segunda-feira, 14 de março de 2011

EPOPÉIA 16

Faaaala!
                E aí, tudo certo?  Por aqui as coisas, aos poucos, estão melhorando, no esquema devagar e sempre. Estamos na expectativa de ir embora amanhã (terça-feira). O Rodrigo falou que eu tinha que voltar a comer normalmente, senão ele teria que colocar aquele tubo no meu nariz, pra eu tomar nutrição enteral. Isso porque eles não gostam que o paciente fique muito tempo na nutrição parenteral. Pelo perigo de pegar infecção. E também porque a nutrição enteral faz o intestino trabalhar, enquanto a parenteral pode atrapalhar o funcionamento do fígado. No ano passado eu tive hepatite várias vezes, já que a parenteral é “trabalhada” pelo fígado, e muitas vezes o sobrecarrega. Outra coisa é que eles também preferem te mandar logo pra casa, já que o hospital é um ambiente propício para infecções. E desde ontem eu voltei a comer quase como antes dessa última cirurgia. Acho que tenho grandes chances de ir pra casa amanhã sem o tubo no nariz. Vamos ver. A vantagem do tubo é que eu ganharia peso bem mais rápido. Mas é horrível comer com aquele tubo na garganta. É capaz até de eu não conseguir comer com o tubo. Então, eu prefiro continuar comendo bem do que engordar mais rápido. Já estou com um peso suficiente pra não dar problema com minha recuperação.
                Agora vou continuar a contar epopéia. Quando chegamos ao Sírio, já me internaram e falaram que eu faria alguns exames, e na manhã seguinte eles saberiam qual seria o procedimento. Mas adiantaram que a possibilidade de cirurgia era grande. Fiz vários exames durante a madrugada. Quando deu umas 7h da manhã, a Dr. Daniela apareceu no quarto dizendo que o tumor tinha necrosado em uma parte, e acabou enforcando uma parte do intestino, provocando uma fístula, pela qual estava vazando “coisa” do intestino. Isso provocou a sepsemia (infecção pesada), que gerou a febre, a tremedeira e tal. Foi aí que eu aprendi que tremedeira era sinal de que eu estava ferrado. Disse também que teriam que fazer a cirurgia. E aquela mesma história de sempre: Só saberiam o que seria feito quando abrissem minha barriga. Lembro que ela perguntou se tínhamos um cirurgião de preferência, confiável e tal. Como essa pessoa de confiança não existia, ela sugeriu o Dr. Fabio Ferreira que, na opinião dela, era o melhor pra fazer esse tipo de cirurgia.
                Não lembro que horas, mas nesse mesmo dia, 21 de outubro, eu entrei na faca! A cirurgia durou umas dez horas. Aí acordei em uma mini-sala, era tipo um box, fechada por uma cortininha bege. E estava com aqueles tubos na boca que me impediam de falar compreensivelmente. Sem falar nos já tradicionais mil tubos e drenos espalhados pelo corpo! Meu, fiquei muito assustado. Eu estava sozinho, sem saber o que tinha acontecido, e sem conseguir falar pra chamar alguém pra me explicar. Aí apareceu uma enfermeira e eu consegui perguntar pra ela onde eu estava. Quando ela falou que era a UTI, aí que eu fiquei desesperado. Claro, se estou na UTI é porque deu merda. Raciocínio lógico, né! Só não mijei nas calças porque tinha dreno até ali! E ela não sabia de nada do meu caso. Perguntei se podia ficar alguém comigo na sala, e ela falou que sim. Na hora pedi pra ligarem pra minha mãe, pedindo pra ela ir pra lá. Tadinha, ela tinha tomado alguma coisa forte pra dormir e não conseguia nem ficar acordada. E eu pilhado, querendo saber. Aí ela me acalmou. Disse que tinha dado tudo certo com a cirurgia. O que aconteceu foi o seguinte: eles não conseguiram acessar o ponto exato onde tinha rolado a fístula, pois o tumor estava em volta. Não daria pra fechar o buraco. Então eles tiraram toda a parte do intestino, a partir do ponto onde estava vazando. Esse pedaço foi 90 cm do meu intestino grosso. Pra quem não sabe, as pessoas tem entre dois e quatro metros e meio de intestino. Não sei quanto eu tinha no meu ex-intestino! heheh
                Eu passei só essa noite na UTI e no dia seguinte já fui pro quarto. Fiquei uns dias, acho que uma semana, sem poder comer. Tinha que esperar cicatrizar tudo lá dentro. Enquanto isso, eu ia mandando ver na morfina, claro. Eu sabia que ela atrapalhava o funcionamento do intestino, ainda mais um quase pela metade. Mas nos primeiros dias pós-cirurgia não tem como. É masoquismo ficar sem remédio. Aí, depois da primeira semana, ou dez dias, eu comecei aquele processo de voltar a comer, de novo. Mal sabia eu, que ainda passaria por isso mais duas vezes. Por isso que me irrito tanto com essa “etapa”. Não agüento mais sair de uma cirurgia e ter que reaprender a comer. É um saco, um esforço muito grande. A única parte boa é o primeiro gole de água. É difícil descrever a sensação, mas, nossa, eu até começo a rir de alegria. Pena que essa alegria dura pouco. É, porque você logo passa a ter que se esforçar pra tomar um copo de suco! Sério! Imagino que seja difícil imaginar como pode ser complicado uma coisa dessas. Mas é, e muito!                 
Bom, aí eu fiquei 21 dias internado. Foi a temporada mais curta que eu já passei em um hospital. Sim, mais curta. Isso porque não deu infecção nenhuma. Foi só esperar a dor aguda passar e outros detalhes que, sinceramente, não me lembro agora. Acho que devo ter ficado um tempo com antibióticos endovenosos e tal. E também fiquei em observação pra garantir que eu não teria mais infecções. No mais, foi aquela rotina gostosa de hospital, assistindo televisão, fazendo fisioterapia e acordando durante toda a noite em todas as horas pares. Bom, isso das horas pares eu falo brincando, porque só rola aqui nos EUA. Pois é, tem tanta coisa pra se distrair aqui que eu reparei nesse detalhe super relevante. Mas no Sírio não lembro quando as enfermeiras entravam. Sempre acendendo a luz (ou seria aquilo um holofote?), com uma bandejinha de remédios na mão e dizendo: “olá, trouxe uns remedinhos pra você!” E o que mais irritava era o sorrisinho no rosto! Nossa, e quando chegava 6h da matina e a enfermeira vinha e perguntava: “E aí, dormiu bem essa noite?” Nossa, aí dava vontade de matar! Olha, o meu poder de abstração foi bem exigido nessas internações. É, porque não dá pra mandar as enfermeiras pra aquele lugar. Elas devem ser treinadas pra agir assim. A culpa é do imbecil que as orienta. Mas que irrita, irrita. E quando eu estou de mal-humor então, nossa! Mas eu me contenho. Acho que isso deveria valer uns pontos lá em cima! heheh
Vou parando por aqui. Valeu aí, todo mundo. E continuem na torcida! Essa reta final está muito longa, está na hora de acabar, né! E depois eu reembolso o dinheiro das velas!

2 comentários:

  1. O Timão tem um novo goleador. William!
    Boa sorte aí na recuperação.
    Vc tá falando em dificuldade de comer. Eu lembrei quando a gente ganhava uma miséria de Visa Vale e ia comer o tempurá do japonês no estacionamento dele! Vc sempre comia uns 3, muito trash.

    Abs.

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  2. Só me lembro de ter esperado pelo Gandhi, nos nossos tempos de namoro,com a ansiedade de te esperar agora, Billy. Escrevi uma mensagenzinha (que palavrão!), no Skype ontem. Vocês leram?

    Beijos, abraços e apertos de mão...

    Tia Rosa

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