terça-feira, 20 de setembro de 2011

EPOPÉIA 18

Opa!
                Então, como não tenho nenhuma novidade assim, mais interessante, vou continuar contando a epopéia. Eu parei na época do réveillon, de 2008 pra 2009. Eu tinha tirado metade do intestino, 90 cm, uns dois meses antes. Logo, foi uma aventura essa viagem. Quando voltei, estava razoavelmente bem. Muito magro, mas com energia e tal. Continuava tomando Glivec, e nada de o tumor se incomodar. Lá pra julho foi quando eu fiquei melhor. Entrei num acordo com meu corpo, entendi o que ele precisava, cheguei ao meu peso antigo... Tudo bem. O ano de 2009 foi um eu passei praticamente todo sem ser internado, eu acho. Acho que, até novembro, foi o melhor ano da epopéia. Nem lembro de ter tido uma internação. Eu até comemorei isso. Falava pra todo mundo: “sabia que faz um ano que não faço cirurgia?!” Pra mim, era legal falar, sempre ouvia um “aeeee, agora acabou!!!” Eu adorava dar notícias boas. As pessoas vibravam comigo e tal. E eu ia tentando retomar a vida, fazendo minhas entrevistas de trabalho... Cheguei a ir pro Rio, pra uma entrevista com os Médicos Sem Fronteiras. Pra trabalhar com captação de recursos, que é o que procuro hoje. Ia ser animal se tivesse rolado! Mas, por tudo o que aconteceu depois, não era pra ser. Ainda.
                Em novembro, vieram, da Inglaterra, dois amigos da Stella. Era o John e a mulher dele, que não lembro o nome, acho que era Neha. Ela era do Quênia e ele, inglês. Eles iam fazer um mochilão pela América do Sul, e a primeira parada era São Paulo. O réveillon eles passariam em Copacabana! Assim, eu adoro o Rio, Copacabana. Já passei um réveillon em Copacabana, e pretendo passar outros. Mas os dois não eram agilizados, de se virar e tal! Não tinham noção da barbárie que é a virada, lá! Achavam que iam curtir uma prainha, tranqüilos e românticos... E eles iam chegar no dia 30 de dezembro! Fiquei imaginando as propagandas que devem passar lá na Europa, sobre esse réveillon! As imagens da praia devem ser feitas numa quarta-feira do mês de julho, né!
Bom, aí eu os busquei no aeroporto, e eles passariam o fim de semana aqui em casa. Fiquei dando uma de guia pela cidade e tal. No domingo, os levei num restaurante de comida baiana, na Vila Madalena. Soteropolitano, chama. Quando cheguei, estava me sentindo meio mal. Meio enjoado. Não consegui comer direito. Como que de ressaca, eu achei. Mas tomei muita Coca. Umas três latinhas. E me deu dor no corpo, febre e dor de cabeça. Parecia uma gripe forte. Voltei pra casa e capotei na cama. Acordei, no começo da noite, melhor. Aí resolvi pedir uma massa, pois não havia comido nada, praticamente o dia inteiro. Até que comi bem. E fiquei o resto do dia me sentindo razoavelmente bem. No dia seguinte, logo cedo, tipo seis da manhã, fui ajudar os gringos a pegar um taxi pro aeroporto... Meu, por isso que eu estava preocupado com o reveillon deles! Eles não se viravam, sabe? Imagina em Copacabana, na virada! Bom, mas beleza... Voltei a dormir, claro, e quando acordei de vez, estava bem. A Jack não queria, mas a convenci a ir pra faculdade, pois eu não sentia nada de errado. Logo que ela foi, resolvi dar uma arrumada em casa, já que os meus pais estavam chegando da fazenda, e a casa estava uma bagunça. Os gringos se mostraram muito folgados. Pra ter uma idéia da zona, deixaram toalha molhada em cima da cama... Não lavaram nem uma colher! Minha irmã diz que é um lance meio cultural. Parece que eles estão acostumados a não arrumar as coisas quando estão viajando, que é normal isso. Eu não sei, não! Achei que o combinado era eu ser apenas guia turístico, e não faxineiro do casal. Mas beleza, fui dar uma geral na casa.
 Quando estava arrumando a cozinha, comecei a me sentir meio mal, com um pouco de frio. Mas estávamos em novembro, em dias quentes. Terminei e fui tomar um banho, pra ver se passava. Não passou. Então fui deitar. Nisso, o Du ligou, pra ver se estava tudo bem. Ele almoçou com a gente no domingo, e viu que eu passei meio mal. Eu disse que estava, sim. Mas deu dez minutos e eu comecei a tremer. É, aquela tremedeira famosa, a bacteremia. Já expliquei bastante. Mas, recaptulando: É aquela que dá quando a casa cai! Você treme inteiro porque está com uma puta infecção generalizada. Mas treme mesmo, das orelhas aos dedos do pé! Aí, na hora já liguei pro Dú pra ele vir me buscar e levar pro hospital. Enquanto ele vinha, fui tentando controlar a tremedeira, senão não conseguiria chegar ao carro. Como era a 598751  vez que isso acontecia, eu fiz a tremedeira parar. Ele chegou muito rápido! Sério, deve ter tomado umas dez multas! Acho que falei assim pra ele no telefone: “vem pra cá que fodeu!”. É que eu não conseguia falar, e foi a melhor forma de resumir! E fomos pro Sirio. Chegando lá, a Daniela, assistente do Paulo Hoff, ao me ver, já me mandou pra UTI. Eu estava com a pressão “daquele jeito”, devido a uma sepsemia, que é a tal da infecção master mega trash plus rock’n’roll!
Nessas horas, uma coisa muito chata é dar a notícia pras pessoas. Claro, né! Como falar isso de uma forma suave pra quem sofre muito ao saber dessas coisas. Comecei pela Jack, que, tadinha, ficou toda se sentindo culpada por ter me deixado em casa. Mas nada a ver, já que eu que falei pra ela ir embora, porque estava bem! Ela ia adivinhar? Depois fomos avisar meus pais. O problema era que eles estavam na fazenda, em São Joaquim. Pra não deixá-los muito tensos e ansiosos na estrada – já que era óbvio que voltariam correndo quando soubessem – o Dú falou que eu tinha passado um pouco mal. Mas não disse nada de UTI. Depois disso, na UTI, já me sedaram. E falar pro Daniel, pra Stella e pras outras pessoas, foi problema pro Dudu! Eu soube depois que ele só falou pros meus pais que eu estava fodido e mal pago, quando eles chegaram ao hospital.
O que rolou, foi que os exames mostraram que o tumor tinha dado xeque-mate. Filho da puta. Ele barbarizou lá dentro, de forma que eu tive várias lesões e furos no intestino, vazou líquido e infeccionou tudo. Ele já não se restringia ao intestino. Estava pegando um pedaço do pâncreas, já tinha chegado ao estômago e estava chegando ao fígado. Ou seja, ou tirava o tumor, ou eu morria, pois ele estava matando os órgãos. Enquanto isso, eu permanecia apagado. Então, começaram a falar das alternativas. Ou a alternativa, já que a única opção era tirar o intestino inteiro, tudo que tivesse entre o duodeno e o reto, mais um pedaço do pâncreas e outro do estômago. Com essa notícia, todo mundo ficou meio atordoado. Nunca haviam nos falado disso, e pareceu algo surreal, meio bizarro mesmo! Como assim ficar sem intestino? E se fizermos um transplante? Não é possível transplante, diziam os médicos envolvidos. Imagina a discussão que não rolou! Minha família questionou muito e não teve respostas muito esclarecedoras. Muito menos, confortantes. Ouviram, inclusive, que era algo esperado. Essa situação, causada pelo tumor, era prevista! O que eles fizeram esse tempo todo, foi tentar adiar ao máximo que eu tivesse que extrair parte da minha barriga! Mas eles entendiam que isso era inevitável. E como eles falaram isso só naquela situação? Se eu não deveria saber, então quem deveria? Não era uma informação importante? Falaram, também, que transplante de intestino não era algo viável. E que, se existisse, era algo muito experimental e de altíssimo risco. Enfim, essa é só mais uma, não a primeira, das incoerências com as quais nos deparamos nessa intensa relação com médicos. Mas isso eu falo em um capítulo, separadamente. É um assunto delicado demais, que pode expor muita gente. Mas é minha história, diz respeito a mim, então eu posso falar. Mas, voltando, naquele momento, isso tudo  manteve uma boa dose de “ih, fodeu” no ar.
Mas depois eu continuo, senão fica muito longo esse post e ninguém agüenta, né! Beijo pra todo mundo!

2 comentários:

  1. Re tenho acompanhado os seus posts e imagino o quanto dificil foi e é para vc (e todos ao seu lado)! Mas por mais estranho que seja, acho importantissimo vc continuar na "epopéia" de dividir e contar os detalhes para quem não pode partidipar de sua história. Tenho certeza que além de iluminado você tem uma missão mais que especial aqui! Um grande beijo Alê.

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  2. Rene, é o Luis! Sempre leio vc, irmão!
    Desejo o melhor para vc sempre!

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