domingo, 20 de fevereiro de 2011

EPOPÉIA 13

Ooooopa!
                Então, hoje fomos no hospital pra ver uma febre e dor de cabeça que estão me enchendo o saco há uns dias. Mais porque minha mãe insistiu. Mandei um e-mail pro Rodrigo ontem e ele falou pra irmos hoje cedo ao hospital pra dar uma olhada. Aí chegando lá fiz uns exames de sangue e viemos embora. Mas eles acham que não é nada demais. É normal eu ter febre de vez em quando. É a reação do meu organismo se entendendo com os órgãos novos. Já aconteceu outras vezes. E o que rola é que fazem um monte de exames, sempre, e nunca acham nenhum motivo. Mas eu fui lá mais pra minha mãe ficar tranqüila. Segunda-feira voltamos lá pra conversar com o Rodrigo e eles devem ter o resultado dos exames. Tranquilo, não deve ser nada demais. E essa febre não me incomoda, o chato é a dor de cabeça, essa realmente enche o saco.
                Vou continuar a epopéia. Depois que eu fui diminuindo a morfina, o intestino começou a se entender melhor. Aos poucos foram liberando as comidas, até chegar a bifes e tal. Mas era muito ruim a comida. Muito ruim demais, então minha mãe trazia um rango de casa pra mim. Foi aí que eu passei a ter moral nas decisões gastronômicas lá de casa! Heheh Ela fazia qualquer coisa que eu pedisse, tadinha! E o chato dessa vez foi que meu paladar estava todo zuado, eu estranhava todas as comidas, quase. Mas até que não demorou pra eu voltar a comer normalmente. Foi a vez mais tranquila nesse sentido. Claro né, nessa época meu intestino estava inteiro ainda. Eu tinha todos os órgãos, de fábrica! Bom, aí me deram alta. Fui embora num sábado de muito sol. E esse caminho, do hospital pra casa me marcou muito, nunca esqueço. Foram o meu pai e o Du me buscar. E nesse tempo que eu fiquei internado, em nenhum dos quartos tinha uma janela que fosse pro céu. Era sempre grudada em outro muro. Então, quando eu estava indo pra casa, eu nem acreditava que estava vendo um céu azul. Acho que, mesmo se estivesse chovendo, já ia estar valendo! Então foi meio emocionante esse caminho pra casa, pra mim. Lembro direitinho dessa “carona”. Toda vez que eu tive alta, sempre foi uma sensação ótima. Mas aquela vez foi mais forte. Acho que por ser a primeira, e a primeira vez a gente nunca esquece né! heheh Mas sério, acho que depois eu fui até acostumando a ser internado e ter alta, aí não era mais esse lance todo quando eu tinha alta. Eu ficava feliz em sair do hospital, e só. Nada demais.
Eu lembro que tinha muita vontade de comer num japa, né! Mas era muita. Aí, assim que eu saí do hospital, no dia seguinte, eu acho, fomos num restaurante japonês perto de casa, o Kampai. Meu, lembro que não conseguia andar direito depois, de tanto que comi. Nossa, comi quase o mesmo tanto que costumava a comer. Barbarizei! Depois não conseguia nem esticar a barriga heheh. Mas foi bom! Eu sonhava com isso! Lembro que na época que eu estava sem poder ingerir nada, o que eu mais queria era água. Depois vinha uma coca com bastante gelo, depois um suco de laranja, também com gelo, e depois um japa!
Bom, depois da alta, começou então o tratamento. Eu tive ainda uns contatos com o Amsterdãm e o Dr. Arthur Ricca, mas foi só pra tirar os pontos da cicatriz da cirurgia e uma ou outra vez pra conferir se estava bem cicatrizada. O Amsterdãm eu nunca mais quis ver, depois que fiquei sabendo das paradas, e o Dr. Ricca foi mais natural. Ele simplesmente não era a pessoa para o meu caso. Ele mesmo tinha consciência disso. Pouco antes de eu ter alta, meu pai já havia se encontrado com o Dr. Paulo Hoff, e decidido que ele seria o “cabeça” do meu tratamento. Acho que eu já devo ter falado aqui, mas como agora estou contando a epopéia, acho legal apresentá-lo. O Paulo Hoff é oncologista do Sírio Libanês. Ele é considerado o melhor do Brasil, tratou, por exemplo, da Dilma Rousseff quando ela teve câncer, e é responsável pelo tratamento dos milhões de tumores que tem, e teve, o José Alencar. Aliás, várias vezes, em minhas internações, eu acordava com o barulho do helicóptero dessa galera chegando lá. Se você for ver, era sacanagem, só pra eles não serem incomodados, eles acordavam o hospital inteiro! Povo folgado, pô!
Uns quinze dias depois que eu saí do São Luiz, eu fui ao Sírio, conhecer o Paulo Hoff e ver o que ele tinha em mente. Mas, só pra constar, aquela não foi a primeira vez que fui ao Sírio. Eu tinha operado de apendicite lá, quando tinha 13 anos. Foi a primeira cicatriz da minha barriga! heheh E o Paulo Hoff falou que o caso era raro, não havia literatura médica a respeito, e que ele faria um tratamento testando diversos caminhos, até ver algum que funcionasse. Fiz também um monte de exames. Nesse dia o que ele recomendou foi apenas uma alta dose, 800mg, de Celebra, que é um antiinflamatório. Poderia funcionar. E ajudaria também a controlar um pouco os pólipos. Esse Celebra eu tomei durante todo o tempo, até tirar o intestino. Era sempre alguma coisa mais o Celebra. Ele cogitou a possibilidade de quimio, mas eu meio que fingi que não era comigo, não queria nem pensar nisso! Mas, depois de uma semana ou dez dias, tivemos uma nova consulta. E então ele falou que, na reunião com os colegas eles tinham concluído que a melhor alternativa era tentar uma quimio. E essas reuniões de “colegas” rolavam a cada uma ou duas semanas, eu acho. Era entre os médicos do Sirio, de várias especialidades, e eles levavam os casos mais complicados. Claro que o meu sempre estava entre os assuntos mais interessantes a serem discutidos, né! Mas quando ele me falou da quimio eu fiquei bem triste. E pedi a ele também pra me dar um tempo maior pra eu me recuperar, ganhar um pouco mais de peso e tal. E eu estava engordando rápido. Na verdade foi porque eu  fiquei com muito medo. Chegando em casa fiz uma lista gigante de perguntas. Ele mesmo aconselhou que eu fizesse.
Chorei bastante esse dia. Lembro de chorar ao telefone contando pra Jack. Pra mim era realmente uma tragédia ter que fazer essa quimio. Porque, além de ser um sinal que meu lance era grave pra precisar disso, pra mim, quimio era literalmente um bicho de sete-cabeças, ainda. Ficava me imaginando careca, sem sobrancelha... Pensava no mal-estar que rolaria, nos enjôos...  Enfim, era como se a quimio fosse uma nova doença por si só, pelo tanto de efeitos colaterais que provoca. Aliás, isso é um assunto interessante, pra um outro momento. Porque, realmente, muitos médicos hoje vêem esse tratamento como gerador de outros problemas, as vezes tão grandes quanto os que procura-se combater com a quimio. Talvez esteja na hora, ou já passou da hora, de evoluírem com a quimio pra que ela atinja somente as células do tumor, e não que entre no sangue e “abrace” todo o corpo. Pode até gerar outros tumores. Isso é verdade, mesmo. Algumas, ou muitas vezes, o lado prejudicial desse tratamento pode se equivaler a sua eficácia no que se propõe a fazer, o que põe em dúvida a sua aplicação em muitos casos, e questiona também essa devoção a quimioterapia que os oncologistas parecem ter. Ou mudem a forma de agir da quimio, ou encontrem alternativas a ela, não é? A tecnologia está aí, tudo é possível, acho que é mais uma questão de direcionamento das pesquisas.
Ih, escrevi demais, de novo! Vou dormir agora, amanhã eu continuo aqui!
Um beijo pra todo mundo! Saudade de vocês!

13 comentários:

  1. 20 de fevereiro.
    Faltam 7 dias!!!

    Fiquem com Deus!bjs!
    Kamila

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  2. Primo,

    Contagem regressiva...tá chegandoooo!!!

    Bjão!

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  3. que alegria primo estou lendo seu blog na regina é mesmo muito emocionante toda essa sua luta. que lição para todos nós !feliz retorno querido um beijo na santinha e e outro p voce ate aqui janua

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  4. Boa viagem de volta à vida!!!!!

    Renas, fala pra Santinha organizar os reencontros e nos pôr na fila...se tiver muita gente de uma só vez, não vai dar pra pormos a conversa em dia. Que tal distribuir senhas?!rsrsrs...
    Nossa ansiedade deve ser quase tão grande quanto a de vocês, viu?

    Que Deus continue abençoando vocês. Com carinho
    Tia Rosa

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  5. 21 de fevereiro.
    Faltam 6 dias!!!

    Fiquem com Deus! Bjs!
    kamila

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  6. “Ai ai ai ai, ta chegando a hora, o dia já vem raiando,meu bem, eu tenho que ir embora...”
    É isso ae, ta chegando a hora! Não dá para dizer “eu já sabia”. Mas, torcer, nós torcemos pra c...

    Conforme combinado no início do blog, to enviando, por e-mail, a listinha com as encomendas. Se você achar muito, 7 notebook, 6 Playstation 3 e 12 Ipad, pode reduzir um de cada. Os demais ítens que estão no e-mail, são “encomendas firmes” que já estão até pagas!!!

    Bjão!!!

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  7. oi Re que coisa boa então esta chegando a hora do retorno ao lar que maravilha, e avo mais nova da familia como esta sentido toda boba, a Estela nos supriente a cada momento, ela e uma pessoa muito quereira,e agora um beibe que coisa maravilhosaaaaa,o seu pai nem se fala,beijos a este tio querido e a vovó.

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  8. Ah.. que pena eu não poder ver vc chegar.. assim que estivermos em SP queremos marcar alguma!

    Bjs
    Miriam.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Rê,

    Desde que tudo começou, ficamos na torcida para que o "final feliz" logo chegasse.POde não ter sido rápido e muito menos fácil, mas chegou!
    Sempre emocionante ler os capítulos dessa história (narradas claro, com maestria) alguns mais marcantes como a realização do transplante, a ida ao Taco Bell, retirada da borseta e agora a volta para casa e pra tudo que a vida há de melhor!
    Parabéns por vcs nunca terem desistido(Tia Sil, minha admiração total)e pelo grande amor que vcs sempre tiveram pela vida...agora ela espera vcs de braços abertos!!!E nós também!!!

    Milhões de beijos
    Com muito amor

    Raquel

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  11. 22 de fevereiro.
    Faltam 5 dias!!!

    Fiquem com Deus!! Bjs!
    kamila

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  12. Rê, lendo seus posts - acumulei alguns com a correria desses dias - lembrei da piada do João no hospital e da sua esposa Maria, lembra?!!

    Adorei as fotos, as carinhas de dor, lembrei de quando fomos juntos raspar seu cabelo, de quando segurava a sua mão de "pão francês", do Sírio, da bomba de parenteral apitando a noite toda, de muita coisa.
    Lembrei tbm das suas piadas - algumas sem graça, mas fofas mesmo assim-, do seu jeito, do seu otimismo, força de vontade, do Samaro, de São Joaquim, da praia, do "só nos dois", dos filminhos, dos almoços de domingo...
    Quanto tempo, quanta coisa. Você é um guerreiro mesmo... Tenho muita sorte de participar da sua história, dessa epopéia.
    A saudade é muita, mas fico muito feliz de ver você melhorando.
    Espero que você volte o quanto antes pra te dar o famoso "esmaga" e não soltar mais. Força, porque agora é só alegria!

    Um beijo e uma abraço bem apertado.
    Jack.

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  13. 23 de fevereiro.
    Faltam 4 dias!!!

    Fiquem com Deus!!bjs
    kamila

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