quarta-feira, 28 de setembro de 2011

EPOPÉIA 20

Faaaala!
Então, eu vou continuar a contar a epopéia. Eu coloquei no último post, a “versão” da Stella sobre o momento que eu estava falando. Não podia deixar de publicar, né! Mas vou continuar do ponto que eu tinha parado, pra manter minha sequência. Assim fica mais fácil pra eu me organizar, sei lá! Então beleza...
Ao se confrontarem com essa opção, de tirarem tudo o que o tumor tinha atingido, eles acharam por bem me acordar. Afinal, pra uma decisão como essa, eu teria que participar, pensaram. Eu entendo. Minha família achou que seria mais fácil, que teria como me trazer de volta a consciência. Mas não rolou. Ao tentar fazer isso, eu demorava muito, e não tinha forças. E rolava aquilo que a Stella descreveu. Eu não tinha condições. Essa volta de sedação/meio coma induzido, é bem sofrida. Tem abstinência dessas drogas que te capotam. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha condições de enfrentar a cirurgia. Acabou que eles desistiram da idéia de me trazer de volta, pra essa “consulta”. E também, o que eu tinha pra decidir? Era tirar o intestino ou deixar o tumor lá e eu empacotar! E mesmo que, em um momento de desespero/saco cheio/depressão, eu falasse que não queria fazer a cirurgia, que preferia a outra “opção”, alguém aceitaria? Claro que não! E logo depois, eu tive uma leve melhora no meu estado clínico, mas bem de leve mesmo, e eles resolveram arriscar a cirurgia. Eu imagino que, mesmo sabendo da situação, devem ter rezado muito pra não precisar tirar o intestino inteiro. Mas não deu. Acabou que, além do intestino, foi extraído um pedaço do pâncreas e metade do estômago.
Passado algum tempo da cirurgia, não sei ao certo quanto, eu comecei a retomar a consciência. Mas não fazia idéia do que tinha rolado. Na verdade, eu não sabia nem que tinha ido pra cirurgia. Eu estava tendo minhas viagens, em outro nível de consciência. E dessa vez, o que rolou na minha cabeça não foi tão absurdo, como da outra vez, em que eu viajei pelo Brasil inteiro! Foi mais ou menos assim o que eu vivi no meu sonho: A Stella estava vindo para o Brasil nos visitar. E a gente ia fazer uma brincadeira com ela. Quando ela chegasse, eu ia fingir que estava internado no Sírio. Antes, o Daniel ficou uma semana internado, também por brincadeira. Não me lembro qual era a graça da nossa idéia. Mas no sonho fazia sentido e era maior legal! O plano era eu ficar dois dias internado. O Sírio, no sonho, era do lado do aeroporto de Guarulhos. Então, a Stella chegaria e eu estaria lá! E, repito, não lembro qual era a sacada. Só sei que deu tudo errado! Quando a Stella chegou, o combinado com o Sírio era eu ser liberado logo depois. Mas aí não conseguíamos a alta. Sempre iam atrasando, falando que o enfermeiro responsável não estava naquele turno... O médico estava vindo... Iam enrolando a gente. E o clima ia pesando. No começo, só o Daniel e o Dudu entravam no quarto pra falar comigo. E eu via, através das portas translúcidas do quarto (só no sonho era assim!), minha família brigando. Meu pai estava puto e falava: “eu voltei a fumar por causa disso, seus irresponsáveis!” E chamavam vários médicos diferentes, xingavam, e nada. “Ele já ficou muito tempo internado, vocês não sabem o que esse menino já passou!” eram umas das frases em meio a discussão! Lembro que aí foram buscar a Jack pra ajudar a convencer a me liberarem. A idéia era mostrar o sofrimento da minha namorada, sei lá. Não adiantou. Depois veio a Stella. E ela estava puta da vida, pois acho que já tinha voltado pra Glasgow, e teve que voltar por causa disso! Depois apareceram os pais da Jack pra brigar. Depois os pais da Andrea, minha cunhada! Foi uma barbárie! E eu ficava ouvindo as discussões.
Mas era, sei lá, engraçado, que ficava todo mundo, minha família, me enrolando, dizendo que não tinha ninguém lá fora, que estava tudo bem. E eu fingia que acreditava! Mas o lance é que eu fui ficando ruim, já que não me liberavam, e eu estava deitado o tempo inteiro, sem comer e tal. Aí o bicho pegava do lado de fora do quarto. E minha mãe ficava toda se sentindo culpada. Ela não se conformava de ter me deixado fazer essa bricadeira. Antes, a gente ficou pensando que eu iria ficar internado na brincadeira e, a princípio, não era pra eu ficar de jeito nenhum. Mas no fim foi indo, foi indo, e acabou fondo! rs Meu, eu estou tentando lembrar, porque fazia sentido, era legal nossa idéia. Mas não tenho noção do porque!
Como eu fiquei ruim, resolveram me manter internado. Eu fiquei puto, pois estava a alguns dias pedindo pra assinarem a alta, pra pararem com a brincadeira! E tinha um lance estranho. Eu não conseguia engolir saliva! Mas no sonho não tinha nada na minha boca. Claro que, fui descobrir depois, nessa etapa do sonho, eu estava com aqueles tubos gigantes na garganta e tal, por causa do pulmão. Mas o que eu vivi foi que eu não engolia a saliva, não conseguia, e ia acumulando na minha boca. Meus irmãos entravam e falavam “Vai Rê, é só se concentrar, vai!” Mas não rolava! Lembro que a Stella entrou e disse “Ah, vai, pára com isso, não tem nada aí pra você engolir, isso é coisa da sua cabeça!” Eu ficava bravo com a Stella, e tentava brigar, mas só saía resmungue! Eu não conseguia pronunciar uma palavra de forma compreensível. E na hora que eu conseguiria engolir a saliva, no sonho, eu não o fazia, só de birra! rs Não queria que ela achasse que era frescura minha, e que eu tinha parado de fazer manha porque ela tinha me dado bronca! O lance de saliva foi virando o enigma do momento. “Porque ele não consegue?!” E tome exames! O tempo ia passando e eu não saía do quarto. Uma hora, virei pro Daniel e falei, puto “porra, estamos aqui a mais de três dias, e não me liberam!” E o Daniel “Não Rê, não é tanto assim, são – sei lá – vinte horas, apenas” Eu não acreditei e ele me mostrou o relógio da tv. Aí fiquei quieto!
E teve, também, uma treta com os médicos e enfermeiros. Eles – na minha cabeça – estavam reutilizando uns materiais. Era um lance que todos no hospital faziam, todos sabiam e não pegava nada, mas que acabou sendo descoberto. Então, um enfermeiro intimava o outro, pagando de honesto, mas eram todos do mal! Tinha algum esquema de cadastro de sistema, que “denunciava” de quem foi a falha, quem tinha reutilizado a agulha. E a partir do momento que alguém da minha família acusou, começou uma caça às bruxas. Chamaram a chefe das enfermeiras no meu quarto, confrontaram ela com os médicos. Deram um baita esporro e ela começou a ser minha enfermeira diretamente. Quando eu apertava o botão pra chamar uma enfermeira, elas fugiam. Ficavam com medo. Falavam pra mim “ai, sempre fiz tudo com tanta atenção, agora me questionam!” E quando entravam no quarto, diziam “ah, você é o Renato Consoni, aquele paciente encrenqueiro?!” Aí, o que aconteceu foi que todas as enfermeiras fizeram um treinamento intensivo, e boa parte das antigas foi mandada embora. E eu virei o paciente mais famoso e complicado do hospital. Mas lembro que, na minha primeira internação, ainda no São Luiz, em 2008, eu também fiquei famoso. rs Eu era chamado de “o louquinho da UTI!”. Mas não lembro se era viagem minha, ou se me chamavam assim, mesmo! No caso que estou contando agora, era parte da minha viagem. Eu acho!
E paralelamente, tem as coisas que aconteciam de fato, enquanto eu estava inconsciente, a babar, mas que eu só fiquei sabendo depois, quando me contaram. A mais barbárie foi a história da enfermeira do batom vermelho. Meu, acho que essa foi a pior desses três anos! Eu passei uns dias sedado, entre o momento em que a infecção virou sepsemia e a hora da cirurgia. Fiquei meio indo no banho-maria, sem ter qualquer reação a qualquer coisa. E eles falam que tinha uma enfermeira muito estranha, loira - amarelo feio -, que andava com o batom no uniforme. Ela retocava o batom a cada cinco minutos. E usava um perfume muito forte. Claro que quase não chamava a atenção! Aí, em uma das noites, ela ficou responsável por mim, na UTI. Não dormia ninguém comigo nesses dias em que eu estava “longe”. Na manhã seguinte, o Dudu e a Jack foram os primeiros a me ver. Falaram que, ao chegar, eu estava sozinho, e com marcas de batom no corpo inteiro! Sério! Na bochecha, no pescoço, na barriga... Juro! De verdade! Meu, muito barbarie! Eu lá, podrão, todo inchado de cortisona, com tubo na boca e onde mais você possa imaginar - não, lá não! E a mulher na barbárie! Sei lá, mas meio sinistro, vai! A mulher tem tara por pessoas em estado quase fim de carreira!  E ela era toda cuidadosa, amiga da minha família inteira, da Jack também! Ah, antes que alguém pense... Não, não era nada que pudesse chegar perto de ser chamada de bonita. Em nenhuma hipótese, nem com muito amor no coração. E o pior é que, depois, em uma das minhas internações de 2010, me mostraram quem era a louca! 

Mas enfim, era isso que estava rolando, na minha cabeça e fora dela, nos momentos que antecederam a cirurgia. Até que – no meu sonho - entraram no quarto me falando que o lance de eu não conseguir engolir saliva era um problema grave, e talvez fosse necessária uma cirurgia. Então, como eu estava dizendo antes de contar os sonhos, eu acordei da cirurgia sem ter a menor noção do que tinha rolado, de fato. Estava achando que tinha ido fazer um procedimento simples, pra corrigir um refluxo, ou algo do tipo.
Então é isso! Depois eu continuo! Espero que não tenha ficado muito confuso! É que foi isso que rolou, uma grande confusão, mesmo! E é difícil colocar isso de uma forma mais compreensível, mais linear, sei lá... E olha que eu revisei umas cinco vezes esse texto pra deixar ele melhorzinho ...
Beijo e abraço pra todo mundo!

Um comentário:

  1. uau! de mais acompanhar essa epopéia- principalmente sabendo que vc está bem.
    este teu post daria um ótimo filme!
    ah, vi noutro posto sobre a reunião que não rolou com os médicos sem fronteiras( um dos trabalhos mais legais que eu já vi).
    visitei a sede dos reporteres sem fronteiras e dos médicos sem fronteiras qundo fui a paris. o trabalho dos caras é fantastico... tomara que novas oportunidades de conhecê-los de perto aconteçam e vc conte para a gte por aqui!
    bjs

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