quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

EPOPÉIA 9

Faaaala pessoal!
                Tudo bem por aí? Por aqui tudo certo! Estou me sentindo muito bem. Ainda não sinto fome, mas isso não tem atrapalhado em nada. Tenho comido muito bem, quase o mesmo tanto que comia antes de começar a treta. E não preciso forçar pra comer, como tranqüilo. Claro, ter uma cozinheira como minha mãe ajuda bastante, né. Não precisa ter fome pra comer seus pratos! E ainda mais que ela faz tudo que eu quiser, do jeito que eu quiser... É, vida de marajá, meu! Depois de tempos sem comer, agora estou só no bem bom. Depois da tempestade, a bonança! heheh
                E ontem rolou consulta com o Rodrigo. E ele estava ainda mais tranqüilo. Isso, mais até do que os resultados dos exames e o que ele fala a respeito, é o que me dá a noção de que estou, ou não, no caminho certo. É o meu recuperômetro! Heheh Beleza, essa foi ruim, eu sei... Mas, vai, vocês entenderam, né! Tipo, quando eu estava malzão, perdendo peso, com aquela rejeição e tal, ele ficava muito sério, preocupado. Não fazia brincadeira nenhuma, até me dava umas broncas. Ontem não, ele estava de bom humor, conversava com sorriso no rosto, ria das minhas piadinhas boas! Isso me mostrava que estava tudo no caminho certo, já que ele não tinha motivo pra se preocupar. E realmente, parece que está. Eu emagreci só um quilo e pouquinho, sendo que ele falou que seria normal eu emagrecer uns três. A cicatriz, que eu acho horrível, ele falou que está ótima, que não imaginava que estaria sequinha já, tão cedo. E eu falei sobre comida, sobre o lance da absorção. Aquela história de comer coisas de fácil digestão. Ele perguntou o que eu estava comendo, e eu disse que era uma dieta leve, baseada em acarajés e outros pratos da culinária baiana. Essa ele gostou, ficou meia hora rindo! Heheh. No fim ele falou que eu podia tomar mais remédio pra, digamos, segurar o ritmo das coisas aqui dentro! É, porque não lembro se falei aqui, até porque eu ainda não sabia direito. Mas eu não tenho o intestino inteiro. Tenho só o delgado, não o grosso. E o intestino grosso, no sistema digestivo, tem a função de reter os líquidos. Então, se vacilar, você acaba casando com a privada, né! Por isso que eu tomo esse remédio que ele falou, Loperamide. E está ajudando bastante. Mas com o tempo isso passa a não ser mais necessário. O intestino delgado começa a fazer a função do grosso. Integralmente. O Rodrigo falou que depois de uns anos, ao ver os órgãos, não dá pra dizer que a pessoa não tem o intestino grosso, tamanha é a adaptação que rola.
Mas é isso aí, acho que estou embalando de vez agora. Fico muito feliz de estar dando conta da minha única responsabilidade agora, que é me alimentar bem. E hoje eu saí de casa pela primeira vez desde que eu tinha colocado aquele tubo no nariz. Quase um mês! Claro que hospital não conta! Fomos ao shopping, pra variar. Foi mais pra dar uma movimentada, mesmo. Essa combinação, frio + roteiro da van, não nos deixa muitas opções! Mas me senti bem. Ainda não dá pra andar muito, pois logo começa a doer na região da cirurgia. Mas, de qualquer forma, foi bom sair. Aliás, eu estava lá comprando um lance pra beber, e colou um cara muito louco.Estava breacão. E eu até que estou entendendo bem o inglês, mas inglês de bêbado é foda. O cara chegou perguntando o que eu estava bebendo. Eu respondi, ele perguntou meu nome, e quando eu falei ele fez aquela cara de “ãh?” que todos fazem. Perguntou de onde eu era e eu falei. Até aí tudo bem. Agora olha a viagem do cara: “ah, eu sei, no Brasil vocês são muito ativos politicamente, né? Vão pras ruas brigar pelos seus direitos!” Eu não entendi, já que a gente só sai pra rua, revoltado, se o assunto é futebol. E ele continuou: “É, porque eu vi que vocês estão agora fazendo manifestações pra tirar o presidente do poder, ele é um ditador, né! E vocês estão se mobilizando! Muito legal! Mas e aí, ele já saiu, já renunciou?”. Meu, aí que eu me liguei. O cara estava achando que o Brasil era o Egito! Heheh. Aí eu desencanei de explicar, maior preguiça, imagina! E só falei que não, não tinha renunciado ainda. E o cara: “Que mother fucker! Tem que jogar mais umas bombs in his fucking ass!” heheh. Figura o cara!
Mas então, vou aproveitar agora pra contar um pouco mais do sonho doido, lá. Acho que está ficando cada vez mais confuso...
Eu estava no hospital né. Não sabia direito o que estava fazendo lá nessa hora, porque eu estava bem. Parece que eu só estava esperando alguma coisa... não poderia ir embora se não aparecesse alguém pra me levar. O problema é que eu não conseguia falar com ninguém. Aí a Stella apareceu. Eu estava na mesma cama, ou maca, da outra parte do sonho. Não lembro direito, mas teve uma história de como que ela apareceu lá... Ela participou de um trote que um pai deu na filha, uma brincadeira. Mas era um trote meio sem noção, que a menininha chorou pra caramba e tal. Eu lembro que vi esse trote pela TV e, quando vi que era a Stella, levei o maior susto. Aí, não sei como, ela foi aparecer no hospital. Na verdade, ela nem sabia que eu estava lá, foi coincidência. E ela estava bem cansada. Nós só tínhamos que esperar um pouco, me colocaram uma máscara de respiração e eu tinha que ficar com ela um tempo. A Stella ficou com a máscara também, deitada, em uma cama ao meu lado. Quando aquilo acabasse a gente ia embora. Eu fiquei tranqüilo, só pensava em contar pra ela sobre minha viagem pelo Brasil! Heheh Eu pensava muito isso durante o sonho, que ninguém ia acreditar quando eu contasse que havia rodado o Brasil todo e tal. E eu estava tão tranqüilo que consegui ficar com a máscara, e até dormi. Mas aí, quando acordei, a Stella tinha ido embora! E eu continuava lá. Fiquei sem entender “porque ela foi embora, o que aconteceu, porque não me acordou?”
Aliás, quando eu me via sozinho em algum lugar, quando não tinha enfermeiros comigo, eu começava a meio que grunhir! Sério, fazia uns sons bem estranhos, porque não conseguia falar, então eu fazia barulho o mais alto que eu conseguisse. Mas isso eu não sei em que momento que aconteceu, porque não foi só no meu sonho. Na verdade não rolou no sonho, eu acho. É difícil explicar. Porque eu realmente fazia isso. E bem alto, até disparar o alarme do quarto. E, com isso, os enfermeiros vinham correndo, mas depos ficavam irritados, porque eu não tinha motivo. Eu simplesmente não gostava, tinha medo de ficar sozinho, me dava um desespero e eu queria chamar a atenção, pra vir alguém. Eu ficava ouvindo os enfermeiros conversarem na copa e ficava até com raiva. Achava que tinha que ter alguém comigo! Quando eles vinham, depois do alarme disparar, perguntavam o que eu queria e eu não sabia. E nessas disparava o batimento do coração, eu começava a dar umas contorcidas na cama... Tudo sem que eu pudesse controlar. Simplesmente rolava. Era como se o meu corpo agisse sozinho. E ficavam me acalmando. Teve uma vez que foi até engraçado. Eu estava fazendo meus barulhos pra chamar alguém, e passou um cara que não era enfermeiro. Eu fiz uns gestos, misturados com barulho, pra ele chamar alguém. Aí, de longe, eu só ouvi isso:
- O paciente ali está chamando.
- Vê lá o que ele quer.
- Eu não, você viu o estado do cara, fazendo uns barulhos! Eu não chego perto dele,
 não senhor!

      Parece que eu assustei o tiozinho. E eu fazia tanto isso que depois de um tempo começaram a me chamar de louquinho da UTI! Heheh. Não sei, mas acho que não era por carinho, não, esse apelido...
                E mesmo depois que eu voltei do coma, eu continuava a ter muitas viagens. Teve uma enfermeira que eu lembro bem. Era uma mulher mais velha. Eu gostava dela porque era bem mãezona. Me contou que tinha três filhos. E esse dia me deram um lance pra eu dormir, porque eu não estava conseguindo. Me deram uma dose forte, eu capotei e voltei aos sonhos. E saí de taxi... Ela falou que eu estava internado a muito tempo e precisava sair. Chamou os filhos, um vascaíno e dois botafoguenses muito chatos, e rodamos a cidade inteira. Depois, na volta, estava muito calor, e eu fiquei na varanda do quarto um tempo, numa cadeira de rodas. Quando encontrei a enfermeira de novo, contei, empolgado, que tinha conhecido seus filhos, rodado São Paulo com um taxista louco, que corria pra caramba e tal! Ela só olhava e ria. E eu insistia, enquanto ela tentava, em vão, me explicar que eu estive o tempo inteiro dormindo na cama. Lembro que essa mulher era a melhor enfermeira. Ela fazia os curativos em mim no maior cuidado. Segundo ela, fazer curativo é uma arte! E meu, não é exagero não, viu. Porque tem uns que colocam de qualquer jeito, aí solta, ou então, na hora de tirar, quase arranca sua pele junto. Esse mulher não, tinho o maior carinho e tal... Durava um tempão os curativos dela.
                    É isso aí. Acho que com mais um post, eu termino esses sonhos. Aí volto pra epopéia. Quero terminar de contar ela antes de voltar. Ou melhor, terminar de escrevê-la antes que ela termine de fato! É até simbólico, né! Um beijo pra todo mundo aí!

3 comentários:

  1. Cara, que figura esse seu amigo do Shopping. Me lembrou o filme “Forest Gump”, a cada momento ele conhece uma pessoa diferente... e todas juntas formam a história do personagem...

    Você já tem vários “cases”; o cara do Supermercado, a mulher da sala de espera, esse doido... Existem outros pontos semelhantes, mas isso é outra história.

    Continue a narração dos sonhos, “tamo ligado”!

    Beijão pra vc e pra Tia.

    Pe

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  2. Oi Renas!! Sou a amiga do Pê...Giovana, de São Joaquim! Estou sempre te acompanhando...mas acabo não comentando porque acho que vc pode pensar...quem é essa doida que eu nem conheço???? Mas falei com o Pê e ele me disse que eu poderia comnetar sim que vc não vai pensar nada disso...
    Esotu muito feliz por vc e pela sua família...é um alívio saber que tudo está acabando com FINAL FELIZ....só queria te dar uma dica...junte seus posts e lance um livro no final de tudo!!! Vai ser um sucesso...uma saga das boas!!! Parabéns pelas vitórias...boa sorte pra sempre!!!! Abraços. GI

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  3. Primo,eu li um artigo e não tinha como não me lembrar de vc:

    "O termo Resiliência pode ser definido como a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade.
    Resiliência tem sua definição inicialmente na Física e significa a capacidade de um material de recuperar a sua forma ou posição original após sofrer choque ou deformação; elasticidade.
    Resiliencia é a capacidade de reverter uma situação adversa, de usar a força contrária de um dado evento a seu favor, de recuperar-se."
    Ou seja, resiliência, é uma capacidade de ultrapassar as dificuldades que a vida nos dá, sem esmorecer nem quebrar. Geralmente o resiliente (o ser que tem resiliência-o Renas) é uma pessoa que consegue fazer uma limonada com os limões da vida. Consegue tirar o melhor, por pior que pareça a situação em que se encontre.

    Parabéns,Renas!!!
    Vc e sua mãezona, são motivo de orgulho pra todos nós...

    Bjos, Ná

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