase lá.

    Vai curintia!

    ResponderExcluir
  2. Cara, temos que fazer uma estatua em homenagem a esse Dr. Rodrigo. O que você acha de arrumarmos um lugarzinho lá no R.J. perto do Pão de Açúcar? Pode não ser muito original, mas o cara merece um lugar de destaque, ne?
    Se o "corpo fala", ainda bem q esse brazuca é poliglota!!!

    Já foi dito várias vezes q você escreve muito bem, mas dessa vez vou fazer uma crítica. Você deveria ter começado esse post com algo do tipo: "agora ta tudo bem, mas...". Li ontem de madrugada (pelo celular), não leio muito rápido e para ajudar, a luzinha do celular apagava toda hora... Que ansiedade do c... para saber o que realmente estava acontecendo.

    Como sempre, você vendo o lado positivo de tudo e sempre otimista. É isso ae, tamo junto!!! A comparação do “tererê do nariz” com os bodes na sala, foi perfeita. Além disso, legal mesmo saber que o “lance da fome” não é coisa da sua cabeça.

    Temos certeza que essa enteral vai dar um gás no ganho de peso e retirada da borseta. Ah! Já estava me esquecendo; ainda encontrou tempo para fazer uma moral com a Jack. (esse é meu primo!!!)

    Mande notícias (com mais freqüência desse vez)

    Bjão,

    Pe

    ResponderExcluir
  3. mano, hj o timão ganhou de 2x0. Quando vc voltar a gente vai ta ganhando a libertadores!

    Abs!

    Fe

    ResponderExcluir
  4. Realmente, Rê, não se vira um anedodista assim tão facilmente; eu mesma, com três anos de estágio intensivo, ainda não consigo contar a piada do baço tão bem quanto você! :) E olha que conto pra todo mundo que pergunta de você e dos seus muitos novos órgãos...

    E fica atento, né, cabeça! Sempre falo que com você, qualquer pinta que aparecer diferente, tem que ver logo o que é. Da última vez que você estava só com gastrite, deu no que deu!!!! É... Deu certo no final, mas pra que remediar se a gente pode prevenir?

    E pra não escrever demais: eu te amo mesmo e muita gente mais te ama muito também... E torce por você. É difícil não se encantar com essa pessoa linda e inspiradora que você é, Rê. Força e faz um boneco de neve, pelo menos...

    Um "contempla". Saudade.
    Jack.

    ResponderExcluir
  5. Renas Billy queridão,

    Ler teus posts é sempre chorar e rir; melhor: é rir chorando, chorar rindo, tudo junto e misturado. Mas o RIR sempre ganha. Haja coração! Mas duma coisa esses seus 3 anos me deram certeza: meu coração não é frágil como o de seus avós. Pra aguentar cada tranco assim, MEU CORAÇÂO É CORINTHIANO, RÊ !!!!!!!!!!!!
    Esse seu último post vem só confirmar essa certeza, desde tuas palavras, passando pelos comentários e arrematando com a Jack e seus "Três anos de estágio intensivo".

    A Jack e você são dois sobrinhos muito queridos. Beijos, muitos; e todo meu carinho.
    tia Rosa

    ResponderExcluir